sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MÍDIA - É tempo de investigar a Fox News.

Do blog do Luis Nassif

Por foo

É hora de investigar a Fox News

Mentiras, factóides e assassinatos de reputação - o método Fox News de jornalismo

Desde o surgimento do escândalo da News Corporation no Reino Unido, jornalistas do outro lado do Atlântico tem buscado casos similares nas propriedades de Rupert Murdoch na América.

Esta investigação é certamente bem-vinda, e se for descoberto que sua corporação quebrou leis nos EUA assim como no Reino Unido, então os prêmios jornalísticos vão aparecer. Mas parece-me que estas histórias têm deixado de lado duas propriedades do portfolio de Murdoch que merecem o máximo de atenção.



Uma delas é o New York Post. Sob o controle de Murdoch, o Post passou a traficar o tipo de jornalismo de tabloide malicioso e sensacionalista praticado pelo agora-defunto News of the World, e o Sun. O jornal passou a destruir (e construir) políticos, atacar inimigos, e ridicularizar cidadãos comuns. O ápice de sua amoralidade se deu na recente cobertura do caso Dominique Strauss-Kahn, quando suas capas passaram, em questão de dias, de tratá-lo como "pervertido" e passaram a rotular sua acusadora como "prostituta" (pelo que ela está processando o jornal).

Ainda assim, os pecados do Post são pequenos se comparados com aquela que é a jóia da coroa de Murdoch na América, a Fox News. Desde o seu lançamento em 1996, a Fox teve um profundo e tóxico efeito sobre a imprensa e na política do país. Com uma audiência diária de 2 milhões -- mais do que a CNN e MSNBC combinadas -- ela se tornou o maior porta-voz do Partido Republicano. "Os Republicanos pensavam que a Fox trabalhava para nós, e agora estão descobrindo que nós trabalhamos para a Fox", observou David Frum, um ex-acessor de George W. Bush.

A Fox colocou diversos pré-candidatos a presidente republicanos em seu quadro de funcionários, e permitiu que tantos outros usassem sua programação para levantar fundos. Depois de aparecer no programa de Sean Hannity, por exemplo, o candidato ao senado de 2010 Sharron Angle celebrou ter levantado mais de $40,000 antes mesmo de ter deixado o estúdio.

A Fox ajudou a promover o Tea Party e amplificar sua mensagem. Nos dias que precediam as reuniões do Tea Party em 15 de abril de 2009, a Fox divulgou mais de 100 notas promocionais em sua cobertura sobre o movimento. ("Americanos indignados com impostos", dizia um; "Eles lutam por seu futuro"). A publicidade sem fim dada ao Tea Party, por sua vez, ajudou a vitória Republicana nas eleições parlamentares de 2010. (...)

Ao contrário do News of the World, não há indicação (pelo menos até agora) de que a Fox tenha se engajado em atividades ilegais. Mas o que ela fez foi violar todos os padrões éticos e jornalísticos. Ela alimentou teorias conspiratórias, mentiras deslavadas, acusou o Presidente Obama de terrorista, espalhou relatórios falsos de que ele teria estudado em uma escola islâmica, ofereceu espaço para Donald Trump para questionar a cidadania do presidente, e promoveu o "Climagate", uma falsa-controvérsia a respeito de emails vazados por especialistas em clima da Universidade de East Anglia na Inglaterra. De acordo com uma pesquisa de opinião realizada 6 meses após a invasão do Iraque, 67% dos espectadores da Fox News acreditavam que Saddam Hussein havia trabalhado junto com a al-Qaeda; outro relatório mostrava que 60% dos espectadores da Fox acreditavam que a maior parte dos cientistas haviam concluido que o aquecimento global não estava acontecendo. (...)

Politicians and journalists who criticize or challenge Fox often find themselves targeted. I know this from personal experience. In early 2009, I wrote a piece for the Columbia Journalism Review about the troubling excesses and outrages perpetrated during the 2008 presidential campaign by the right-wing media, including radio talk-show hosts, bloggers, and, most egregiously, Fox, which repeatedly sought to tie Obama to Bill Ayers, Louis Farrakhan, ACORN, and the like.

