quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NO BRASIL, NÃO FALTAM PERSONAGENS.

A constatação é de um dos principais biográfos do país, o escritor e jornalista Fernando Morais. Autor de vasta obra iniciada em 1976, quando sob a ditadura militar publicou "A Ilha", um dos maiores sucessos editoriais do país, Fernando também trouxe ao grande público a trajetória de personagens como Olga Benário e Assis Chateubriand, entre outros.

Seu último trabalho, "O Mago", sobre a vida do escritor Paulo Coelho ocupa atualmente a lista dos mais vendidos. Agora ele escreve um novo livro, desta vez sobre a saga de cinco patriotas cubanos presos e condenados nos EUA

Nesta entrevista, além de falar sobre seu trabalho como escritor e jornalista - Fernando explica como se dá a escolha de seus personagens e adianta que o método muda segundo o biografado -, conta também sobre sua incursão no mundo da política a partir de 1978, quando elegeu-se para o primeiro de dois mandatos de deputado estadual pelo PMDB.

Do semi-anônimato a 5º deputado estadual mais votado do país, Fernando passou por dois mandatos até que em 1986, candidato a Constituinte, foi derrotado - junto a outros parlamentares da esquerda - pelo atual governador [José] Serra. "Ele impediu que pelo menos dez candidatos de esquerda de São Paulo fossem para a Constituinte".

Secretário de Cultura durante o governo Quércia em São Paulo e da Educação, na gestão Fleury, Fernando também conta como em 2002, candidato ao governo de São Paulo, pelo PMDB, largou tudo depois que foi avisado que ele (o candidato a governador) e o outro candidato ao Senado pelo partido seriam cortados no horário de propaganda na TV para que só o ex-governador Orestes Quércia aparecesse.

[Zé Dirceu] O que é necessário para ser um biógrafo? Você se considera mais um escritor ou um jornalista?

[Fernando Morais] O meu trabalho de biógrafo não tem absolutamente nenhuma diferença do que eu fazia quando era jornalista no cotidiano. Nenhuma. Quais as vantagens em relação ao trabalho no jornal ou aos tempos da Veja? Primeiro, eu sou o pauteiro, escolho o meu tema; segundo, sou o editor, portanto sai o que quero e não o que o dono quer; terceiro, tenho absoluta liberdade de espaço – posso ir de 100 a 800 páginas - e de tempo, posso entregar um livro para o editor em quatro meses ou em quatro anos. No caso da biografia do Paulo Coelho, por exemplo, foram quatro anos e mais de 400 horas de gravação; 110 entrevistas, além da que fiz com ele.

O meu trabalho é um trabalho jornalístico. Considero a qualidade dos meus livros superior ao trabalho que fazia na imprensa porque tenho tempo, reescrevo dez a vinte vezes cada parágrafo. Cada vez que releio um texto na tela do computador, eu melhoro. Agora, todos os meus livros poderiam ser publicados num jornal ou numa revista.

“O Brasil é ótimo, falta gente para contar isso”

[Zé Dirceu] E os personagens, Fernando. Como se dá esse processo de escolha e de pesquisa?

[Fernando Morais] Num país com uma histórica riquíssima como a do Brasil, não falta personagem. O Darcy Ribeiro (antropólogo, ex-senador do PDT-RJ) tem uma frase ótima que todos os escritores deveriam colocar na tela dos seus computadores: “o Brasil é ótimo, o que falta é gente para contar isso”. Gosto muito do período que vai da Proclamação da República, passa pela Revolução de 30 e chega até a deposição de Getúlio Vargas em 1945. Você tem personagens fascinantes como Pinheiro Machado, e como o general Setembrino de Carvalho, conhecido como Mata Cachorro, escolhido para reprimir todos os movimentos sociais do Brasil. Gosto de Canudos à Coluna Prestes, passando pela Guerra do Contestado (Santa Catarina). Personagens e fatos não faltam.

Se não fosse esse livro que estou escrevendo [a respeito dos cinco patriotas cubanos] faria um sobre a República de Princesa. Veja só, uma cidade no sertão da Paraíba, na fronteira com o Rio Grande do Norte, decretou sua independência em fevereiro de 1930. Fez Constituição, hino e dinheiro próprios. A República de Princesa durou oito meses porque veio a Revolução de 30 e passou por cima da cabeça deles. Imagine se não fosse a Revolução de 30! Eram dois mil jagunços armados liderados pelo Zé Pereira - que deu até a música de carnaval: “viva o Zé Pereira, viva o Zé Pereira que a ninguém faz mal...”. Depois ele foi homenageado pelo Luiz Gonzaga num xote. Na realidade, eu estava pesquisando esse tema quando surgiu a oportunidade de escrever sobre os cubanos.

