Por que a 241 é a PEC da Morte!
O Golpe golpeia o IPEA
Via Jornalistas Livres:
O golpe chegou ao IPEA
O Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – Ipea – foi o palco de mais uma tentativa de desautorizar e
calar as vozes de técnicos e funcionários públicos que discordam dos
rumos do golpe.
Fabíola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci
de Sá e Benevides, respectivamente doutora e mestre em saúde coletiva,
publicaram, em 21/09/2016, uma nota técnica em que analisam criticamente
os impactos que a aprovação da PEC 241 teria sobre o Sistema Único de
Saúde – SUS.
Ernesto Lozardo, presidente do Ipea
nomeado pelo governo golpista, veio a público, através de nota publicada
no site do Instituto, em 11/10/2016, para desacreditar e criticar a
nota e declarar que “a posição institucional do Ipea é favorável à PEC
241”.
Como resultado, “a pesquisadora Fabíola
Sulpino Vieira pediu exoneração do cargo de coordenadora da área de
saúde da instituição”, conforme noticiou a BBC Brasil, nesta quinta
13/10.
As posições são antagônicas basicamente
porque, de um lado, está quem se preocupa com o financiamento da saúde,
especialmente para as classes de menor renda, e, de outro, estão os
apoiadores da guinada conservadora empreendida pelo governo golpista. Os
primeiros percebem com nitidez a tentativa de reduzir os gastos sociais
do governo federal e os segundos tentam de todas as formas escamotear a
real intenção da PEC 241.
A debilidade da defesa que Lozardo faz
da emenda constitucional permite-nos a certeza de que os golpistas
defendem o indefensável. Vejamos os 10 itens de Lozardo favoráveis à
emenda.
1 Lozardo acusa que o estudo
desconsiderou a alocação de 15% da Receita Corrente Líquida para compor a
base a ser congelada. Mas, vejam a tabela que está na nota de Vieira e
Benevides:
Resta evidente que os técnicos do Ipea
realizaram a projeção de perdas para a saúde com a PEC com dois limites
iniciais: 13,2% e 15%. A impressão que fica é a de que Lozardo não leu a
Nota Técnica 28, ou pior, leu e não compreendeu.
A tabela mostra os recursos que
deixarão de ir para a saúde com a aprovação do congelamento de gastos,
em diferentes cenários de crescimento econômico. “No cenário com taxa de
crescimento real do PIB de 2,0% ao ano, a perda acumulada no período
seria de R$ 654 bilhões, partindo-se de um limite inicial de 13,2% da
RCL em 2016, e de R$ 400 bilhões com limite inicial de 15,0% da RCL”,
exemplificam.
2 Lozardo afirma que “nada impede que o
Poder Executivo ou o Poder Legislativo fixe despesas em saúde acima do
mínimo”. E nos apresenta o gráfico abaixo.
Lozardo utiliza os dispêndios com
saúde, realizados em Lula e Dilma, para tentar passar a ideia de que o
gasto é fixado pelo mínimo e nada impede que seja mais. No entanto, a
regra da PEC 241 é exatamente que as despesas primárias tenham como teto
as despesas de 2016. Claro que o governo poderá redirecionar recursos,
de outros setores, para a saúde, mas o teto do gasto primário total é
dado a priori. E mais, é dado a priori para 20 anos.
3 No afogadilho de depreciar o estudo,
de se mostrar favorável à PEC 241 e fazer coro com o grupo conservador
que tomou o poder, Lozardo se esqueceu do item três. Não podíamos deixar
de registrar esse lapso.
4 Lozardo prossegue: “Não foram
mencionadas as fragilidades da regra de cálculo vigente, em especial,
aquelas decorrentes da volatilidade da receita. Se o gasto mínimo nesse
setor continuar atrelado ao desempenho da receita, nos momentos em que
esta estiver crescendo abaixo da inflação, como tem ocorrido nos últimos
anos, o gasto mínimo ficará defasado”.
Lozardo chega ao absurdo de afirmar que
o congelamento das despesas primárias “protege” o gasto com saúde. Nada
mais surreal. Ele usa a queda na receita dos últimos anos para fazer
prevalecer seu argumento. Ora, na regra atual é evidente que haverá
menos recursos quando a arrecadação cair, mas é razoável esperar que a
economia brasileira cresça com mais frequência do entre que em recessão.
Basta ver a história. Seu próprio gráfico demonstra que a regra é o
contrário do que ele afirma.
5 Ele vai além: “Resumindo, referenciar
o gasto mínimo à inflação gera um padrão menos volátil e mais
previsível de despesa mínima, permitindo melhor planejamento e controle
da despesa nesse setor fundamental”.
Perguntamos: você prefere receber 500
reais pelos próximos 20 anos, ou em alguns anos 800 reais, em outros 600
e em outros 500? Prefere menos volatilidade com sua renda congelada num
piso inferior?
