terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

FUTEBOL - Entrevista com o Sócrates.

Revelações bombásticas do cronista esportivo Jorge Kajuru. Entre outras coisas, ele revela que Sócrates estava desencantado e queria mesmo morrer.
O comentarista Mario Assis nos envia uma entrevista impressionante do jornalista Jorge Kajuru, publicada pelo site da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos. Infelizmente, o texto circula na internet sem assinatura. Quem souber o autor, nos informe, para que providenciemos o crédito.

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O que você fez pior na sua vida?

Tentei me suicidar. Tomei 20 comprimidos de Dormonid, remédio para dormir. Estava impotente e havia perdido o globo ocular do meu olho direito. No olho esquerdo já tinha apenas 18% de visão, tudo por causa da diabetes. Teria de colocar prótese. Não queria que ninguém me visse assim. Havia perdido também um programa na tevê e um processo na justiça. Estava sozinho, sozinho, sozinho… Preferi tomar as pílulas e morrer. Mas me encontraram a tempo e levaram para o hospital e me fizeram lavagem estomacal e me salvaram a vida. Hoje compreendo que fui fraco. Sobrevivi e Deus me deu a oportunidade de reconstruir a minha vida. Se eu aceitei me expor para você é para que o eu sirva de exemplo para quem está sofrendo como eu sofri. E pensa na morte como solução. É o maior erro, a maior derrota. É jogar o que temos de melhor: a vida. Foi o que eu fiz de pior para mim mesmo. O meu maior inimigo sempre foi Jorge Kajuru.

Mas você sempre foi uma pessoa muito cercada de amigos, mulheres…

Olha, nesta vida há muita falsidade. Amigos de verdade eu tenho pouquíssimos. Datena, Juca Kfoury são meus irmãos. Mas o maior deles, o que daria tudo que tem por mim, acabou de morrer: o Sócrates. Aliás, eu tenho convicção de que ele se matou…Vou mostrar como eu fui amado. Tive 14 mulheres com quem morei junto. Casei com oito. Quatro no papel. Hoje eu sei que duas amaram o Jorge. As outras 12 amaram o Kajuru. O glamour dos meus relacionamentos com atores, cantores, jornalistas, pessoas famosas. Nunca tive essas mulheres de verdade. Elas queriam a minha companhia para ter acesso a uma vida de badalação, aparecer em tevê, revista, jornal.

A pior coisa da vida é perceber que alguém está na sua cama por interesse em qualquer coisa, menos em você. E as pessoas sempre sabem que estão sendo usadas. Eu tentei mentir para mim mesmo e tentar salvar algumas relações. Foi impossível.

E vou contar mais. Essas mulheres acabaram com o meu patrimônio. Todas as vezes que me separei deixei casa, carro. Sou um banana na hora de dizer adeus. E encontrei muita aproveitadora, mesquinha. Me acho tão esperto, mas a última mulher por quem me apaixonei eu levei para a minha casa no Rio de Janeiro.

Depois de um mês, a mulher rouba tudo o que tinha pela casa. Eu sou assim, quando eu amo, confio, dou a vida. As mulheres me fizeram de gato e sapato. Dilapidaram o meu patrimônio. Se não fosse por elas, estaria rico.

Explique essa história de que o Sócrates se matou. Ele não bebeu a vida toda?

Bebeu. Eu o conheço desde os 14 anos em Ribeirão Preto. Um gênio, inteligente, talentoso, grande amigo, alegre, o irmão que não tive nesta vida, já que sou filho único. Beber era a sua alegria. Sempre soube disso. Mesmo quando jogava futebol. Quando parou, continuou bebendo. Eu falava, mas nunca dei aquele esporro que ele merecia para parar porque achava que ele era médico. Sabia até onde poderia ir. E a situação estava mais ou menos controlada até que ele se separou da mãe do seu filho Fidel. Ele tinha adoração pelo menino. E a mãe, magoada com o Sócrates, o proibia de ver o garoto. Essas coisas terríveis de separação. Ele ficou desolado.

Um dia me chamou para conversar e me disse: “Kajuru, perdi a alegria de viver. Eu quero morrer”. Fiquei louco tentando animá-lo. Mas não teve jeito. O Sócrates começava a beber de manhã e só parava de madrugada. Ele ia me visitar no Rio e entrou neste processo. Por isso que eu digo que se suicidou de tristeza por causa do filho. Quando ele soube que estava com cirrose, não se importou. Foi internado quatro vezes e não três. Uma já em Ribeirão Preto.

Quando saiu da última vez, tinha de seguir um regime terrível para tentar se segurar e esperar um transplante de fígado. Mas ele optou por morrer. Continuou a beber. Dias antes da última internação, ele tomou garrafas de vinho. Queria e conseguiu morrer. Ah, Magrão…Você não sabe a falta que você me faz…Tem uma coisa que eu quero tornar pública sobre a internação dele.

O que é, Kajuru?

Quero revelar a indignação da famílida do Sócrates com o Andrés Sanchez. A insensibilidade deste homem não tem tamanho. Não quero nem falar sobre todas as homenagens que o Magrão deveria ter recebido do Corinthians e não recebeu. Esse presidente é pequeno e a história vai colocá-lo no seu devido lugar. O Sócrates nunca quis a menor proximidade dele porque sabia da ligação profunda com o Ricardo Teixera, com o Lula, com o Ronaldo. Gente que não merece o que tem.

