quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

GRÉCIA: Resistir nas ruas ou render-se à servidão financeira.

GRÉCIA É UM PROTETORADO DOS GRANDES BANCOS INTERNACIONAIS

"GRÉCIA É UM PROTETORADO DA BANCA"

Por Saul Leblon

“O 'acordo' de ajuste assinado entre Atenas e a troika do euro [FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] na madrugada de ontem, 3ª feira (21), em Bruxelas, passará à história como o mais draconiano e humilhante exemplo da rendição de um país aos mercados em tempos modernos. O que se deliberou é pior até que os termos devastadores do Tratado de Versalhes, de 1919, que colocou a derrotada Alemanha da Primeira Guerra de joelhos, impondo-lhe reparações equivalentes a 3% de um PIB em frangalhos, ademais de autorizar os saques de fábricas e da então poderosa marinha mercante germânica.

A pilhagem associada à crise mundial de 29 esfarelou a moeda alemã e exauriu a poupança das famílias. O desespero e a hiperinflação pavimentaram a chegada de Hitler ao poder. Em 1933, a ascensão nazista jogou o mundo na Segunda Guerra Mundial.

Negociador pelo lado britânico em Versalhes, Keynes renunciou à missão em protesto contra o massacre. Em 1920, escreveria 'As Consequências Econômicas da Paz', antecipando o desastre em marcha. O que se decidiu em Bruxelas neste 21 de fevereiro de 2012 conecta as gerações gregas do presente e do futuro a um implacável sistema de transfusão que as condena a servir aos credores até a morte. Todo o dinheiro do 'socorro' acertado (130 bilhões de euros) - liberado em troca de demissões em massa, corte de salários e aposentadorias, vendas de patrimônio público, supressão de serviços essenciais e até de medicamentos à rede pública de saúde - não poderá ser tocado pelo Estado grego.

Depositado em conta bloqueada e supervisionada por um diretório do euro, o recurso será destinado, prioritariamente, ao pagamento de juros aos credores. Troca-se, assim, um desconto de 53% sobre papéis que enfrentam desvalorização de mercado superior a isso, por juros sagrados. Ao aceitar a lógica da coação, Atenas renunciou, ainda, à soberania orçamentária. A partir de agora, as contas do país passam à condição de protetorado de uma junta da "troika" sediada fisicamente no coração do Estado grego, com poder de veto sobre decisões de governo.

Dentro de dois meses, a Grécia vai às urnas eleger novo parlamento. A esquerda tem 40% das intenções de voto e mais de um centurião do governo alemão já sugeriu adiar o pleito, para "o bem do ajuste". O que se acertou em Bruxelas na madrugada de ontem, 3ª feira (21), foi ainda pior: a troika arrancou de Atenas a promessa de que o acordo está acima do que decidirem as urnas em abril. Em outras palavras, a elite política grega comprometeu-se, também, a ceder a soberania democrática aos mercados, tornando inalteráveis os termos do arrocho. Ao reduzir uma nação a uma entidade excretora de juros, expropriada de soberania orçamentária e política, Bruxelas, involuntariamente, emitiu a mais pedagógica e contundente convocação à resistência contra a agenda ortodoxa dominante na UE. De agora em diante, fica claro que a escolha é resistir nas ruas ou render-se à servidão financeira.”

FONTE: postado por Saul Leblon no site “Carta Maior”

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