Por Fábio Lúcio
Os braços do povo são uma incógnita, irascíceis e infiéis. Imprevisíveis. Jânio Quadros jogou fora um mandato presidencial porque confiou neles, e a UDN, por mais que tentasse, nunca arrancou Getúlio deles. Para a esquerda pré-Lula, incluindo Prestes e Lamarca, os braços do povo sempre deram de costas e nunca estenderam a mão. Agora, é evidente que José Serra está armando um retorno nos braços do povo, ou pelo menos o povo do qual o PSDB dispõe (Alberto Goldman, ALoísio Nunes e o diretor de redação do Estadão, que está em evidente campanha diária). Voltar "nos braços do povo", ou "ante os clamores de um partido rachado", para unificá-lo, seria o cenário que voltaria a legitimá-lo entre os tucanos. Mas não parece fácil fechar a equação.
Ocorre que o PSDB tem dois probvlemas que não parecem facilmente transponíveis para cair gostosamente nos braços do povo.
Primeiro: apóia-se numa classe média que não gosta de política ou de militância. No máximo, protesta randomicamente e genericamente (contra impostos, contra políticos, contra a corrupção), da forma mais genérica possível, sem propor uma nova lei tributária, sem nomear os políticos, sem ofender os corruptores. Essa massa está cada vez mais mostrando seu ideário fútil, estimulada pela OAB e por professores de universidades conservadoras, por exemplo, em movimentos não legitimados pelo "braço do povo", não nasceram nem foram embalados ali.
Segundo: a mesnagem principal do PSDB (queremos o lulismo fora!) não basta. O PSDB tinha que ter algo mais, alguma proposta que atingisse o mundo real, a economia real, a sociedade onde está os votos, uma proposta orgânica que não orbitasse em torno do lulismo, mas que buscasse um percurso próprio de evolução. Tem São Paulo e Minas, dois dos estados mais dinâmicos do país, podia pensar câmaras setorias, investimentos conjuntos, qualquer coisa que mostrasse ao povo uma ação virtuosa.
Sem isso, me parece pouco provável que os braços do povo se abram a eles.
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