Portanto, a escolha de um personagem não é um negócio tão difícil no Brasil. Nos Estados Unidos talvez seja. Você entra numa livraria, na parte de biografias, só da Jacqueline Onassis tem 23 biografias diferentes. Imagine do marido, do Kennedy, que foi presidente, deve ter umas 200. Num país como os EUA deve ser difícil a escolha dos personagens, mas num país como o nosso, eles estão todos por aí.

[Zé Dirceu] E quanto a apuração das fontes, as entrevistas, o seu trabalho de pesquisa?

[Fernando Morais] A apuração varia muito, principalmente se o biografado está vivo ou não. O Paulo foi a primeira experiência de escrever sobre uma pessoa viva, o que não é bom desse ponto de vista. O livro está vendendo no mundo inteiro, 1º lugar na Hungria, na República Tcheca, nos EUA. Passei nas livrarias do aeroporto de Miami e “O Mago” estava lá. Mas é muito difícil você fazer a biografia de um sujeito vivo exatamente pelo fato de que ele está vivo. Como dizia o Prestes aos 90 anos, quando eu tentava biografá-lo: “ainda posso errar muito nessa vida”.

O método, primeiro, é pegar as testemunhas mais velhas, porque cada dia que passa morre um. Para escrever “Olga”, eu fui para a Alemanha Oriental pegar o pessoal comunista que tinha sido companheiro dela e todos tinham mais de 90 anos. Então, você entrevista os personagens mais velhos, e vai atrás de fontes documentais onde tiver - museus, arquivos, cartórios etc. Aí, com todo esse material em mãos, começa a escrever. E vale a máxima: Washington Luis dizia que governar é abrir estrada; já Machado de Assis dizia que escrever é cortar palavra. Eu estou mais para o Machado de Assis.

O curioso é que dessa vez, com o livro sobre os cubanos, depois de 30 anos como autor, estou fazendo uma nova experiência: pesquisando e escrevendo ao mesmo tempo. Passei três semanas em Havana, e três em Miami, nesta, no meio da extrema direita. Voltei e já estou escrevendo. Tenho mais duas viagens para fazer, uma para Miami, outra para Havana e vou visitar duas prisões de segurança máxima nos EUA (onde estão presos os cubanos).

Muda a personagem, muda a metodologia

[Zé Dirceu] Você tem contato com todos os cubanos presos?

[Fernando Morais] Já conversei com três (dos cinco) deles por telefone e estou entrevistando um pela internet. Tenho falado muito com eles. O Gerardo Hernández, inclusive, condenado a duas prisões perpétuas, na primeira vez que conversei por telefone, falei: “E aí doutor? Estou te esperando com um mojito no Malecon (Havana)”. E ele respondeu: “me espera no Rio de Janeiro com uma caipirinha”. O cara com duas perpétuas...

Então estou agora, pela primeira vez, tendo essa experiência de escrever e pesquisar ao mesmo tempo. Isso significa que terei que mexer mais ainda nas coisas já escritas, porque sempre entra informação nova, fulana diz “aquela tarde, não foi aquele dia, mas três meses depois”. Isso desmonta tudo o que você fez. Na realidade, não tenho uma metodologia de trabalho, nem poderia dar uma aula aqui de como fazer, mesmo porque o processo muda de personagem para personagem. Vou fazer uma biografia sua, por exemplo... É completamente diferente de fazer a biografia do Paulo Coelho ou do marechal Montenegro [Casimiro Montenegro Filho]. Muda a personagem, muda a metodologia.

[Zé Dirceu] Qual a diferença no trabalho entre retratar um país, como você faz em seu livro “A Ilha” (Cuba), ou uma pessoa...

[Fernando Morais] O livro "A Ilha" [publicado em 1976] mudou a minha vida. Não era para ser um livro, mas uma série de reportagens publicadas na (extinta) revista Visão. O dono (Henry Macksoud) não concordou e em seguida mandou o diretor que era o Roberto Muylaert me demitir. Um cara com enorme capacidade. Eu saí, levei a reportagem comigo e aí, matam o Vlado [Vladimir Herzog], com quem eu trabalhava na Visão. Eu havia trabalhado com ele na TV Cultura, em 1970, ele era chefe de reportagem à tarde e eu de manhã. Quando fui para a Visão, ele era o editor de cultura e fui ser repórter primeiro de política, depois de cultura.

