sexta-feira, 29 de maio de 2009

PETRÓLEO - Pré-sal, a maior descoberta ocidental.

Confiram a seguir a entrevista concedida ao jornal “O Globo”, na internet, no dia 23/05, pela especialista norte-americana Antonia Juhasz, que acaba de lançar o livro “A tirania do petróleo”, pela Ediouro. A entrevista do “O Globo Online” se diferencia, em muito, a da versão impressa de “O Globo”, do dia 24/05, que omitiu diversos trechos fundamentais da crítica da autora à tirania das chamadas Big Oil (Exxon/Mobil, Royal-Dutch Shell, BP, Chevron, Conoco/Philips e Total). A versão impressa contém muitas informações da especialista, que enfatizam as estratégias das Big Oil para ter acesso às reservas petrolíferas mundiais, entre outros meios, através de forte “lobby”, além das já conhecidas invasões ao Iraque. Os relatos da especialista são deveras educativos às autoridades governamentais, parlamentares e para toda a sociedade brasileira, sobretudo, no momento em que se discute as mudanças no atual marco regulatório do petróleo [Lei 9478/97]. As denúncias da especialista vêm reforçar, também, as críticas à criação da CPI da Petrobrás e pela importância estratégica do retorno da Lei 2004/53, que criou o monopólio estatal do petróleo e a Petrobrás. Esse chamamento vem sendo feito pela AEPET, pelo Sindipetro-RJ e demais entidades de petroleiros, vêm ganhando muito apoio de outras organizações da sociedade brasileira, de parlamentares e de personalidades. “O petróleo tem que ser nosso!”. Boa leitura. (Redação)

PRÉ-SAL, A MAIOR DESCOBERTA OCIDENTAL

Ramona Ordoñez (O Globo Online)

Especialista americana acredita que reservas da Exxon podem competir com Tupi. A descoberta da gigante Exxon Mobil no pré-sal na Bacia de Santos poderá ter reservas de petróleo capazes de competir com as de Tupi como a maior descoberta do Hemisfério Ocidental nos últimos 30 anos. Mas o Brasil precisa ter cuidado com os elevados custos e os impactos ambientais. O alerta é da escritora norte-americana Antonia Juhasz, autora do livro `A tirania do petróleo`, lançado aqui pela Ediouro.

Como a senhora avalia as descobertas de petróleo no pré-sal pelo Brasil?

ANTONIA JUHASZ: Eu apenas alertaria o Brasil para ter em mente os inúmeros problemas sérios associados à grande produção de petróleo, além de ter cuidado com aqueles aos quais se alia. A descoberta da Exxon Mobil na costa brasileira pode ter petróleo suficiente para rivalizar com Tupi como a maior descoberta do Hemisfério Ocidental em 30 anos. Entre os vários abusos corporativos da Exxon, há um processo por violação de direitos humanos na Indonésia e em outros países. Os brasileiros também deveriam estar atentos para os elevados custos ambientais da exploração “offshore” (no mar).

Qual é sua opinião sobre o programa brasileiro de etanol e o biodiesel?

ANTONIA: Em lugar de considerar os combustíveis alternativos como o etanol, que, já se viu, substituem e elevam os preços de grãos vitais para a alimentação, eu recomendo reduzir o uso de todos os combustíveis e investir agressivamente em transporte público de massa, cidades mais adequadas a pedestres, ciclovias e sistema de energia verde.

As petrolíferas têm lucros elevados, mas também investem em fontes alternativas?

ANTONIA: Todas as grandes petrolíferas têm gasto milhões de dólares em anúncios e relações públicas para convencer as pessoas de que estão fazendo maciços investimentos em fontes alternativas e renováveis de energia. Examinei as declarações de Imposto de Renda de cada uma das grandes petrolíferas e descobri que nenhuma delas gasta mais que 4% de seu orçamento total de pesquisa em fontes alternativas de energia verde, e a maioria gasta menos que isso. A melhor era a BP. E se 4% representam bastante dinheiro em vista do mega-orçamento da BP, dificilmente justifica que a empresa se renomeie “Beyond Petroleum” (além do petróleo). As empresas estão fazendo investimentos simbólicos em energia alternativa para agradar a opinião pública, enquanto pressionam os povos e seus governos para que lhes deem acesso a todos os cantos do Planeta, onde podem usar métodos cada vez mais destrutivos para tirar até a última gota de petróleo da Terra..

Não é ilusão pensar que as Big Oil vão parar de investir no aumento da produção?

ANTONIA: Sim. É aqui que entramos. Temos de regulamentar as operações das petrolíferas, para assegurar que estas sejam consistentes com necessidades sociais mais amplas, com o Planeta em que vivemos.

Como conciliar essas duas tendências?

ANTONIA: Temos de regular nossas economias para investir em alternativas ao petróleo. Mas continuaremos a precisar dele. Precisamos regulamentar a indústria para torná-la limpa e segura e amigável ao meio ambiente. Isso certamente significa que algumas áreas de produção petrolífera terão de permanecer fora de alcance - como as areias petrolíferas de Alberta (Canadá) ou a área de xisto no Meio-Oeste americano. São escolhas que precisamos fazer para sobreviver como espécie neste Planeta.

No primeiro e no segundo choques do petróleo (1971 e 1979/80), as petrolíferas eram conhecidas como as Sete Irmãs. O que mudou agora?

