por Antonio Ozaí da Silva
Vejo crianças e jovens aborrecentes mimados, arrogantes e autoritários. Pais endividados e perdulários tudo fazem para atender os desejos dos pequenos reizinhos e princesinhas despóticos. Sentem-se culpados se não conseguem saciá-los. Acostumam os filhos a um padrão de consumo muitas vezes acima das possibilidades. Não conseguem voltar atrás, cortar gastos e os pequenos prazeres. Então, recorrem ao cheque especial, ao cartão de crédito, empréstimos etc. Sacrificam-se ao deus mercado em nome do amor aos filhos. Confundem-no com os bens materiais que dão aos pimpolhos. São pais ausentes que se fazem presentes através dos presentes. Os filhos são educados a esperar prêmios. Se o filho tem más notas, estimulam-nos com a promessa de um presente; se passa no vestibular, é premiado.
Pais superprotetores almejam formar filhos vencedores. Vêem como necessário prepará-los para a guerra de todos contra todos. E quando os filhos mimados não correspondem ao esperado, por exemplo quando o desempenho escolar, apesar de tudo, não vai bem, eles têm dificuldades em superar a situação pelos próprios meios. Creditam a culpa à escola, aos professores. Logo concluem que é preciso levar o filho ao psicólogo, ao psicopedagogo etc. Transferem suas funções à profissionais e declaram-se incapazes. Preocupam-se com notas escolares, mas nem sempre sabem, ou não dão importância, à forma desrespeitosa e arrogante como os filhos tratam os colegas e professores. Eles apenas reproduzem a vida doméstica: não há autoridade que imponha limites e agem como se tudo pudessem no ambiente escolar.
Os pais o fazem por amor, querem o melhor para os filhos. Ainda que de forma involuntária, protegem em excesso e tolhem a possibilidade da autonomia. Os filhos tornam-se apêndices dos seus desejos e frustrações. Mas sob o preço de mantê-los sob tutela e gerar adultos sem condições emocionais para enfrentar as adversidades da vida. Filhos que se acostumam a tudo possuir sem ter noção sobre o valor exato das coisas, e me refiro não apenas ao valor monetário, tendem a ver a vida como uma coleção de bens adquiridos sem grandes esforços. São fortes candidatos a pequenos ditadores que vêem os demais como objetos a serem manipulados.
Os pais os poupam de preocupações. Sem que desejem, educam para um modelo de vida no qual o essencial é a posse e acúmulo de bens. Os filhos tendem a se tornarem consumidores insaciáveis e a medirem a felicidade pela posse. Estarão predispostos a buscar os caminhos mais fáceis e a adotar qualquer meio para terem o que desejam.
Como culpar os genitores pelo amor que dedicam aos filhos? Não é sua função protegê-los? Como questioná-los se a proteção é excessiva e prejudicial à formação dos filhos, se para eles trata-se apenas de cumprir a função de pais? Talvez mereçam o perdão, pois não sabem o que fazem. Não percebem que a superproteção prejudica o desenvolvimento deles e podem gerar adultos psicologicamente problemáticos. Perdoe-mo-lhes!
O amor desmedido cega-os e leva-os a confundir a necessária recusa do autoritarismo com a ausência de autoridade. A liberdade é confundida com licenciosidade. Imaginam-se amantes da liberdade, mas não educam os filhos para a autonomia e criam-nos sem limites.
Filhos mimados alheios à realidade social. A miséria, as injustiças sociais pertencem a um mundo que não lhes diz respeito, um mundo restrito ao noticiário ou aos livros. Eles não aprendem a enfrentar as contradições da vida, a reagir ao inesperado. Tendem a agir com intolerância, preconceitos e arrogância. Pobres pais que formam estes seres humanos! Tristes filhos! Infeliz a sociedade que forma pais e filhos como estes!
Fonte:Consciência.net
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