Políticos e jornalistas que criticavam ou questionavam a Fox frequentemente se tornavam alvo. Eu sei disso por experiência pessoal -- no começo de 2009, escrevi um artigo para o Columbia Journalism Review sobre os excessos durante as eleições presidenciais de 2008, incluindo radio, bloggers, e, mais extensivamente, a Fox, que repetidamente tentou ligar Obama com Bill Ayers [NT: terrorista norte-americano da década de 70]; Louis Farrakhan [NT: lider da Nação Islâmica nos EUA]; ACORN [NT: associação comunitária de esquerda, falida em 2010]; etc.

[Isso tudo lembra a campanha midiática feita contra Dilma, com direito a capa com ficha falsa de terrorista, questionamentos religiosos, e ligações com grupos radicais de esquerda.]

A única pessoa a regularmente questionar a rede de televisão foi Jon Stewart. Noite após noite, seu "Daily Show" apontava os exageros da rede. (...) No show do último dia 27, Stewart ridicularizou o esforço da rede para negar que o assassinato em massa na Noruega havia sido feito por um cristão, apesar das declarações do próprio assassino, e um documento de 1500 páginas pedindo para o "ocidente recuperar o reino de cristo dos infiéis". A prontidão de Stewart para questionar a Fox (bem como a MSNBC e CNN quando merecido) ajudou a estabelecer sua reputação como o maior crítico da mídia nos EUA.

O que explica a reticência da maior parte dos jornalistas com relação à Fox? Medo sem dúvida é um fator. Ninguém quer ser emboscado por uma das equipes de filmagem ou atacado em um show de televisão. Alguns jornalistas se preocupam que, se eles investigarem a Fox, eles serão acusados de ser de esquerda. Outros negam a influência da Fox. Os críticos de televisão do New York Times dedica mais atenção aos reality shows do que à Fox (ou a qualquer outro canal de notícias).

Mas a influência da Fox parece estar aumentando, e isso se tornou preocupantemente aparente durante o debate sobre o aumento do teto da dívida. A intransigência e o extremismo demonstrados por muitos republicanos no congresso foram possibilitados ou forçados pela Fox e seus comentaristas no rádio e televisão. (...)

O cone de silêncio sobre a Fox por parte das outras organizações de mídia ajudou a rede a avançar sua agenda. É tempo de quebrar isso. Existe tanta coisa sobre a Fox que merece ser investigado. De que natureza são seus laços com o Partido Republicano? Com o Tea Party? Aos think tanks conservadores, lobbies, e organizações comerciais? No ano passado, a News Corporation deu $1.25 milhões à Associação de Governadores Republicanos, e $1 milhão à Câmara Americana de Comércio; como isso afetou sua cobertura?

Também devemos examinar o que parece ser a natureza orquestrada da programação da Fox. Em dezembro passado, um email vazado mostrou ordens para que os jornalistas da emissora "evitem dizer que o planeta aqueceu (ou resfriou) em qualquer frase sem apontar em seguida que tais teorias são baseadas em dados que críticos questionam". Durante a campanha de 2008, um memorando apontava as referências de Obama ao socialismo, liberalismo, marxismo e marxistas em seu livro "Sonhos de meu Pai". (...)

No ano passado o New York Times enviou três reporteres investigativos a Londres para vasculhar as práticas do News of the World. Depois de cinco meses de relatório, eles produziram uma história que, junto com uma outra investigação do Guardian, ajudou a criar o escândalo sobre o jornal. Por que não devotar esforços similares à Fox, um canal muito mais influente em território nacional?

No Reino Unido, foi preciso a revelação de um esquema de hack de telefones para dar um duro golpe contra o estilo-Murdoch de jornalismo. O que será necessário aqui?

http://www.nybooks.com/blogs/nyrblog/2011/jul/30/its-time-scrutinize-fox/

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