domingo, 14 de junho de 2009

REFLEXÕES DE FIDEL - A inveja de Goebbels.

ONTEM, assisti o programa Mesa-Redonda. Nele, era analisado, entre outros temas, a operação Peter Pan, um dos atos de agressão moral mais nojentos perpetrados contra o nosso país. O tema do pátrio poder é extremamente sensível. Foi um golpe baixo e abominável. Num dos romances de Mikhail Sholokhov que li anos depois, é mencionada essa calúnia que já fora usada contra a Revolução de Outubro de 1917.

O artífice da operação contra Cuba foi monsenhor Walsh, um padre católico norte-americano que respondia ao bispo de Miami.

Decorria o ano de 1960 quando a operação começou. Como é sabido, a nossa Revolução não colocou nenhum obstáculo para as pessoas saírem do país. Devia ser a obra voluntária de um povo livre. A resposta imperialista, entre outras muitas agressões graves, foi a operação Peter Pan.

Quando Taladrid comentou sobre aquele fato, mencionou o nome de um professor de economia, Ángel Fernández Varela. Lembrei que, quando eu estudava no último ano do bacharelado no Colégio de Belém, um professor leigo nos dava aulas de uma das disciplinas, economia política. Não se tratava, é claro, de um curso de marxismo-leninismo, que foi o tema ideológico invocado 18 anos depois para nos expulsarem da OEA. Eram aulas simples e bastante elementares sobre economia política burguesa. Que outra coisa éramos os alunos brancos que ali estudávamos? O professor que as lecionava duas ou três vezes por semana era pontual e ele nunca deixou de comparecer às aulas.

Fiquei surpreso com o que assisti na Mesa-Redonda. Será por acaso aquele professor?, perguntava-me. Liguei para Taladrid à procura de informação. Verifiquei isso com ele, pois sabia que foi professor do Colégio de Belém. Luis Báez assegura igualmente que eu vi aquele professor nalgum lugar da Havana em 1959 e tinha criticado a sua atitude, mas não lembrava aquele pormenor.

Walsh foi condecorado postumamente há uns dias por sua “proeza” da operação Peter Pan. Tinha declarado há anos atrás que recebeu telefonemas para o início da operação e coordenou com a CIA.

No final de maio, Álvaro F. Fernández, filho de Fernández Varela, contou na revista digital Progreso Semanal que “… uns anos antes de sua morte, em Miami, meu pai nos reuniu na presença da minha mãe, da minha irmã María, do seu esposo e eu, nos disse que ele tinha sido uma das pessoas responsáveis pela redação da falsa Lei que provocou a histeria da 'eliminação do pátrio poder'. Por essa razão é que eu sei, sem dúvida, que a operação Peter Pan foi uma sinistra jogada de imoralidade projetada e sonhada pela CIA antes da invasão à Baía dos Porcos…”

Um agente da CIA enviou o falso projeto de Lei de Miami a Havana. O próprio Ángel Fernández Varela declarou à revista Contrapunto que ele tinha trabalhado para a CIA entre 1959 e 1968.

As 14 mil crianças envolvidas no drama seguiram o seu traumático caminho. Elas provinham fundamentalmente das camadas médias da população. Não eram filhos de latifundiários nem de grandes burgueses, não havia motivos para arrastá-las a esse drama. Na época, existia uma embaixada ianque, que concedia as permissões para entrar nos Estados Unidos. As que correspondiam às crianças de Peter Pan, as enviavam em pacotes que depois se preenchiam em Cuba com os nomes delas. Nenhuma criança precisava de ser salva. Ao longo de muitos anos, a Revolução permitiu a saída de ao redor de um milhão de pessoas que, na sua maioria, foi para os Estados Unidos, o país mais rico que estimula o roubo de cérebros e o espólio de pessoas instruídas e de força de trabalho qualificada.

Os Estados Unidos não estariam em condições de fazer isso com nenhum outro país da América Latina. Quem poderia favorecer a diabólica operação clandestina?

A professora associada de Ciências Políticas da Universidade DePaul, em Chicago, María de los Ángeles Torres, que também foi uma das vítimas da Peter Pan, embora não seja revolucionária, exigiu da CIA que revelasse aproximadamente 1.500 documentos sobre a operação Peter Pan. A CIA se recusa a desclassificá-los sob o pretexto da segurança nacional. Cheira tão ruim o assunto que não querem torná-lo público.

Apesar dessa negativa, a professora Torres pediu e conseguiu que a Biblioteca Presidencial Lyndon B. Johnson lhe desse acesso a um documento do governo dos Estados Unidos, que rejeitava uma proposta do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, mediante a qual a ONU pagaria a viagem dos pais das crianças que tinham sido enviadas para os Estados Unidos. Esse material foi publicado na imprensa desse país há mais de 15 anos.

Peter Pan foi uma manobra de publicidade cínica, que teria sido invejada pelo próprio Goebbels, o ministro de propaganda nazista.
Fonte:Granma

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