O Vlado quando voltou para a TV Cultura (quando foi assassinado no DOI-CODI) indicou-me para o lugar dele, para ser editor de cultura da Visão. Com sua morte, percebi que não poderia publicar minha reportagem (sobre a Ilha), mas aí, havia outro problema. Os órgãos de segurança sabiam que eu tinha ido à Cuba, mas não sabiam o que eu tinha feito por lá. Imaginavam que minha viagem era para ter contato com vocês (que estavam exilados em Havana) – para levar e trazer coisas. Então, em minha própria defesa, precisei publicar o livro, mesmo sob a ditadura. E o Vlado tinha sido morto. Enchemos três kombis, levamos o livro ao sindicato e os 3 mil exemplares venderam na noite do lançamento. A Ilha ficou 150 semanas em 1º lugar na lista dos mais vendidos e, principalmente, me mostrou um caminho novo. Eu poderia continuar sendo jornalista, mas sem ter que dar satisfação para patrão, nem gramando em redação. E também ganhando melhor.

“Em 78, fui o 5º mais votado”

ImageFoi quando comecei a pensar em Olga. O meu nome que antes era pouco conhecido, mais só entre os jornalistas, passou a ser conhecido pela sociedade, sobretudo pelo pessoal da esquerda. Isso levou o MDB a me chamar para sair candidato do partido a deputado estadual em 1978.

Eu, que não era ninguém, fui o 5º mais votado, atrás do [Eduardo] Suplicy, do [Antônio] Rezk, de uma mulher que cantava música sertaneja, a deputada Nodeci Nogueira e do deputado Manoel Sala. Quatro anos depois, fui reeleito numa votação maior ainda; e depois em 1986, candidato a deputado federal, fui derrotado pelo [José] Serra. Aliás, eu sou da turma que o Serra passou o caminhão em cima. Ele foi nas cidades onde tinha deputado eleito por voto de esquerda e arrebentou conosco: comigo, com João Hermann Neto, Audálio Dantas, Darcy Passos Flávio Bierrenbach - o Flávio que denunciou isso na televisão. O Serra impediu que pelo menos dez candidatos de esquerda de São Paulo fossem para a Constituinte e dessem a sua contribuição. Eu (em 1986) não tive nem 20 mil votos, quando na eleição anterior cheguei quase nos 60 mil.

[Zé Dirceu] E você escreveu Olga durante esse período?

[Fernando Morais] Sim, foi aí que terminei Olga e comecei a trabalhar no “Chatô, o rei do Brasil”. Então, o Quércia me chamou para ser Secretário de Cultura e depois Secretário de Educação de São Paulo.

[Zé Dirceu] Como foi sua experiência na gestão dessas duas pastas?

[Fernando Morais] Na Secretaria de Cultura foi ótimo, deu para fazer muita coisa. O Quércia, com quem não tenho mais relações, é um governante que não tem meio termo. Para ele é sim ou não, o que é muito bom. Geralmente você pede recursos e o cara responde “não tem dinheiro nem pra bala da polícia militar”. Com ele não tinha disso. Por exemplo, em 1989 o presidente [Fernando] Collor tinha arrebentado com o cinema nacional, acabou com a EMBRAFILME, com tudo. São Paulo foi o único Estado capaz de levantar o cinema de nacional financiando dez longas. Na época, ele me deu R$ 20 milhões para lançar dez filmes e dar esse respiro no cinema nacional.

No Memorial da América Latina (construído por Fernando no governo Quércia) fiz quase vinte oficinas culturais para ensinar música, teatro, cinema para a criançada de baixa renda. E quem ensinava eram os maiores artistas brasileiros. Eu levava Gianfrancesco Guarnieri para dar aula de interpretação para os moleques de periferia de Ribeirão Preto; Mário Prata para dar aula de roteiro. Era uma forma, ao mesmo tempo, de dar trabalho para os artistas. Você pagava a eles, mas era de graça para as crianças.

