Do blog do Ricardo Kotscho.
Marta bate o pé e não quer saber de Kassab
A ex-prefeita Marta Suplicy não poderia ter escolhido melhor o dia e o lugar para mostrar toda sua mágoa com a direção do PT que a impediu de tentar mais uma vez voltar ao cargo de prefeita de São Paulo.
Em Brasília, após a reunião do diretório nacional e na véspera da festa de 32 anos do partido, Marta tinha todas as câmeras e microfones à sua disposição para detonar a aliança que o PT paulistano está costurando com o PSD do prefeito Gilberto Kassab.
Era o álibi que Marta esperava para justificar sua notada ausência na coordenação da campanha de Fernando Haddad, o ex-ministro da Educação escalado por Lula para defender a camisa do PT em São Paulo.
Antes de perder a vaga, Marta liderava todas as pesquisas de intenção de voto, mas seus índices de rejeição também eram altos, principal argumento utilizado pelos que não queriam sua candidatura.
Fez biquinho, engoliu em seco e tratou de garantir mais um ano na vice-presidência do Senado, rifando o acordo de revezamento que havia feito com o senador cearense José Pimentel.
Garantida no trono ao lado de Sarney, foi contemplada também com a indicação de seu ex-secretário Jilmar Tatto para novo líder do PT na Câmara.
Lula e o PT se empenharam para fazer agrados e trazer Marta de volta ao ninho, mas a decisão de abrir negociações com Gilberto Kassab, seu maior inimigo político na cidade, ao lado do ex-aliado José Serra, foi demais para o orgulho e o estômago da ex-prefeita.
Marta resolveu chutar o balde em Brasília, comparando a aliança com Kassab a um pesadelo. "Corro o risco de acordar de mãos dadas com Kassab no palanque", disparou, descartando qualquer acordo com o prefeito.
Afinal, nas últimas eleições paulistanas, em 2008, Marta enfrentou uma campanha duríssima contra Kassab, Serra e Alckmin, na época da aliança PSDB-DEM (hoje rebatizado de PSD).
Após pesada troca de acusações e insinuações, Kassab acabou vencendo no segundo turno e procurou de todas as formas desqualificar a administração petista.
Na Câmara Municipal, os vereadores do PT passaram os últimos quatro anos batendo duro no prefeito, qualificando sua gestão de elitista e higienista.
Como explicar agora aos militantes e aos eleitores, principalmente os da periferia, que sempre acompanharam Marta nas eleições, esta estranhíssima aliança com Kassab, que já chamei aqui de casamento de jacaré com rinoceronte?
Claro que o PT não está conversando com Kassab sobre afinidades programáticas nem projetos para melhorar a vida de quem mora nesta cidade, nem mesmo está atrás dos votos dele, até porque o prefeito tem altíssimos índices de rejeição.
Também não é por causa do tempo do PSD na televisão, que não passa de um minuto ( o partido ainda tenta conseguir mais alguma coisa no TSE).
Os olhos de Lula e Dilma miram não a eleição deste ano, mas a de 2014, tanto no plano federal como no estadual, em que o maior objetivo do PT é isolar o PSDB e, principalmente, José Serra, que levou Kassab para a prefeitura como vice em 2004.
Além disso, o prefeito oferece um respeitável dote político, dono da terceira maior bancada na Câmara. O PSD poderá ser muito útil para quebrar 20 anos de domínio do PSDB em São Paulo e ajudar na reeleição de Dilma, se algum dos atuais partidos aliados roer a corda.
Para Kassab, já que não tem candidato para ganhar as eleições, melhor mesmo é se aliar ao PT e assim escapar de ver sua administração bombardeada durante a campanha eleitoral.
Resta saber se vale a pena perder o apoio de Marta, tão necessário para apresentar Fernando Haddad ao eleitorado paulistano, para andar por aí de mãos dadas com Kassab, e correr o risco de confundir o eleitorado em outubro.
Virgem em campanhas eleitorais, como Dilma Rousseff era em 2010, Fernando Haddad conta com o apoio decidido de Lula, mas carrega também um passivo de ex-ministro envolvido nos rolos do Enem, polêmicos livros didáticos e de um tal de "kit-gay", que já está atiçando seus adversários na campanha.
Por enquanto, ainda não está definido quem será o candidato anti-PT desta vez. Se Kassab indicar mesmo o vice de Haddad e romper a velha aliança com os tucanos, Alckmin terá dificuldades para carregar um candidato sozinho, qualquer que seja.
Por ironia do destino, sem ser candidata, Marta poderá ser o fiel da balança desta campanha municipal ainda absolutamente indefinida na maior cidade do país. E ela sabe disso para valorizar o seu passe. Acima de tudo, Marta é Marta.
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