A população não quer mais quatro anos de PT sem Luiz Inácio Lula da Silva, avalia o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Para ele, a alta popularidade do presidente República não está sendo transferida para a ministra Dilma Rousseff em grande parte devido ao desgaste do PT.
A entrevista é de Heloisa Magalhães e publicada pelo jornal Valor, 23-09-2009.
Ao comentar a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem, Montenegro voltou a afirmar que a ministra não tem chance. Para ele, o eleitor cada vez mais vai ficar com o sentimento de que Dilma vencendo serão "quatro anos com as coisas ruins do PT e sem as coisas boas de Lula".
Montenegro diz que, nas últimas eleições, quem estava à frente nessa altura da campanha, acabou levando.
Eis a entrevista.
Não é cedo para tanta certeza de que Dilma não se elege?
Lula está tentando fabricar alguém. O PT sofreu desgaste com mensalão e aloprados. O partido perdeu a identidade, a ética, e o charme. O PT mobilizava formuladores de opinião, atores, artistas e estudantes. Tudo isso foi para o saco, acabou. Nos últimos dez anos, o PT só perdeu gente. Erundina, Plínio de Arruda Sampaio, Heloísa Helena, Luciana Genro, Marina, [Fernando] Gabeira. Só se vê gente saindo, ninguém entrando. Outros foram cassados ou se esconderam como [Luiz] Gushiken, [Antonio] Palocci, [José] Genoino, João Paulo [Cunha], José Dirceu. E os que ficaram perderam expressão, como [Aloizio] Mercadante e [Eduardo] Suplicy. O partido não tem liderança e o Lula resolveu inventar uma pessoa. Acho que o Brasil está diferente. É difícil eleger um poste, independentemente dele [Lula] estar muito bem avaliado. Principalmente sendo uma pessoa que nunca participou de eleição que não tem voto, carisma ou simpatia.
Mas diante do desgaste do PT será que Dilma não seria favorecida exatamente por não ter tido cargo eletivo no PT?
O candidato precisa ter currículo, história. É a primeira vez que Lula não será candidato. Muitas pessoas de baixa renda que melhoraram de vida podem até votar no candidato de Lula por gratidão. Por isso mesmo Dilma tem de 13% a 15% das intenções de voto. Sem Lula, teria 1%. Qualquer um que Lula apoiasse teria 13% a 14% [das intenções de voto] pois é o que pode transferir. A rejeição a Dilma ter chegado a 40% significa que ela anda para trás. Possivelmente, foi o episódio da Receita [Federal, quando a secretária Lina Vieira declarou que ouviu da ministra pedido para apressar investigação em torno da família Sarney].
O senhor acha que uma pesquisa um ano antes das eleições retrata o quadro para daqui a 12 meses?
Por acaso nas últimas quatro eleições presidenciais quem estava na frente um ano antes, ganhou. Isso aconteceu na segunda eleição de Fernando Henrique Cardoso e nas duas vezes em que Lula venceu.
Mas na de Fernando Collor foi diferente.
Collor não conta pois foi a primeira eleição presidencial após a ditadura. E ainda: eram 12 candidatos numa eleição. A primeira eleição de FHC também foi diferente pois foi muito influenciada pelo Real. Lula estava na frente, veio o Real e FHC ganhou no primeiro turno. Depois dessa quem estava na frente [um ano antes nas pesquisas] venceu. FHC em 1997, Lula em 2001 e Lula em 2005 exatamente neste período. Não é uma regra, mas hoje é difícil mudar. É preciso fato muito forte para mudar. Dilma não é um fato forte.
E os 80% de popularidade de Lula? Não contam?
A pesquisa mostra que Dilma está descolada do Lula no sentido negativo. Ele manteve quase intacta a aprovação e Dilma caiu quase cinco pontos percentuais. Se ela estivesse totalmente atrelada a Lula, também estaria na onda ascendente. Ele ficou com uma aprovação exuberante e ela caiu. A questão é se a população quer mais quatro anos de PT sem Lula. Depois do mensalão, teve o petismo e o lulismo. Lula se descolou do PT e ficou acima de tudo. Lula foi uma das coisas boas que restaram do PT. E ele agora vai embora. Quem quer quatro anos de PT sem Lula? Na hora de mudar, o PT está ficando com as coisas ruins e o Lula com as boas.
O senhor não acha que a pesquisa espontânea, a essa altura, é a que melhor reflete o quadro?
Espontânea funciona como quase certeza de voto, mais perto das eleições, quando o eleitor já sabe quem são os candidatos, o programa de governo, o jingle. Quando se pergunta em quem [o eleitor] vai votar sem citar nome e quando já é difícil mudar o nome de quem vai votar.
Com a alta aprovação a Lula, qual seria a mensagem que a oposição teria a apresentar?
As pessoas já começaram a entender que não é só Lula que faz o governo. O fato da Dilma estar caindo mostra isso. A maioria da classe média já entendeu que PT e PSDB têm propostas [de governo]parecidas. Lula avançou na área social ou talvez outro avance mais na infraestrutura mas as pessoas já perceberam que o ritmo das coisas não muda. O Brasil estava fadado a crescer e a questão é quem vai atrapalhar. Bandeira do PT tem que ser de continuidade e a do PSDB de manutenção da política econômica que foi de estabilidade e talvez falar de reformas política e tributária. Ninguém vai brigar contra ninguém. O PSDB não vai contra o Bolsa Família. A classe média aumentou e muitos saíram da pobreza mas os ganhos não vão para o PT.
Fonte:IHU
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