ANTONIA: Após o segundo choque do petróleo, as Sete Irmãs (Exxon, Mobil, Chevron, Texaco, Gulf, BP e Shell) se fundiram, tornando-se quatro, que engoliram outras petrolíferas pelo caminho. As maiores delas - Exxon e Mobil - se uniram em 1999, formando a maior petrolífera da história e a maior empresa do mundo. A Chevron comprou a Gulf em 1985 e a Texaco em 2001 (esta tinha comprado outra empresa, a Getty Oi, em 1984). A Chevron depois comprou a Unocal, da Califórnia, em 2005. A BP comprou Amoco e Arco em 1989 e 200. Enquanto a Shell comprou várias pequenas empresa que antes pertenciam à Satandard Oil (forçada pelo governo americano a se dividir em 1911). A consequência é que o poder que as sete detinham ficou ainda mais centralizado e se consolidou nas mãos de um grupo menor ainda de empresas, as Big Oil (Exxon/Mobil, Royal-Dutch Shell, BP, Chevron, Conoco/Philips e Total).

As Big Oil têm forte influência no governo dos EUA?

ANTONIA: Devido a seus lucros vultosos e sem paralelo, as Big Oil têm sido a indústria mais influente na política americana - particularmente durante os dois governos Bush. Essa influência começou com o surgimento da Standard Oil Company, há 150 anos. Com a eleição de Barack Obama, os americanos escolheram o candidato que prometeu acabar com a `tirania do petróleo`. A indústria petrolífera americana gastou mais dinheiro que nunca e fazendo lobby junto ao governo federal para influenciar na tomada de decisões políticas. Ainda não está claro quão longe irá Obama na mudança de rumo.

Por que as petrolíferas têm tanto poder, nos EUA e no mundo?

ANTONIA: O petróleo é central para a economia global e, por isso, influencia significativamente o poder detido pelas petrolíferas. As dez maiores petrolíferas divulgaram lucros de mais de US$ 167 bilhões só em 2006 - quase US$ 50 bilhões a mais que as dez principais empresas no segundo setor mais lucrativo, o bancário.

As maiores petrolíferas de capital aberto nos Estados Unidos, e aquelas com a maior influência nas decisões políticas americanas, são Exxon/Mobil, Shell, BP, Chevron, ConocoPhillips, Valero e Marathon. Juntas, ela lucraram mais de US$ 80 bilhões em 2007, o que faz delas a 67ª maior economia do Planeta. Mesmo com a queda do preço do petróleo, as grandes petrolíferas estão reduzidno as perdas com lucros notavelmente crescentes de seus setores de refino e comercialização. Esse poder financeiro sem paralelo se traduz em poder político direto, nas comunidades locais em todo o mundo.

Os grandes conflitos globais, como a guerra do Golfo Pérsico nos anos 1990 e, hoje, a do Iraque, aconteceram apenas para beneficiar as Big Oil?

ANTONIA: Não. Eu me concentro, em meu livro, nas duas guerras dos EUA contra o Iraque e argumento que o petróleo é essencial, apesar de não ser o único motivo, para essas invasões e ocupações. Especialmente na atual guerra do Iraque, o governo Bush e as petrolíferas passaram os últimos seis anos tentando convencer o novo governo iraquiano a aprovar a lei Iraquiana dos Hidrocarbonetos, que levaria o Iraque de um sistema petrolífero nacionalizado, quase fechado, às empresas americanas, em um quase totalmente privatizado, com virtualmente todo o petróleo do Iraque aberto ao controle de petrolíferas estrangeiras. As petrolíferas americanas, claro, continuam profundamente comprometidas em obter acesso ao petróleo do Iraque.

Na atual crise mundial com o desaquecimento da economia, os preços do petróleo estão em queda, como as Big Oil enfrentarão isso?

ANTONIA: As petrolíferas não têm enfrentado queda nos lucros. Em 2008, o ganho da Exxon/Mobil aumentou cerca de US$ 5 bilhões em relação a 2007, e o da Chevron, em US$ 7 bilhões. Seus lucros aumentaram graças à força dos setores de refino e comercialização. As companhias ganharam muito em 2007 e agora elas se ajustaram de volta aos níveis de 2005. A cotação do petróleo vai mais que se recuperar, se os elementos que levaram àquela alta permanecerem: 1) A desregulamentação dos mercados futuros de petróleo; 2) O poder político e econômico sem precedentes das petrolíferas; e 3) Um mundo construído para a dependência do petróleo, um recurso cujo pico global de produção, acredita-se, será atingido em 2020.

As Big Oil deverão continuar investindo no aumento da produção, mesmo com a atual queda mundial da demanda?

ANTONIA: As petrolíferas, sejam de capital aberto, privadas ou estatais, terão de continuar produzindo petróleo por um bom tempo. Não apenas para proteger o Planeta, mas reverter o aquecimento global, precisamos impor restrições maiores sobre onde as petrolíferas poderão ir em busca de petróleo e que métodos podem usar.

Como os mercados financeiros passaram a ter tanta influência nos preços atuais do petróleo?

ANTONIA: A negociação em mercado futuro de petróleo começou na Bolsa Mercantil de Nova Iorque (Nymez) em 1984, como resposta à “crise” dos 1970, com o propósito específico de quebrar a capacidade da OPEP fixar preços, ao mudar o controle de preços da OPEP para a Nymex.

O plano funcionou. Hoje, o preço do barril de petróleo é grandemente determinado pelas ações dos operadores do mercado futuro, incluindo aqueles trabalhando pelas e para as Big Oil. As petrolíferas, junto com os maiores bancos americanos, a Enron e outros do gênero, fizeram lobby para remover a supervisão do governo e a regulação da maior parte dessas operações - de modo que esse mercado é um dos menos regulados do mundo.

Analistas estimam que cerca de metade do preço do barril deva-se exclusivamente às operações das comercializadoras de energia.

Ramona Ordoñez (jornalista)

Publicado originalmente: O Globo Online/AEPET.

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