Ricardo Kotscho
Dei o título acima a este post apenas para demonstrar como é possível, a partir das mesmas informações, dar manchetes completamente diferentes, com o sinal trocado.
Os editores da Folha de S. Paulo preferiram destacar que “3º mandato de Lula divide o país _ Proposta tem o apoio de 47% e é rejeitada por 49%, revela Datafolha; popularidade do presidente sobe”.
Leitores desavisados sobre os critérios editoriais da nossa grande imprensa poderiam inferir, a partir da manchete da Folha, que a luta de Lula por um terceiro mandato estaria dividindo o país, como se esta proposta estivesse para ser votada no Congresso Nacional e dominasse as conversas nas ruas.
Como sabemos, não se trata de uma coisa nem de outra. Quase toda semana, como na última, faz anos que Lula descarta a possibilidade de um terceiro mandato.
E a tentativa feita quinta-feira por um deputado inexpressivo (Jackson Barreto, do PMDB-SE) para colocar o asssunto em discussão na Câmara não conseguiu o número mínimo exigido de assinaturas.
Pela enésima vez repito aqui no Balaio que esta história de terceiro mandato é uma bobagem levantada por áulicos e adversários do presidente Lula, nunca foi cogitada por ele. Ele é contra por uma questão de princípios, em respeito à democracia e ao que está escrito na lei, como eu também sou.
Em entrevista que fiz com ele para a revista Brasileiros, no final de 2007, reproduzida outro dia aqui no Balaio, perguntei-lhe se não aceitaria disputar a re-eleição nem se o povo pedisse e ele me respondeu categoricamente que não, não havia esta possibilidade.
Então, qual a razão da pesquisa, por que afirmar que o país está dividido em torno desta questão? Por acaso, pensou-se em fazer a mesma pesquisa na segunda metade do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso?
A resposta pode estar em outras questões levantadas pela pesquisa, mostrando que, apesar da crise econômica mundial e das suas consequências para a vida do brasileiro, da gripe suína, das enchentes e das secas, a popularidade do presidente não só não foi abalada como continua subindo, assim como as intenções de voto em sua candidata à reeleição, a ministra Dilma Roussef:
O que mostra o Datafolha:
* A avaliação do presidente Lula, na metade do seu sétimo ano de governo, chegou a 69%, no mesmo patamar de antes da crise financeira.
* Se pudesse ser candidato à re-reeleição, ganharia com folga de José Serra já no primeiro turno.
* A intenção de voto para presidente em Dilma Roussef subiu de 3%, em março de 2008, para 16% agora, passando Ciro Gomes e Heloísa Helena, enquanto o líder das pesquisas, José Serra, caiu de 41%, em março de 2009, para 38%, diminuindo em oito pontos a distância de um para outro.
Qualquer um destes resultados da pesquisa também poderia ter sido manchete da Folha, assim como o fato de que mais brasileiros agora apóiam um terceiro mandato para o presidente:
* Em 2007, 31% eram a favor e 65 contrários à mudança na lei para que Lula pudesse concorrer a um terceiro mandato; agora, há empate técnico: 47% são a favor e 49% contrários.
Por isso, acho que a minha manchete _ “Metade do eleitorado já apóia 3º mandato” _, modéstia à parte, seria jornalísticamente mais correta.
Somando tudo e passando-se a régua, a pouco mais de um ano do início oficial da campanha presidencial de 2010, entende-se porque a oposição resolveu jogar tudo na criação de uma CPI da Petrobras, enquanto continua agitando o fantasma do terceiro mandato.
Ou alguém honestamente pode imaginar que a oposição está mesmo interessada em investigar a administração da Petrobras para melhorar o desempenho da empresa e que ainda haveria tempo útil para alterar a lei permitindo a re-eleição do presidente Lula?
Parece ser tudo só uma disputa por manchetes _ e, neste campo, como vimos, cada um pode escolher a sua.
Fonte:Balaio do Kotscho
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