Nesse período, eu consegui trazer até o Tom Jobim de Nova York para criar a Universidade Livre de Música. Hoje, chama-se Instituto Tom Jobim. O Tom passou um ano aqui ensinando para nós como se montava um conservatório musical gigantesco. Outro dia, ouvi um moleque tocando oboé na Sinfônica de Israel. Ele era morador de favela aqui e começou numa dessas oficinas culturais. Então, na área de cultura, minha avaliação é que foi muito bom.

[Zé Dirceu] E na secretaria de Educação?

[Fernando Morais] Na educação foi um desastre. No meio do caminho eu descobri que o governador [Luiz Antônio] Fleury Filho não queria fazer nenhuma revolução nesse setor, e eu não estava ali para ser chamado de excelência e andar em carro oficial. Pedi demissão e desisti.

2002: o apoio de Quércia a Lula

[Zé Dirceu] Você voltou a se candidatar pelo PMDB em 2002, a governador.

[Fernando Morais] Caí em tentação novamente em 2002. O Quércia me chamou para ser candidato a governador de São Paulo. Respondi que só saia se o partido apoiasse o Lula, naquele ano, candidato à presidência. Na época, o deputado Michel Temer (presidente nacional do PMDB) era da outra direção do partido, e estava comprometido com o (candidato à presidência) Serra, tanto que indicaram a deputada Rita Camata (PMDB-ES) como vice de sua candidatura.

Consegui com o Quércia, o PMDB de São Paulo, apoiar o Lula. Tanto que no dia do lançamento do meu comitê de governador estão lá você e o Lula quebrando a garrafa de champanhe no palanque.

Durante essa campanha para governador, a minha expectativa era o tempo de televisão. Eu tinha 5 minutos na hora do almoço e do jantar, uma eternidade. Como minha vida é transparente e não tenho dificuldade em falar em público, a televisão era o caminho. Eu estava com 3% a 4%, lá embaixo. Quem eram os meus adversários? Geraldo Alckmin (PSDB) e o José Genoíno (PT). Pensei: “aí, eu pego os dois”. Participei de um único debate, dei uma cacetada no Alckmin - isso me valeu um processo por injúria, calúnia e difamação, que ele perdeu em todas as instâncias - e ali meu nome começou a amadurecer por causa do bate-boca que tivemos.

Então, quando faltavam cinco dias para o programa eleitoral começar (e finalmente o meu tempo de televisão), o Quércia mandou me avisar através do marqueteiro dele, o Toni Cotrim, que o horário seria dele. Ele era candidato a senador, tinha vaga para dois senadores, mas já usava o tempo do outro candidato, um laranja do ABC, deputado estadual, que topou se candidatar para dar o tempo do Quércia. Eu falei, “de maneira nenhuma, isso nem passa pela minha cabeça”. Primeiro, pela ilegalidade, segundo pela imoralidade comigo. Como vou dizer para a minha filha e para a minha mulher que sou candidato se não apareço? “Não, mas isso e aquilo...” Então, respondi: “não, estou fora”.

No dia seguinte, puseram um pastor evangélico no meu lugar para dar o tempo ao Quércia - e mesmo assim, ele perdeu a eleição, apesar de ter na TV o tempo de dois senadores e de um governador.

Eu retirei a candidatura num dia e no seguinte estava na campanha do Lula, no Rio de Janeiro, quando sugeri uma frase que acabou virando mote na campanha. A Regina Duarte tinha ido à TV (na propaganda tucana) falar que estava com medo. Nas vésperas de ir ao Rio, descobri um poema do Gilberto Freyre escrito em 1929 - nem sabia que ele escrevia poemas - muito bonito chamado “Um novo Brasil” que me parece uma premonição da Revolução de 30. Esse texto caiu como uma luva na candidatura do Lula e foi uma resposta indireta à Regina Duarte. Ao invés de discursar, eu disse no encontro do Rio que daria a palavra ao Gilberto Freyre e li o poema. Terminei dizendo o seguinte: “60 anos atrás o Gilberto Freyre já estava ensinando para nós que a esperança era maior do que o medo”.

Fui para a campanha do PT e fiquei por lá. Nunca mais me meti pessoalmente em política. De lá pra cá, fiz todas as campanhas do PT. Em São Paulo, a campanha do Genoino; depois a da Marta (Suplicy) para a prefeitura; vou campanha da Dilma ano que vem, mas, pessoalmente, eu não quero mais.

ABC: “é melhor você ficar porque parece que a barra vai pesar”.