Na primeira internação, o Sócrates já estava muito mal por causa da cirrose. Quando chega no hospital um pacote imenso. A família pensou que fosse um presente. Quando o pacote foi aberto, a surpresa. Dentro dele estavam milhares de folhas de sulfite com as contas do Corinthians. Andrés mandou entregar para o Sócrates quando ele estava recebendo a sentença de morte no hospital. Ele teve milhões de chance de entregar essas contas quando o Magrão estava forte, trabalhando no Cartão Verde. Esperou ele estar à beira da morte.

Me dá nojo quando lembro dessa situação. E as homenagens que o Corinthians deveria fazer a ele nunca acontecerão enquanto Andrés e seus amigos estiverem mandando no Corinthians. Nunca. Por que o Sócrates nunca se dobrou à essa gente. Não vou falar o que realmente penso sobre o Andres por que não quero mais processos na minha vida. Só lamento o Corinthians estar entregue a essa pessoa.

Mas não quero falar do Andres e sim lembrar que o Sócrates por exemplo salvou a minha vida. Estava depressivo em um condomínio afastado de Ribeirão Preto. Continuava pensando em morrer, quando o Magrão foi meu herói. Arrombou a porta que eu deixava trancada para não receber ninguém. Arrombou e me levou para a sua casa. Cuidou de mim como um irmão mais novo. Ninguém faria isso, ninguém seria tão solidário. Eu não tenho palavras para agradecer o que esse homem fez por mim.

Em 2003 você recebeu um famoso convite para trabalhar na TV Globo, não foi?

Foi. E acredito ter sido o único jornalista esportivo do País a dizer não para a Globo. Eu cresci vendo o João Saldanha. Juca Kfoury me ajudou a enxergar o que é realmente a Globo. E como ela usa a sua proximidade do poder para fazer o que quer com o País. Ela mascara tudo. Principalmente o futebol. Fica fazendo lavagem cerebral mostrando dribles, gols, torcida. E esconde da maneira mais indecente possível o que acontece fora do campo. Eu tenho condições de falar porque recebi a proposta de trabalho e sei como é. Fui em quatro reuniões com o Galvão Bueno e a cúpula da Globo para conversar. O diretor de Esportes da Globo, Luiz Fernando Lima, me mostrou como as coisas funcionam por lá. “Você não pode reclamar do horário do jogo. E muito menos falar mal do Eduardo Farah (na época, presidente da Federação Paulista de Futebol). E muito menos de Ricardo Teixeira. Eles são nossos parceiros.” Assim. na cara dura. Sem a menor vergonha.

Eu comandaria o Globo Esporte, comandaria uma mesa redonda no Esporte Espetacular. E ainda faria um quadro no Fantástico com a Ana Paula Padrão. Seria a Bela e a Fera. Fui nestas reuniões para saber de verdade como a TV Globo trabalha. Percebi como ela se tornou poderosa. Principalmente no esporte. Disse não à Globo ao vivo, na TV Bandeirantes. Ninguém acreditou. Galvão que é meu amigo, queria me matar. Mas fiz o que a minha consciência, meu coração mandou.

O que você acha da Copa do Mundo no Brasil?

Torço como um desesperado para o Brasil fracassar, seja derrotado. Há um estudo feito pela USP e pouco divulgado mostrando que o Brasil teria um progresso de 20 anos se o dinheiro que será gasto na Copa e na Olimpíada fosse aplicado em obras sociais. Não temos saúde, segurança e educação. Mas colocamos bilhões de dólares em estádios que não precisam ser construídos. Só por causa de pessoas como Ricardo Teixeira e Lula, que só pensam nelas e colocam o interesse de milhões para trás.

Eu quero falar que estou extremamente decepcionado com o Ronaldo. Ele se prestar a escudo de Ricardo Teixeira joga no lixo a sua imagem. Sua carreira maravilhosa já lhe deu milhões. Mas ele tem uma ganância inacreditável. Quer ganhar muito mais a qualquer custo. Ele não falou que o Ricardo Teixeira tinha dois caráteres? Quem é que tem dois caráteres agora: ele ou o Ronaldo? O Pelé também é outro. Se juntou ao Teixeira que até tinha processado.

Será que sou louco ou mesmo com apenas 18% da visão estou enxergando mais do que muitos? O Ricardo Teixeira é um câncer para o futebol brasileiro. Pensa que o futebol é dele e faz o que quer. Só que eu aviso agora para quem puder ler essa entrevista. Pior do que ele só o Andres Sanchéz. Ele é dissimulado. Tem ligações poderosas.

O estádio de Itaquera, de um bilhão de dinheiro púbico, saiu graças a uma birra com o presidente do São Paulo. Ele vai fazer muito mal ao futebol brasileiro se chegar ao comando. Será pior do que o Teixeira. Eu estou falando publicamente só um pouco do muito que sei.

E do Mano Menezes, o que você acha?

Ele é o técnico do Andrés, do Ronaldo, do Ricardo Teixeira. É do time?. Não vou falar mais nada para não ser processado. O Muricy Ramalho nunca daria certo trabalhando com esse tipo de gente. Eu lamento demais a Seleção Brasileira por quem o povo é apaixonado estar nas mãos destes homens. Eu lamento.
Tribuna da Internet

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