terça-feira, 22 de setembro de 2009

MÍDIA - Argentina na mira da SIP.

Mário Augusto Jakobskind

O nome dela é Cristina. Agora na Argentina falta apenas o Senado aprovar a nova legislação que regulamenta a radiodifusão audiovisual. Em isso acontecendo, os grandes grupos midiáticos, como o Clarin, deverão se desfazer de alguns dos muitos espaços que dispõem formando monopólio.

Os movimentos sociais, que há anos se mobilizam pela democratização dos meios de comunicação aplaudiram a aprovação da legislação pela Câmara dos Deputados e esperam que a próxima legislatura parlamentar, que se inicia no ano que vem, não decida recuar. É que os setores conservadores, tendo a frente o grupo Clarin vão tentar de tudo para evitar que a nova legislação midiática depois de aprovada pelo Senado seja revogada.

A Presidenta Cristina Kirchner passou a enfrentar duras críticas da oposição e dos meios de comunicação de toda a América Latina. Alguns setores, que sempre fizeram de tudo, inclusive aceitando passivamente a legislação midiática atual que data do início dos anos 80, ou seja, ainda sob o impacto de uma cruel ditadura militar estão colocando as garras de fora e contam com o apoio do empresariado do setor espalhado pela América Latina.

Nesse sentido, a Sociedade Interamericana de Imprensa, a SIP, se reuniu em Caracas, na semana passada, para chamar a atenção sobre supostos “perigos” à liberdade de imprensa. Mais uma vez a entidade misturou alhos com bugalhos, ou seja, liberdade de imprensa com de empresa. É a tônica do setor, representado no Brasil, sobretudo pela Associação Nacional de Jornais, que esteve presente na última reunião da SIP, e a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), a mesma que decidiu abandonar a Conferência Nacional de Comunicação, que se reunirá em Brasília nos dias 1, 2 e 3 de dezembro, porque se recusa a discutir questões relacionadas com a mídia, como, por exemplo, a renovação das concessões de canais de televisão.

Por sinal, agora mesmo a Globo e a Record, que brigam, mas estão juntas na Abert, tiveram seus canais renovados sem nenhum tipo de discussão, como se elas fossem proprietárias dos seus respectivos canais e não o Estado brasileiro. Se alguém ou alguma entidade coloca em questão o fato de a renovação ter sido automática, imediatamente os barões da mídia divulgarão notas oficiais denunciando o “cerco” à liberdade de imprensa. E a SIP, tal qual um papagaio de pirata, divulgará o protesto com o mesmo teor.

Curioso, a mesma SIP que se reúne em Caracas para protestar contra o que consideram restrições à liberdade de imprensa na Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, nos anos de chumbo que viveu a América Latina não protestava com o mesmo vigor que agora. Mostra a história que muitos grupos hoje defensores da “liberdade de imprensa” compactuaram com as suas respectivas ditaduras. São vários os órgãos que assim procederam, desde as Organizações Globo aqui do Brasil, até o El Mercurio, do Chile, que além de apoiarem a ditadura de Augusto Pinochet, receberam polpudas verbas da CIA, Fundação Ford, etc para defenderem os “valores democráticos”.

É o caso também de perguntar como o grupo Clarin e o jornal La Nacion se comportaram durante a ditadura que vigorou a partir de março de 1976 até a eleição de Raul Alfonsin, em outubro de 1983. De um modo geral silenciaram sobre as graves violações dos direitos humanos cometidas por assassinos do porte de um Rafael Videla e outros do gênero.

Vale registrar também que naqueles anos terríveis, além de torturas e assassinatos de presos políticos, os usurpadores do poder censuravam tudo o que viam pela frente em matéria de criação. Na área musical, por exemplo, as proibições não pouparam artistas consagrados, não só argentinos como de outros países. Na relação dos censurados encontravam-se, entre outros, algumas composições do rei Roberto Carlos, junto com Alfredo Zitarrosa, Victor Jará, Donna Summer, Queen e Rod Stewart.

Os argentinos e o mundo ficaram sabendo oficialmente de tudo isso através de um documento recentemente tornado público, mas que a mídia brasileira pouco se interessou em divulgar. A censura das canções ficava a cargo do Comitê Federal de Radiodifusão, criado por lei pelo governo Videla sob o número 22.285. Os argentinos não podiam ouvir nas rádios, televisões ou comprar nas lojas composições como “Se busca”, de Roberto Carlos, “Hasta la victoria”, do uruguaio Aníbal Sampaio, “Chamarrita del milico”, de Zitarrosa, Tanti aguri, de Bom Compagni e Pace, "Crees que soy sexy?", de Rod Stewart e muitas outras.

Onde andava a SIP naqueles anos de chumbo? Como sempre de braços dados com O Globo, El Mercurio, Clarin, La Nacion, os mesmos de sempre.

Mas, em compensação, nos dias de hoje, mais ativos do que nunca protestam contra Hugo Chávez, contra Evo Morales, contra Rafael Correa ou Daniel Ortega, mas nada falam contra as perseguições e atentados contra a liberdade de imprensa que estão sendo cometidas pelos golpistas usurpadores do poder em Honduras que derrubaram o presidente constitucional Manuel Zelaya.

A propósito da República Bolivariana da Venezuela, em meio a protestos raivosos da direita latino-americana, o processo de transformações que passa o país segue a todo vapor. É o caso da Universidade Bolivariana, criada pelo governo Chávez, onde estudam 275 mil alunos. Naquele estabelecimento de ensino superior, segundo informou o reitor Luiz Damiani Bustillos, que participou nestes dias do IV Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais na América Latina, promovido pela Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), realizado na cidade de Cascavel, o berço do MST, os estudantes são formados não de acordo com os valores do mercado, mas sim a favor da transformação e do socialismo do século XXI.

E isso, claro, provoca revolta e ódio dos barões da mídia agrupados na SIP.
Fonte:Direto da Redação.

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