Apenas 3% detêm metade dos recursos.
É o que mostra estudo inédito realizado pelo BNDES, a pedido da Caixa Econômica Federal. O levantamento será usado como trunfo nas discussões pela abertura da possibilidade de trabalhadores comprarem ações da Petrobras com recursos do FGTS. Quase 3% dos 74,2 milhões de participantes do Fundo são detentores de nada menos que 47,3% dos recursos. Estes trabalhadores têm rendimentos mensais acima de 30 salários mínimos. Em boa medida, foram estas pessoas que investiram em ações da Petrobras, em 2000, e da Vale, em 2002, segundo os dados da Caixa.
A reportagem é de Vivian Oswald e Geralda Doca e publicada pelo jornal O Globo, 27-09-2009.
— Isso significa que abrir a possibilidade de mais este investimento e todas essas pessoas usá-la pode criar problemas para o fundo. Pode prejudicar seu equilíbrio financeiro e colocar em risco a maior parte dos trabalhadores, que recebem salários menores e enfrentam alta rotatividade no mercado — disse Joaquim Lima, superintendente nacional do FGTS da Caixa, acrescentando que os saques têm impacto direto nas contas do fundo.
A grande maioria dos aplicadores, 84,6%, detém apenas 17,6% do saldo das contas. Estes trabalhadores ganham de um a seis salários mínimos por mês e costumam mudar de empregos com frequência. Cerca de 42% destes trabalhadores não têm ensino fundamental completo e, por não terem conhecimento do mercado acionário, preferem rentabilidade garantida de Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano.
A média de duração do dinheiro nas contas dessa categoria é de nove meses, de acordo com a instituição. Isso significa que costumam sacar a totalidade dos recursos com mais frequência, o que quer dizer que o fundo precisa ter sempre dinheiro disponível na conta.
Mais de 800 mil investiram em fundo de ações
Segundo o levantamento, quem usou o dinheiro do FGTS em ações no ano 2000 foram trabalhadores com nível de escolaridade alto, maiores salários, estabilidade no emprego e, consequentemente, maior saldo na conta vinculada e sem problemas de moradia. Ao todo, 248 mil correntistas do fundo investiram R$ 1,6 bilhão em ações da Petrobras. Outros 580 mil aplicaram R$ 1 bilhão na Vale.
O FGTS passou por um longo e difícil processo de reestruturação nos últimos 19 anos, saindo de um patrimônio líquido inexistente e insolvência no início da década de 90 para os atuais R$ 30,5 bilhões em junho de 2009. No governo Fernando Henrique, serviu de financiador de parte do programa de desestatização e tem sido usado em programas sociais, com direito a subsídios, na Era Lula.
Segundo um dos integrantes do Conselho Curador, a diferença do uso do fundo está no fato de o atual governo ter recebido um FGTS forte, cheio de dinheiro, em um momento em que o país tinha boa situação econômica, com maior nível de empregos formais, o que significa arrecadação melhor.
A resistência do governo Lula em permitir a negociação de ações da Petrobras do pré-sal tem sido fonte de críticas. A Força Sindical já apresentou emenda ao projeto de capitalização da Petrobras sugerindo que o trabalhador possa usar até 15% dos recursos da conta vinculada.
O presidente da Comissão Especial que analisa a proposta, deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), garantiu que o clima na comissão é favorável a sua aprovação da iniciativa pelo menos para quem já investiu no passado.
O relatório deverá ser entregue em 20 de outubro.
O vice-presidente de Fundos de governo e Loterias da Caixa, Wellington Moreira Franco, chegou a defender o uso dos recursos do fundo em uma nova rodada de compra de ações, mas, agora, está reticente.
Fonte:IHU
Nenhum comentário:
Postar um comentário