sexta-feira, 5 de junho de 2009

SERRA RECEBE UM "ABRAÇO MORTAL".

por Luiz Carlos Azenha

José Serra ainda é o favorito para vencer as eleições em 2010. A não ser por dois pequenos detalhes: um, o eleitor. O segundo, a conjuntura.

Conjuntura? Quem é esse cara?

A conjuntura mostra que o brasileiro está satisfeito com o Brasil. As coisas não estão às mil maravilhas, mas estão melhores que antes. E o Brasil, francamente, é "o cara" na conjuntura política e econômica internacional.

O mundo caminha à esquerda. Não é um fenômeno apenas brasileiro. Nem é a esquerda tradicional, aquela de muito discurso e pouco resultado. É a esquerda "de resultados".

Quem aqui acredita que o Hugo Chávez e o Evo Morales são populares em seus respectivos países apenas pelo discurso fortemente ideológico? Ora, gente, deixem de bobagem. Ambos prometeram entregar o almoço e entregaram. Talvez não tão bom quanto esperavam os comensais. Mas o rango saiu. Talvez o prato tenha vindo com "menas" carne que o prometido, com abobrinha no lugar do ovo. Mas o PF foi entregue.

E, da mesma forma, Lula entregou o almoço no Brasil. O almoço veio no Bolsa Família. Nos aumentos do salário mínimo. Na criação de escolas técnicas. Nos empregos criados nos estaleiros do Rio de Janeiro. No ProUni. No programa habitacional Minha Casa, Minha Vida -- que é um sucesso extraordinário de público. Nas obras do tão criticado PAC. Na mera existência melhorada do SUS, o maior programa de saúde do mundo.

Quando o muro de Berlim caiu, a direita imaginou que poderia turbinar o capitalismo às custas do chicote no lombo da malta. Nasceu o neoliberalismo. Da reação a ele, na América Latina, nasceu o "socialismo do século 21", ou como você quiser chamar esse modelo que mistura iniciativa estatal com iniciativa privada, democracia "burguesa" turbinada com plebiscitos e referendos, as tradicionais liberdades democráticas mas, acima de tudo, uma mesa de almoço mais ampla, com mais gente, graças a políticas públicas de inclusão social.

Eu conheço muita gente que acha, sinceramente, que o José Serra é melhor candidato que a Dilma Rousseff. Eu conheço gente que, sinceramente, acredita que a FIESP apóia a Dilma, não o Serra. Eu conheço gente que, sinceramente, acredita que Serra está à esquerda de Dilma. O problema, na verdade, é que quem "faz companhia" a Serra pretende cortar impostos e, ao fazer isso, terá que chutar alguns convidados para fora da mesa de almoço.

Querem um exemplo? O Instituto Millenium, que diz incorporar todos os objetivos do "liberalismo" tradicional, promove o Dia da Liberdade de Impostos.



Quem são os patrões do Instituto? Armínio Fraga, Roberto Civita e Roberto Irineu Marinho, entre outros.

Quem são os funcionários do Instituto? Eurípedes Alcântara, editor da revista Veja, entre outros.

Quem são os "escribas" do Instituto? Demétrio Magnoli, Carlos Alberto Sardenberg e Alexandre Barros, aquele que escreveu que a Dilma deve desistir de sua candidatura.

Notem, no site do Instituto, como a GloboNews já se articula com o comentarista Alexandre Barros para tratar da CPI da Petrobras. É uma tremenda armação, que mistura a campanha pró-Serra com os interesses dos Marinho, dos Civita e de seus patrocinadores.

O Millenium é o que encontrei de mais próximo, na conjuntura atual, ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), que na era pré-golpe de 1964, com financiamento de empresários brasileiros e norte-americanos, acabaram promovendo a agitação intelectual que justificou a quartelada.

É o que de mais próximo existe no Brasil do American Enterprise Institute, o instituto de Washington que, com financiamento dos graúdos, promoveu as políticas propostas pelo neocons nos Estados Unidos, especialmente o irresponsável corte de impostos dos mais ricos patrocinado pelo governo Bush -- mas também a invasão do Iraque.



Veja aqui quem são os "bolsistas" e os financiadores do American Enterprise Institute.

No Brasil, é a turma do Instituto Millenium que "cerca" José Serra.

Se ele insistir com essa turma, é mais fácil o Vesgo do Pânico se eleger (será que alguem já pensou nisso?).

Serra pode até pretender se apresentar como "de esquerda", mas hoje ele é o candidato "dos" e "para" os neocons brasileiros, aqueles que querem cortar impostos -- isto é, extinguir os programas sociais --, criminalizar os movimentos sociais -- isto é, prender o MST -- e "promover a democracia" para poucos -- isto é, invadir o Paraguai, a Bolívia e a Venezuela.

Serra é o candidato dos que querem expulsar gente da mesa do almoço. É o candidato dos brancos de olhos azuis. É o candidato do Higienópolis e do Leblon. É o candidato do Gilmar Mendes. Do Ali Kamel e do Reinaldo Azevedo. É o candidato da direita e não tem como escapar disso.

PS: Até pequenos empresários, que em tese seriam eleitores naturais de José Serra, admitem hoje que quanto mais gente come, estuda e trabalha no Brasil, mais gente consome e participa da sociedade; ou seja, percebem que as políticas públicas de inclusão social melhoram todo o Brasil e também o Brasil habitado por eles.

PS2: Serra ajudou a implantar no Brasil nosso arremedo de "democracia de massas". É inacreditável que tente se eleger aliado a gente que é contra ela.
Fonte:blog Vi o mundo.

Nenhum comentário: