Leonardo Sakamoto.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está promovendo o café como gerador de empregos, de desenvolvimento, de divisas em um comercial de TV. Concordo que parte significativa do setor seja responsável por isso. Mas, vale lembrar, nem tudo são flores.
Apesar de não ser um dos primeiros colocados no ranking do uso do trabalho escravo no campo (viva a pecuária, o carvão vegetal e a cana-de-açúcar!), há incidência desse tipo de crime no setor. Por exemplo, na “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego, que relaciona os empregadores flagrados com a mão no açoite, há quatro produtores de café:
- Ernesto Dias Filho, Roda Velha Industrial, São Desidério (BA) - 745 libertados
- Eustáquio da Silveira Vargas, Fazenda Laranjeiras I, São Desidério (BA) - 39 libertados
- Fernando César Zanotelli, Sítio Zonetelli, Pancas (ES) - 22 libertados
- Reginaldo Freire Leite, Fazenda Boa Vista, Claraval(MG) - 24 libertados
Rastreamos o comportamento comerciais desse pessoal acima e posso afirmar que eles já fecharam negócios com traders que exportam para Estados Unidos, Canadá, China, Bélgica e Alemanha. Ou seja, o fruto do chicote vai longe… Aliás, é na Alemanha que ocorrerá, entre 26 e 28 de junho, a oitava Conference & Exhibition SCAE, reunindo os principiais países produtores mundiais do grão. O Brasil, que vendeu US$ 2,6 bi de café para a União Européia em 2008, terá um estande apoiado pelo governo federal.
Um exemplo de caso de recente de libertação na lavoura de café: um agricultor de 55 anos permaneceu duas décadas de sua vida em condições análogas à escravidão. Ele trabalhava sem descanso semanal, sem receber salários, em troca de comida e bebida alcoólica. Outros cinco trabalhadores viviam na mesma situação - alguns há quatro, cinco e sete anos. Eles foram libertados da Fazenda Jerusalém, no município de Alegre (ES), pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Espírito Santo (SRTE/ES), em ação conjunta com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal (PF) em março deste ano. O nome do proprietário da fazenda é Peres Vieira Gouveia.
O grupo de empregados era composto por negros, uma pessoa com deficiência visual parcial e um homossexual - grupos que já sofrem preconceitos e discriminação na sociedade. “Visivelmente são pessoas excluídas da sociedade. Ali encontraram um espaço de exploração perversa, mas onde podiam, ao menos, comer”, realatou à Repórter Brasil na época Afonso Celso Passos Gonçalves, auditor fiscal do trabalho que coordenou a ação.
Quem exige saber se o produto que compra foi feito obedecendo aos direitos fundamentais, sejam os compradores traders, importadores e consumidores, ajuda a limar do mercado quem opera na ilegalidade. O que é ótimo para a imagem dos produtos brasileiros e melhor ainda para a qualidade de vida de nossos trabalhaores.
Fonte:Blog do Sakamoto.
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