Manuel Zelaya: "A embaixada brasileira foi escolhida pela proximidade com o presidente Lula"
Victor Saavedra
Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirma que o governo golpista pretende invadir a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está abrigado desde segunda-feira, 21, com um mandado judicial.
- ...Sempre estão pretendendo entrar na embaixada com um mandado judicial, estão buscando um juiz que assine essa ordem. Um mandado para entrar na embaixada, sem se importar em violar as convenções internacionais...
Para o presidente constitucional, as respostas do governo golpista de Roberto Micheletti são de "repressão e violência". Ele admite que vem realizando encontros políticos na embaixada. "Isso é parte da nossa função, chamar ao diálogo todo o setor", declara. Zelaya afirma que escolheu a Embaixada brasileira para refugiar-se graças à "proximidade com o presidente Lula".
- É um amigo com quem posso conversar... Segundo porque é um país democrático, com muita força no continente, a liderança do presidente Lula é muito conhecida, e, além disso, por que... A pergunta é: por que não o Brasil?
Manuel Zelaya desacredita em eleições livres para novembro, mas não revela qual será sua atitude se não for reconduzido ao poder antes do pleito.
- A política não é uma peça de teatro.
Confira a entrevista exclusiva, por telefone:
Terra Magazine - Presidente, como está a situação na embaixada?
Manuel Zelaya - No momento, difícil, porque sempre estão pretendendo entrar na Embaixada com um mandado judicial, estão buscando um juiz que assine essa ordem. Um mandado para entrar na embaixada, sem se importar em violar os convênios internacionais, e muito menos se importarem com a vida das pessoas que estão aqui.
O senhor estabeleceu algum contato com o governo golpista de Honduras?
Nós estamos tentando, mas não são positivas as respostas, elas são de repressão e violência.
Sua presença na embaixada do Brasil ampliou a tensão em Honduras. Teme que haja desdobramentos mais violentos?
A violência começou dia 28 de junho, quando se violentou o processo democrático do país, não nesse momento. A minha presença chama a um diálogo, mas logicamente o regime golpista está respondendo com violência.
Por que a escolha da embaixada brasileira? Houve alguma tentativa de ir para a embaixada dos Estados Unidos?
Não, de maneira alguma, a embaixada brasileira foi escolhida por mim, pessoalmente, primeiramente pela proximidade que tenho com o presidente Lula, é um amigo com quem posso conversar. Segundo porque é um país democrático, com muita força no continente, a liderança do presidente Lula é muito conhecida, e, além disso, por que... A pergunta é: por que não Brasil? Por que não escolhe-lo? Não foi nada planejado, mas foi algo que surgiu dessas ideias que estou te falando.
Como o senhor articulou o retorno a Honduras?
São vários mecanismos, desde a Nicarágua, El Salvador e a Guatemala, vários métodos de transporte, vários sistemas de transporte, que me levaram a Honduras pacificamente.
O Brasil negou que a embaixada em Tegucigalpa estivesse sendo usada para fins políticos, mas Terra Magazine teve informações de que o senhor se reuniu com a frente da resistência nesta quarta-feira (23) na embaixada. O que diz sobre isso?
Eu chamei a um diálogo com toda a sociedade, as lideranças da frente são líderes obreiros de sindicatos, há empresários também por aí, e isso é parte da nossa função, chamar ao diálogo com todo o setor. Amanhã eu me reúno com políticos e com todos os líderes.
Se não houver sua recondução ao poder, nos próximos dias, o que pretende fazer? Permanecer na embaixada até as eleições?
(risos) A política não é uma peça de teatro, onde se tem um roteiro. É uma negociação permanente e é a ação do possível e do impossível, não podemos prever as coisas.
Então, o senhor não tem previsão até quando fica na embaixada?
Não podemos confirmar nada porque, do mesmo jeito que o problema pode se resolver, pode acontecer o contrário.
Honduras tem condições de realizar eleições livres em novembro ou o senhor acredita que essas eleições estão já estão comprometidas pelos fatos ocorridos dia 28 (o golpe)?
Honduras tem todas as possibilidades de ter eleições livres. No entanto, para isso é necessária a restituição do governo que o povo elegeu, já que é a única garantia para consegui-lo.
E que essa volta sua ao governo seja o antes possível...
Quanto mais cedo, mais transparentes vão ser a eleições, mais honestas e mais livres.
O secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, afirmou que não há condições para a realização de eleições sob o governo golpista e retirou todo e qualquer apoio que pudesse ter o governo golpista para essas eleições. O que o senhor pode dizer, ou refletir, sobre esse tema?
Ele tem razão sobre o que está dizendo.
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