O Seminário de Comunicação da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) começou nesta quinta-feira (28) com efusivas loas às novas tecnologias. Segundo os debatedores da mesa de abertura, a internet não só acabou com os “os atravessadores da informação” como também “marcou o fim do jornalismo impositivo”, em que “o leitor se torna refém dos jornalistas”.
O jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum, lembrou três momentos desta década em que a grande mídia perdeu a batalha da informação: 1) o “golpe midiático” malsucedido de abril de 2002 para depor o presidente venezuelano, Hugo Chávez; 2) o fiasco do governo Aznar e da mídia espanhola na tentativa de manipular as eleições presidenciais de 2004, que foram precedidas de um ataque terrorista em Madri; 3) a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, em 2006, minando a despudorada ofensiva dos barões da mídia em favor da oposição.
“A internet mostrou que estão abertos os caminhos para democratizar os meios de comunicação. A grande mídia ainda exerce uma ditadura muito poderosa, mas está mais vulnerável do que nunca”, assinalou Rovai. Segundo ele, a luta pela democratização da mídia não pode ficar restrito aos comunicadores. “Esse debate tem de se espraiar – e mais na área de educação do que em qualquer outra”, agregou o editor da Fórum, elogiando a iniciativa da Contee.
Para Rovai, até mesmo uma reforma como a agrária não sobrevive sem um suporte midiático vigoroso e alternativo. “É preciso haver ampla diversidade informativa, um ambiente democrático de comunicação, para que a reforma agrária, uma vez feita, não seja derrotada. Sem uma mídia do nosso lado, não teremos como enfrentar essa batalha em seu processo de formação.
”A checagem nas mãos do leitor
Depois de 12 anos na grande imprensa — e após sofrer “demissão de quatro veículos por razões ideológicas” —, Plínio Teodoro é colaborador da Caros Amigos, mantém um blog e vê alento na internet. Para ele, as novas tecnologias permitem um novo receptor da informação e diminui a arbitrariedade. “Hoje existem mais possibilidades para um leitor checar na fonte o que este ou aquele jornal está dizendo.”
A partir da web, diz Plínio, é possível desmascarar farsas como a cobertura da ocupação da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. “A TV Globo não teve êxito ao inventar que o MST usou jornalistas como escudos humanos — e também não disse que quem levou os jornalistas da Globo para a fazenda foi um avião do Opportunity.”
Plínio Teodoro lamenta os paradigmas atuais do jornalismo, em que “acabaram as grandes reportagens” e “os vazamentos propositais expõem sempre pessoas interessadas se articulando com jornalistas”. Mas pondera: “Estamos num dos melhores momentos da história para fazer comunicação e democratizar a mídia. O público nunca teve condições — como tem agora — de fazer a sua própria investigação contestar o que a grande mídia tenta nos enfiar goela abaixo”.
A credibilidade sob suspeita
O novo tempo das comunicações é igualmente exaltado pelo pesquisador Venicio A. de Lima, da Universidade de Brasília (UnB). “Com a internet, o monopólio da credibilidade da grande mídia é questionado e, muitas vezes, liquidado. A internet tem muito mais pluralidade do que a grande mídia oferece, ofereceu ou um dia vai oferecer”.
Venício concorda com Rovai: apesar de vulnerável, a grande mídia ainda tem poderes descomunais. É o que permite que, nos dias de hoje, “o chamado escândalo político seja essencialmente um escândalo midiático, como diz o (sociólogo americano) John B. Thompson”. De acordo com o pesquisador da UnB, há uma distorção quando o poder da mídia chega a ser maior que o do próprio Estado. “O que deve ocorrer é o contrário. O Estado não só pode como tem o dever de intervir nas comunicações para garantir os direitos da maioria.”
Parafraseando o revolucionário italiano Antonio Gramsci (1891-1937), Venício afirma que “a sobrevivência do velho nas comunicações ainda causa muito estrago, apesar de o novo estar florescendo”. É nesse “novo”, porém, que se fortalece a luta contra a ditadura midiática. “Não vamos nunca democratizar a velha mídia. Temos de tentar regulá-la, combatê-la, fazer sua crítica — mas temos também de pensar em uma nova. Nosso dever é criar outra mídia.”
De São Paulo,
André Cintra
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