Há muito tempo não ficava tão empolgado com uma coisa como estou com o blog da Petrobras. Não por causa da Petrobras em si, que é uma empresa enorme, poderosa e sabe se virar, mas por problematizar a difícil relação entre entrevistador e entrevistado.
O Sérgio e Pedro argumentam que o blog da Petrobras "quebrará os furos da imprensa" e eu, lá no Sérgio, perguntei:
Por que a Petrobras deveria se preocupar com isso? A Petrobras (ou qualquer outro entrevistado, o raciocinio é o mesmo) não deve literalmente nada ao veículo que a/o está entrevistando, muito menos garantir seus furos. Quem tem que se preocupar com seus furos é o veículo de mídia, o entrevistado não tem nada a ver com isso. Ao revelar as perguntas, pelo contrário, ele está sendo transparente com o público e se resguardando de eventual distorções das suas palavras.
Já os jornalões começaram a dizer que a Petrobras quebrou um sigilo inerente à sua comunicação e a estatal respondeu, com muita propriedade:
A relação entre a Petrobras e os veículos de comunicação que a interpelam é essencialmente pública. Neste contexto não há espaço para informação sigilosa, como o verbo “vazar” utilizado no título pressupõe. Tanto as respostas da Petrobras são públicas quanto as perguntas dos repórteres também o são, ou deveriam ser.
O Túlio, advogado que mais entende de internet no Brasil, escreveu sobre isso em seu blog, mas sua tirada de mestre ele colocou só em seu twitter:
Daqui a pouco vai ter jornalista dizendo que tem direitos autorais sobre as perguntas que faz e, pior, sobre as respostas...
A cobertura completa, cheia de links e historiando os argumentos e os contra-argumentos, está lá no blog do Idelber - cujo poder de síntese faz dele um jornalista cada vez melhor, especialmente ao cobrir... o fim da imprensa! Já o título do meu post vem de um curto e arguto comentário no Nova Corja.
(O texto continua abaixo da imagem.)
* * *
Update: Sobre a Confiança entre Imprensa e Petrobras
Em resposta a minha pergunta, escreveu o Sérgio:
Digo que os jornais procuram preservar sua apuração exclusiva, e consultam a fonte, o acusado, na pressuposição de que, ao abrir para ele as coisass que tem contra ele, ele não vai sair espalhando tudo. Se a Petrobras não assume esse compromisso, fica difícil checar com ela as ~informações conra ela que o jornal tem. E todo mundo sai perdendo. Inclusive a Petrobras, que só saberá das acusações após publicadas. Por isso digo que é uma esperteza burra.
Sérgio lamenta que a atitude da Petrobras pode quebrar uma certa relação de confiança ou um acordo tácito, que ela tem com a imprensa. Ele usa a palavra "compromisso".
Oras, pois é justamente isso que estou celebrando.
Como representante do público-(e)leitor, não confio nem na mídia e muito menos na assessoria de imprensa de qualquer empresa. Igualmente, não acho que um tem que confiar no outro. Pelo contrário, para a sociedade, é melhor que não confiem e tenhamos acesso ao discurso de ambos.
A Petrobras não tem nada que confiar na imprensa. A imprensa não tem nada que confiar na Petrobras. Não devem haver acordos tácitos ou relações sigilosas entre a mídia e a Petrobras. As relações entre eles devem ser públicas e transparentes.
Daí a celebração.
E, não, eu não acho que a imprensa é toda canalha, ou que ela tem que acabar, ou que a Petrobras é santa, etc, nada disso. Eu apenas quero poder ouvir todo mundo. Antes, eu só ouvia a imprensa. Agora, eu também ouço a Petrobras. Antes, pra saber da Petrobras, eu precisava ler a Folha ou o Globo. Hoje, posso ir direto à Petrobras.
Daí a celebração.
Fonte:blog Liberal, Libertário, Libertino.
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