Ricardo Kotscho.
Foi-se o tempo em que a posse de um novo ministro de Estado representava um importante evento político no Palácio do Planalto, com o pátio do aeroporto de Brasília lotado de jatinhos. No governo de Dilma Rousseff, a queda e a posse de ministros transformou-se numa modorrenta rotina burocrática que nem merece mais manchete de jornal. Virou notícia de pé de página.
Entre outros motivos, esta desimportância da cerimônia de mudança de ministros deve-se ao fato de que nada muda no quadro político e muito menos nas nossas vidas saber quem sai e quem entra porque uns e outros pertencem aos mesmos partidos e adotam as mesmas práticas.
No caso de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), 42 anos, empresário, engenheiro e administrador, um obscuro deputado federal em primeiro mandato, que foi empossado por Dilma no Ministério das Cidades na segunda-feira, provavelmente nem mesmo a presidente o conhecesse antes de ser indicado para o lugar de Mário Montenegro por Francisco Dornelles, o presidente do PP.
Levado para o PP pelas mãos de Paulo Maluf, filho de tradicional família do semi-árido paraibano, que se notabilizou no combate aos líderes camponeses, a única novidade na sua posse foi o fato de ele já chegar ao governo cercado de denúncias e desconfianças sobre a sua atividade política e empresarial. Como disse o cientista político Rubens Figueiredo, com Aguinaldo Ribeiro a presidente Dilma "inaugurou o Ministério porta-bandeira: o sujeito já entra balançando". Poderia acrescentar que se trata do típico ministro "Matte Leão", aquele que já vem queimado.
Com dois processos pendentes no STF, depois da sua nomeação soube-se que o novo ministro é dono de emissoras de rádio registradas em nome de laranjas e de empresas de construção civil não declaradas à Justiça Eleitoral, além de ser adepto do nepotismo e do velho hábito de destinar verbas públicas a familiares e amigos.
Nada de novo, portanto, no horizonte do Ministério das Cidades. Em seu discurso de posse, feito apenas de declarações de boas intenções, sem apresentar qualquer proposta concreta de trabalho, Ribeiro reclamou da rigidez dos orgãos de fiscalização e já se queixou das dificuldades: "É tudo assim tão complicado que chega em alguns momentos a ser desestimulante para o gestor". E ouviu uma cobrança da presidente Dilma, que pediu a ele uma "postura rigorosamente republicana", algo que não tem sido muito comum na atual equipe de governo, e levou à demissão de ministros como Mário Negromente.
Antes mesmo de começar o seu trabalho, Aguinaldo Ribeiro já sofreu sua primeira derrota política e viu seu poder esvaziado: foi obrigado a nomear a petista Inês Magalhães para a Secretaria Executiva de Cidades, seguindo a política adotada por Dilma em outros ministérios: colocar técnicos da sua confiança em cargos-chave.
Já que não consegue se livrar das amarras do "presidencialismo de coalizão" em nome da tal da "governabilidade", entregando a nomeação de ministros aos partidos, o que leva a indicações temerárias como a de Aguinaldo Ribeiro, a presidente pretende melhorar a gestão de governo mantendo um rígido controle sobre as áreas técnicas e financeiras.
Ao mesmo tempo em que o pepista tomava posse, o governo anunciava outra troca, desta vez na Secretaria das Mulheres: sai a petista Iriny Lopes, que vai se candidatar a prefeita de Vitória, e entra a petista Eleonora Menicucci, que foi companheira de cela de Dilma nas prisões da ditadura militar. Em sua primeira manifestação, a futura ministra defendeu a liberação do aborto, tema que marcou a última campanha eleitoral e pode criar novas dores de cabeça para a presidente.
Como previsto aqui no Balaio, logo no começo do ano, a anunciada reforma ministerial foi assim reduzida à troca de alguns nomes no esquema seis por meia dúzia, mantendo nos ministérios os mesmos esquemas político-partidários. Quem esperava "um novo ministério Dilma" a partir do segundo ano de governo pode ir tirando o cavalinho da chuva. Teremos mais do mesmo.
Que grande diferença existe, afinal, entre o perfil do demissionário Negromonte e o do novato Ribeiro? A melancólica e pouco prestigiada cerimônia de posse no Palácio do Planalto, que entrou de raspão nos telejornais da noite em dia de conflitos na Bahia e privatização de aeroportos, constitui o melhor retrato de um tempo em que a política já não emociona nem entusiasma mais ninguém. Vida que segue.
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