A grande crise é na ordem mundial. US$ 1,1 bi a menos, em um mês.
Autor: Fernando Brito
Os “sabichões” da economia quase nunca dizem que o modelo de pesados financiamentos públicos – via BNDES – e as renúncias fiscais feitas no primeiro mandato de Dilma foram uma tentativa de fazer com que o país pudesse depender, como historicamente depende – da exportações de commodities, ainda que não possa nem devam estas deixarem de ser parte importantíssima de nossa pauta de exportações, pelo potencial agrícola e mineral do Brasil e por uma extensão territorial, sol e água que são diferenciais estratégicos (quem duvidar, veja se os EUA descuidam de sua produção agrícola).
Hoje, na Folha, a coluna de Mauro Zafalon, especialista em comércio de commodities, traz uma informação que puxa parte do tapete dos que dizem que o Brasil vive uma crise que vem quase que só dos gastos públicos e de episódios de corrupção que, embora graves e sérios, do ponto de vista macroeconômico influi mais pelo clima que cria do que pelo dinheiro desviado criminosamente.
Diz ele:
“O Brasil nunca exportou tanta soja em um mês como em maio passado. Mas, apesar desse volume recorde, a receita encolheu.(…)Mas o menor preço médio da soja neste ano é uma má notícia para a balança comercial brasileira.Após ter atingido US$ 31,4 bilhões com as exportações do ano passado, o complexo soja (soja em grãos, farelo e óleo) deverá render apenas US$ 23,4 bilhões neste ano, segundo estimativas da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).”
O preço, informa Zafalon, caiu fortemente: “em maio do ano passado, a tonelada da oleaginosa exportada atingia US$ 508. Neste ano, esteve em US$ 387.”
Fazendo as contas: ao preço do ano passado, os 9,34 milhões de soja exportada deveriam render US$ 4,74 bilhões.
US$ 800 milhões a mais.
Mas renderam US$ 3,6 bilhões, “apenas” US$ 1,1 bilhão a menos, num mês, do que seria a preços de 2014.
Sessenta anos depois, permanece, infelizmente, o que Getúlio Vargas escreveu em sua “carta-testamento”:
– Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
É claro que muito daquele mundo é diferente do de hoje, sobretudo o protagonismo do capital financeiro, mas não a essência da dominação dos poderosos.
Não é o “mercado” que vai dotar o Brasil de uma economia mais equilibrada em produtos de média-alta tecnologia – e preço – nem vai elevar nosso nível educacional, nem financiar a ampliação e modernização do nosso parque de máquinas. Muito menos fazer usinas elétricas, refinarias. Aliás, petróleo querem, mas só para sacar do solo e exportar.
É por isso que têm tanta saudade dos tempos em que o Brasil vivia como cão vadio, abanando cauda e se oferecendo para qualquer negócio, entregando-se todo.
Entre as pessoas e as nações, tão importante quanto evitar a soberba, é não se conformar em ser capacho
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