[Zé Dirceu] E como foi sua experiência de oito anos como deputado estadual, você cumpriu mandato em duas legislaturas.

[Fernando Morais] O primeiro mandato foi de luta contra a ditadura. Do meu tempo como deputado, devo ter passado 80% nas portas do DOPS, nas greves do ABC. Inclusive, eu estava com o Lula e o (ex-deputado) Geraldinho Siqueira, na noite em que o Exército invadiu o sindicato dos metalúrgicos. Naquele dia, o Fernando Henrique Cardoso tinha estado lá, nós conversamos e saímos para comer um frango em São Bernardo. Na hora de ir embora, o Fernando falou: “eu vou para São Paulo.” Nós respondemos: “é melhor você ficar porque parece que a barra vai pesar”.

Na época, o Fernando era suplente de senador (de Franco Montoro), portanto, uma personalidade e tal. Ele fez uma análise da conjuntura ali, provando por A+B que não corríamos riscos de o sindicato ser invadido, e foi embora para São Paulo. Isso quem conta é o Lula naquele livro O Sapo e o Príncipe [do Paulo Markun]. Então, o Fernando Henrique veio embora para São Paulo e nós ficamos. Quando deu 23h, meia noite por aí, nós ouvíamos o barulho dos helicópteros. Olhamos pela janela, estava tudo cercado (pela repressão) em volta do sindicato.

Então, esse primeiro mandato foi muito rico, muito vivo. Eu levava comida no DOPS para eles, quando foram presos - Djalma Bom, Lula, José Cicotti. Levávamos fruta, eu e Luis Eduardo Greenhalgh que não era deputado ainda. Na verdade, eu tinha uma relação respeitosa com o (delegado Romeu) Tuma, embora ele tivesse me prendido – eu e minha mulher – quando voltamos de Cuba pela primeira vez. Nós fomos presos na escada do avião, mas não bateram na gente, nem fomos colocados na cela. Ficamos numa cela ao lado da sala do Tuma no prédio do DOPS. Então, eu conseguia levar comida para o pessoal desde que não fosse de dia para não chamar atenção da imprensa e desde que não fosse com carro oficial (de deputado).

Já no segundo mandato, com o Montoro governador, o deputado virou uma espécie de despachante de luxo. O prefeito tem 4 mil votos, precisa ter uma audiência com o secretário de Educação, você não vai acompanhar? Agora, como eu tinha voto em todas as cidades, sem exceção, era deputado estadual, havia uma lista de prefeitos... Então, leva o prefeito e vai no secretário tal, depois em outro. Não que isso diminua alguém, mas não era o meu projeto de vida, nem com cem mil votos. Então, foi uma experiência muito frustrante o meu segundo mandato.

[Zé Dirceu] Fernando, dos teus biografados, é possível comparar e escolher qual foi o mais fascinante?

[Fernando Morais] Impossível. Como comparar Olga com Chateaubriand? Como comparar o Paulo Coelho com o marechal Montenegro? Quer história mais dramática do que a do Paulo? Drogas, vício, homossexualismo, missa negra, suicídio, tudo. Hospício! Moleque, o pai o internou - ele tinha 14, 15 anos - três vezes no hospício para ser tratado com eletrochoque na cabeça. Agora, você pega uma Olga, uma mulher que deu a vida por uma idéia! Ela não estava atrás de bem material, nada. Deu a vida por um ideal. Então, é muito difícil estabelecer esse tipo de comparação.

[Zé Dirceu] E há algum personagem interessante, mas sobre o qual você jamais escreveria? Você precisa se identificar com os biografados que escolhe?

Image[Fernando Morais] Não, diferentemente de outros biógrafos. O Ruy Castro, por exemplo, disse que só escreve sobre pessoas pelas quais ele tem algum tipo de simpatia, alguma afinidade. Eu já pensei, inclusive, em escrever sobre o delegado (Sérgio Paranhos) Fleury. Vou escrever sobre o Antônio Carlos Magalhães. Passei nove anos gravando com ele. Devo ter quase mil horas gravadas e ele me deu uma cópia do seu arquivo pessoal. Seguramente, Zé, tem o seu nome lá, porque ele gravava todos os telefonemas. Ligava para o presidente da República com o gravador ligado e não informava o interlocutor que estava gravando. Particularmente, eu não tenho afinidade com o ACM, estamos em pólos opostos política e filosoficamente. Então, honestamente não há personagem sobre o qual eu não escreveria.

