por Michelle Amaral da Silva
Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir"
Egon Heck
Uma das questões que mais causaram indignação e revolta aos integrantes da Caravana de Solidariedade aos Kaiowá Guarani foi a estratégia do agronegócio de isolar a comunidade indígena, impedindo o acesso a ela, obrigando adultos e crianças da comunidade a deslocamentos a pé para ir à escola, receber atendimento à saúde ou mesmo receber o parco alimento da cesta básica. E o mais grave é a negação do acesso ao próprio órgão de assistência do governo federal, a Funai. Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir". "Vamos quebrar esses cadeados da vergonha, entrando com uma ação na justiça", disse Dr. Odete, no sindicato dos trabalhadores rurais de Rio Brilhante.
Os fazendeiros, que se dizem proprietários das terras em que está a comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu, ostentam papéis que dizem ser títulos de propriedade de 1847, portanto quando ali ainda era o Paraguai. Só resta a pergunta que alguns indígenas fizeram a zelosos proprietários: "gostaríamos de saber se os senhores conseguiram assinatura de Deus, pois para nós a terra foi feita por Deus para todos e ele deve ter se negado a assinar qualquer título de propriedade". "Malditas cercas do latifúndio", diria D. Pedro Casaldaliga, que, em seus mais de 80 anos de existência, lutou e continua lutando para romper as cercas do racismo, do preconceito, da acumulação e exclusão, da dominação, da exploração e de todas as formas de injustiça.
Os Kaiowá Guarani continuam isolados pelas cercas e cadeados, até quando?
Os ideólogos do confinamento
Para justificar o processo de espoliação das terras e recursos naturais dos Guarani, nessa história de cinco séculos de invasão, não faltam os ideólogos de plantão que se prestam, certamente com régias compensações, a justificar a infâmia do confinamento a que estão submetidos os Guarani.
Vejamos o que vem difundindo um deles, referindo-se ao atual processo de identificação das terras Guarani no Mato Grosso do Sul, criando o fantasma da criação de uma "Nação Guarani". D. Rosenfield, em recente publicação, diz: "A nação guarani não está, porém, restrita a esses estados brasileiros, mas se estende a outros países: Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Segundo eles, a Bolívia já trilha esse caminho político, necessitando apenas ser apoiada no que vem fazendo, destruindo, na verdade, as frágeis instituições daquele país. O foco, aqui, seria o Paraguai, onde o processo se inicia com um presidente simpatizante da ‘causa’ e que, via Teologia da Libertação, compartilha com os mesmos pressupostos teóricos do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Entende-se, portanto, melhor a sustentação dessas agremiações políticas ao presidente Lugo e a política adotada de apoio às invasões das terras dos brasiguaios" ("A Nação Guarani", D, Rosenfield, Estadão on line, 25/05/09).
Nessa mesma direção vão as afirmações de setores militares e políticos, na tentativa de negar os direitos dos povos indígenas a viver com dignidade e paz em suas terras.
Egon Heck é coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-MS).
Fonte:Brasil de Fato.
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