Nomeação do ex-presidente brasileiro seria símbolo de uma nova configuração na economia global.
Por Gregory Chin*
O anúncio da saída de Robert Zoellick da presidência do Banco Mundial gerou um novo debate sobre sua sucessão, e cada vez mais vozes pedem o fim da tradição da seleção automática de um norte-americano para o cargo. Num momento em que as economias avançadas certamente prefeririam corrigir os desequilíbrios macroeconômico no comércio e nas finanças, para os países do Hemisfério Sul, os desequilíbrios também existem na representação dos dois hemisférios nas instituições globais.
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O Brasil está entre os países que pedem um equilíbrio maior. “Não há razão alguma que faça com que o presidente seja obrigatoriamente de uma nacionalidade específica. O escolhido deveria ser simplesmente alguém competente e capaz”, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Nossa meta é fazer com que os países emergentes tenham a mesma chance de competir pela liderança dessas organizações multilaterais”.
Mantega não precisa ir muito longe para achar um candidato. Que tal Lula?
Sob sua liderança, entre 2003 e 2010, o Brasil sobreviveu fortemente à crise financeira global. Seus bancos e multinacionais continuaram a crescer no mercado mundial. Lula foi um dos líderes mais carismáticos do hemisfério Sul na última década, e seus desempenho foi marcante nos encontros do G20, onde ele não hesitou em apontar os culpados pelo estado da economia mundial e exigiu reformas para corrigir acordos de representação obsoletos no sistema econômico global.
Suas credenciais como um grande nome das economias emergentes são fortes. Ele viajou o mundo defendendo laços mais fortes entre os países do sul, inclusive com os africanos, e uma maior cooperação dentro do grupo dos BRICs, além de apoiar fóruns regionais na América do Sul. E Lula também exigiu um papel maior dos países emergentes nas decisões e nos planejamentos globais.
Lula é respeitado por formadores de opinião no Hemisfério Norte. O Brasil deu contribuições importantes para instituições multilaterais dentro do sistema das Nações Unidas, e dando mais dinheiro do que a China à Associação Internacional de Desenvolvimento, o fundo do Banco Mundial para os países pobres. Tanto a Chatham House, de Londres, quanto a Sciences Po, de Paris, deram a Lula prêmios de “figura do ano”.
A nomeação do ex-presidente não resolveria por si só os desafios de legitimidade que o Banco Mundial enfrenta. Embora esses problemas não sejam tão graves quanto os do FMI, não se pode esquecer que foi apenas há quatro anos que o Banco nomeou seu primeiro economista-chefe oriundo de um país emergente: um chinês. Logo, o simbolismo da nomeação de alguém como Lula certamente não passaria despercebido.
Para os Estados Unidos, seria uma quebra com seu lugar cativo na presidência, e isso poderia ser enxergado como um risco no momento em que muitos ao redor do mundo questionam o modelo de desenvolvimento que o Banco Mundial deveria promover. A crise financeira global abalou as convicções existentes.
No entanto, com Lula como presidente, o Banco seria liderado por alguém que lutou bravamente por democracia, igualdade e justiça social. Haverá um acordo, pelo menos em algum nível, sobre o que representa um bom modelo de governo.
Para os poderes tradicionais e de outrora, essa coroação de Lula não deveria ser subestimada. Se, por razões de saúde, ele preferir não aceitar o cargo, algo perfeitamente compreensível, deve-se então buscar alguém com credências similares.
* Professor da York University, no Canadá
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