sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

PETROBRÁS - Um depoimento sobre Graça Foster

Do blog do Luis Nassif


Por Carlos Souza

Graça Foster – Presidente da Petrobras

Prezado Nassif, escrevi esse depoimento. Agradeceria se pudesse ser publicado.

Conheci a Graça há uns 20 anos. Eu tinha acabado de voltar do doutorado e ela era chefe de um setor no centro de pesquisas da Petrobras. Eu tinha tido um trabalho técnico aprovado para apresentação em um congresso no exterior. Nessa conferência a Petrobras apresentaria 6 ou 7 trabalhos. Como era comum naquela época, a Petrobras não aprovou a viagem para a conferência de vários dos autores, apenas uma vaga foi aprovada para o Centro de Pesquisas. A Graça foi a escolhida e iria apresentar seu trabalho. Os demais, como era comum acontecer, dariam “no show” no congresso.

Quando soube disso, a Maria da Graça, por conta própria, telefonou para todos os autores e se prontificou a apresentar todos os trabalhos. Com isso, acabei indo ao CENPES, o centro de pesquisas da empresa, para mostrar a ela minha apresentação e explicar um pouco do trabalho, que obviamente passava longe de sua especialidade. Ao encontrá-la, não resisti e fiz a pergunta: porque você, que poderia ir à conferência, apresentar seu artigo, e depois aproveitar o evento para conhecer outros autores e assistir a outras apresentações, está preferindo se expor, e enfrentar essa maratona para apresentar 7 trabalhos, em inglês (que não era seu forte), em áreas técnicas que não são exatamente as suas? E isso tudo por iniciativa própria, sem que ninguém sequer tenha lhe sugerido isso?
p>Sua resposta foi interessante e inusitada. Graça preferia correr os riscos de apresentar um trabalho alheio a ver a Petrobras dar um “no show” em um congresso.

Depois desse primeiro contato, passei os anos seguintes trabalhando muito próximo da Graça. Coordenei um projeto do CENPES em que 8 dos engenheiros de seu setor trabalhavam comigo. Na aprovação desse projeto conheci o hoje famoso mal humor da Graça. Ela, que nunca teve paciência para esperar, queria que o projeto fosse aprovado e tivesse ssuas atividades iniciadas o mais rápido possível. Eu porém, como futuro coordenador e observando vários aspectos técnicos e econômicos, só aceitei iniciar o projeto depois de ter todos os planos de trabalho revisados e atendendo a todos os requisitos de meu departamento. Essa demora deixou a Graça muito irritada, mais ainda ao ver que sua irritação não tinha nenhum efeito na aprovação do projeto. Quando finalmente todos os requisitos foram atendidos e o projeto deslanchou, ela veio a minha sala, na avenida Chile, e pediu desculpas reconhecendo que minha atitude visava buscar o melhor para a empresa. Essa qualidade, de reconhecer seus eventuais erros e pedir desculpas, também é bastante conhecida hoje na empresa. Somente por curiosidade, informo que esse projeto visava capacitar a empresa a perfurar poços horizontais e de longo alcance em águas profundas. Hoje a Petrobras é uma das empresas que dominam essa técnica e esse tipo de poço é o poço básico usado na produção dos grandes campos marítimos da empresa.

Depois disso ficamos amigos, trabalhamos juntos em diversas frentes, ela sempre no CENPES e eu no E&P (Exploração e Produção). Uma das últimas atividades que exercemos juntos foi sair pelo Brasil, palestrando em diversas universidades, buscando parcerias dos pesquisadores brasileiros para solucionar os diversos desafios que a Petrobras enfrentava e viria a enfrentar. A Petrobras tornava-se uma empresa gigante, o CENPES sozinho não daria conta de tudo. Precisávamos de parceiros. Palestramos e buscamos apoio desde o Sul até o Amazonas. Hoje a Petrobras tem projetos de pesquisa, sem exagero, com centenas de universidades e centros de pesquisa no Brasil e no mundo.

Depois disso, passei a ver a Graça cada vez menos. Ela começou, por mérito próprio, a exercer cargos cada vez mais altos na empresa, o que a tornava cada vez mais ocupada. Eu por meu lado, sai da Petrobras e do Brasil para ser professor em uma universidade no exterior. Mais tarde, quando retornei à indústria do petróleo, foi também no exterior, e desde essa época nunca mais vi a Graça. Já lá se vão mais de 10 anos. Mesmo sem vê-la, e sem nenhum contato, sequer por email, ainda a considero minha grande amiga e estou orgulhoso de sua conquista.

Que momento especial passa a Petrobras. Além de uma mulher como presidente, funcionária de carreira, tem entre seus diretores um engenheiro como o Formigli, também funcionário com carreira de mais de 30 anos na empresa, trabalhador e muito competente. Temos ainda o Duque e o Zelada, ambos diretores, ambos funcionários de carreira, ambos com mais de 30 anos de trabalho na Petrobras. A eles veio agora se juntar na diretoria o José Alcides, também trabalhando na empresa há mais de 30 anos. E na Petrobras Distribuidora, temos como presidente o José Lima, meu grande amigo desde os tempos em que éramos estagiários e mais tarde jóvens engenheiros em Sergipe e posteriormente na Bahia.

Tive o prazer de conhecer todos esses engenheiros, hoje ocupantes dos mais altos cargos da empresa. Conheci-os ainda jóvens, ralando, trabalhando duro e contribuindo para formar essa Petrobras que hoje conhecemos. A Graça e o José Lima também ralaram por anos a fio antes de sequer ocupar suas primeiras, e humildes, posições de chefia. A todos conheci em algum momento de minha carreira, jogamos bola, tomamos chopp, rimos e trabalhamos juntos.

Sai do Brasil antes do primeiro governo Lula, não trabalho na Petrobras e não sei muito sobre a política brasileira. Ouço sempre falar que fulano é indicação do PMDB, que o sicrano é da quota do PT, e etc. Porém, o fato é que esses engenheiros, assim como eu, ingressaram na Petrobras ainda jovenzinhos. Passaram, como eu, num concurso nacional e aberto a todos os brasileiros. Foram bons empregados, deram sua contribuição e hoje estão na diretoria da empresa. Não os vejo nem tenho com eles tenho nenhum contato há mais de uma década, mas isso não me impede de me sentir feliz por essas conquistas. Na história da empresa não me lembro de ter visto tantos empregados de carreira, competentes e merecedores, ocupando tantos cargos na direção. Para mim é motivo de orgulho. Creio que para todos os brasileiros.

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