A dívida dos Estados Unidos foi rebaixada pela Standard & Poor's e, pela primeira vez em 70 anos, não é mais considerada "risco zero". Mas isso não é necessariamente o fim do mundo.
A reportagem é de Patrícia Campos Mello e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 06-08-2011.
Não se espera que, na segunda-feira, administradores de fundos, bancos centrais e instituições financeiras saiam correndo para se livrar de seus títulos do Tesouro americano, agora AA+.
Por um simples motivo: o mercado de títulos dos Estados Unidos ainda é o mais líquido do mundo, com US$ 580 bilhões negociados por dia -quase dez vezes mais liquidez que os gilts britânicos (US$ 34 bilhões) e os Bunds alemães (US$ 28 bilhões).
Ou seja, é extremamente fácil para o investidor comprar e vender Treasuries. Nenhum outro papel chega perto disso.
Portanto, parece improvável que investidores saiam vendendo os Treasuries para comprar títulos da Áustria, Noruega, Liechtenstein e Cingapura, que mantêm sua nota AAA, risco zero.
Os três mercados mais líquidos de títulos são EUA, Japão e Itália. Neste cenário, quem parece mais atraente - EUA, Japão (relação divida PIB de 220%) ou a Itália, a bola da vez?
Tendo dito isso, haverá grandes turbulências na segunda-feira. Em um movimento de correção, muitos fundos e bancos podem querer reduzir sua exposição aos títulos americanos, o que deve reduzir o preço dos Treasuries, elevando, assim, o retorno deles.
Um punhado de instituições financeiras com regras mais estritas terão de se livrar dos títulos americanos porque eles perderem a nota de crédito máxima.
E as chances de reeleição do presidente Barack Obama em 2012, que já estavam minguando com o espectro da volta da recessão, saem ainda mais arranhadas.
Um rebaixamento da dívida atinge em cheio a autoestima dos americanos. E a possibilidade de o governo Obama estimular a economia e evitar uma recessão de duplo mergulho fica ainda menor.
Com o rebaixamento, vai ficar mais caro para os EUA se financiar. Nas contas do JP Morgan, um downgrade levaria os juros dos Treasuries a subir entre 0,6 e 0,7 ponto porcentual -e isso custaria US$ 100 bilhões por ano.
Ou seja, os EUA vão pagar US$ 100 bilhões a mais em juros por ano -dinheiro esse que deixa de ir para escolas, requalificação de americanos desempregados que não conseguem se recolocar, infraestrutura, etc.
Obama, que já estava com as mãos atadas para estimular a economia por causa do acordo de ajuste fiscal para elevação do teto da dívida, terá ainda menos munição.
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