6 Lozardo se supera ao propor que a
comparação entre países inclua a despesa privada com saúde: “A
comparação internacional citada no texto resume-se apenas ao gasto
público em saúde no Brasil, sendo que as despesas privadas também são
importantes para melhorar as condições de vida dos cidadãos. Nesse
contexto, quando comparado à despesa total de saúde em percentual do
PIB, o Brasil investe mais em saúde (8,3%) do que muitos dos seus pares,
como Argentina (4,8%), México (6,3%), Colômbia (7,2%) e Chile (7,8%),
de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
Veja o que dizem Vieira e Benevides: “O
gasto público per capita com saúde do Brasil é um dos mais baixos entre
países que possuem sistema universal de saúde e mesmo quando comparado
ao de países vizinhos nos quais o direito à saúde não é um dever do
Estado. Para exemplificar, em 2013, este indicador para o país foi de R$
946 (Brasil, 2015b), equivalentes a US$ 591. No mesmo ano, o gasto
público per capita foi de US$ 3.696 para a Alemanha, US$ 2.766 para o
Reino Unido, US$ 3.360 para a França, US$ 1.167 para a Argentina, US$
795 para o Chile e US$ 4.307 para os Estados Unidos. Observa-se que o
gasto público per capita do Brasil é de 4 a 7 vezes menor do que o de
países que têm sistema universal de saúde, tais como o Reino Unido e a
França, e mesmo inferior ao de países da América do Sul nos quais o
direito à saúde não é universal (Argentina e Chile)”.
As despesas privadas em saúde são
restritas à pequena parcela da população que tem recursos para custear
planos de saúde ou tem empregador que o faça. Não é, e nunca foi, para
esse grupo que o SUS foi criado.
7 Lozardo continua: “Em nenhum momento,
a nota menciona que o Novo Regime Fiscal pode ser revisto em 10 anos, o
que prejudica a conclusão, haja vista que as estimativas estão
referendadas no ano de 2036”.
Como o argumento é esdrúxulo,
contra-argumentamos com uma proposta simples, mudemos o horizonte da PEC
241 para 10 anos. Aceita, Sr. presidente do Ipea?
8 O ideário neoliberal de Lozardo vem à
tona: “Cabe destacar que o estudo parte do pressuposto que o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em nada depende dos efeitos
da PEC. Uma premissa irrealista e desconectada dos pressupostos dos
fundamentos macroeconômicos: estabilidade de preços, salários e câmbio”.
Por mais que os exemplos internacionais
refutem a ideia neoliberal de que cortes de gastos e investimentos leva
ao crescimento, ainda há partidários apaixonados dessa doutrina
econômica. Basta ver o que está a acontecer na Grécia ou na Espanha,
para avaliar os resultados do “austericídio” neoliberal. Como
contra-exemplo temos os Estados Unidos que acelerou gastos e
investimentos públicos durante a pior crise desde 1929 e vem conseguindo
melhores resultados. Parece que os EUA aprenderam com a crise de 1929 e
os neoliberais, como Lozardo, não.
9 Para conseguir dizer que listou 10
argumentos contra a Nota Técnica, Lozardo acrescenta que: “O estudo
também não considera o efeito positivo da recuperação da economia na
arrecadação de estados e municípios, o que resultará indiscutivelmente
em mais recursos para a saúde”.
10 E ainda: “O trabalho desconsidera
adicionalmente a possibilidade de ganhos de produtividade na gestão das
políticas públicas em saúde, possibilidade evidenciada em vários estudos
sobre o tema”.
Perdão, Sr. presidente, mas custamos a
crer que o corte de gastos e o desprezo por conquistas de direitos
sociais tragam ganhos de produtividade.
Vieira e Benevides citam as previsões
do IBGE: “No horizonte da PEC, a população projetada para 2036 é de
226,9 milhões de habitantes, 10,1% superior à de 2016.” Não é muito
difícil imaginar o que acontecerá com o aumento de cerca de 1 milhão de
pessoas, a cada ano, na população brasileira e o gasto com saúde
congelado.
As conquistas da Constituição de 1988 desaparecem no ar.
Notas
1 “O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
é uma fundação pública federal vinculada ao Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte
técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e
reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento
brasileiros. Os trabalhos do Ipea são disponibilizados
para a sociedade por meio de inúmeras e regulares publicações
eletrônicas e impressas, eventos e via programa semanal de TV em canal
fechado” Texto extraído da seção Quem Somos do site www.ipea.gove.br.
2 O IPEA tem a importante missão:
“Aprimorar as políticas públicas essenciais ao desenvolvimento
brasileiro por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da
assessoria ao Estado nas suas decisões estratégicas”.
3 A Nota Técnica no. 28, organizada por Fabiola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci de Sá e Benevides, com o título: Os
impactos do novo regime fiscal para o financiamento do Sistema Único de
Saúde e para a efetivação do direito à saúde no Brasil. Está disponível no link:
4 A nota assinada por Ernesto Lozardo,
tem o título: O impacto do Novo Regime Fiscal para o financiamento da
saúde. Está disponível em: (http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=28722&Itemid=2 )
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