[Zé Dirceu] E sobre o restaurante Piantella, de Brasília?

[Fernando Morais] Há algum tempo, estou pensando em fazer a história do Piantella porque é possível fazer esse trabalho de biografia num livro que não seja biográfico, mas sobre um episódio. Escrevi Corações Sujos [2000] que não é uma biografia. Cem quilos de Ouro [2003] e a própria A Ilha [1976] também não são. Se dependesse de mim, já teria feito o Piantella, mas o Marco Aurélio (dono do restaurante) me enrolou um pouco. Na verdade, através da história do Piantella você conta um pouco da história do país, sobretudo, a do fim da ditadura militar. Ali era o lugar onde se conspirava. Eu pretendo fazer o livro sobre o Piantella, tenho até o modelo. O (jornalista) Ricardo Boechat fez um livro muito bonito sobre o Copacabana Palace, é um livro com fotos que ao mesmo tempo você lê, tem história sobre as pessoas que se hospedaram lá, o que aconteceu, brigas e paixões. O Piantella dava um livro, guardadas as diferenças, como este.

Cinco cubanos e a luta contra o terrorismo de Miami

[Zé Dirceu] Conte um pouco para os leitores do blog, sobre seu livro atual, a respeito dos cubanos.

[Fernando Morais] O livro está indo bem. É uma história incrível porque são 15 caras que Cuba infiltra em organizações de extrema direita na Flórida, para combater o terrorismo partido dali contra a Ilha. Eles se apresentam nos EUA como desertores, traidores da revolução cubana e cada um foi de uma maneira.

René González, por exemplo, roubou um avião em Cuba e pousou dentro da base aérea naval mais bem armada dos EUA. E, pior, com o tanque seco. Foi um negócio heróico. Ele teve que voar baixo para os radares de Cuba não o pegarem e ainda em zigue-zague porque a gasolina acabou. No momento em que viu as luzinhas de Key West, nos EUA, o tanque já estava seco, seco, seco. Ele entrou no rádio 14 da Marinha, da base aéreo naval e disse “sou desertor cubano, chamo-me René González e preciso pousar”. O cara respondeu, “na pista tal”. Ele desceu, foi recebido como herói e começou a trabalhar. Lá foi cooptado por uma organização de extrema direita [contra os cubanos] e logo depois, cooptado pelo FBI para passar informações desta organização de extrema direita para eles.

Então, ele começa a fazer o jogo de dupla infiltração. Como ele, foram mais 14 cubanos e um não sabia do outro, apenas um que controlava todos sabia dos demais. Cada um foi de uma forma, quase todos como traidores da revolução, e houve os que saíram dentro da cota dos 20 mil vistos concedidos por ano. Os cubanos chegaram nos EUA no começo dos anos 90, quando acabou a URSS, e Cuba entrou no chamado período especial de dificuldades muitos grandes.

Nessa fase, o país salvou sua economia através do turismo. Vendo isso, os americanos começaram a fazer atentados em Cuba, exatamente na área turística. Colocaram bomba em avião, em hotel de luxo para espantar os turistas. Você vai para o Iêmen passar férias? Não vai, tem medo. O Egito durante muito tempo passou por isso. Então, os americanos queriam quebrar a indústria do turismo de Cuba com o terrorismo, e Cuba não tinha como combater esses caras, porque eles moravam nos EUA, na Flórida e a polícia e o governo ou os apoiava ou fechava os olhos. Por isso, mandaram 15 caras para lá.

O primeiro foi em 1990 e até 1998, foram oito anos de trabalho, [infiltrados em organizações de extrema direita]. Eles mandavam informações para Cuba. Por exemplo, “fulano de tal vai entrar dia tal vindo de El Salvador com uma televisão portátil debaixo do braço dizendo que está levando de presente para uma tia”. Os cubanos abriam a televisão e achavam 4 kg de explosivo lá dentro, de centex, de explosivo líquido e plástico.

Até que na madrugada de setembro de 1998, o FBI e a Swat invadiram 15 casas na mesma hora, numa operação na Flórida. Cinco fugiram antes deles chegarem, um na véspera da cana... ficaram dez. Desses, 5 fizeram acordo de delação premiada com o governo americano. Neste período já tinham informações e dedaram os outros cinco em troca de serem libertados com identidade falsa e com bolsa do governo. Até hoje, eles estão nos Estados Unidos em lugares diferentes, com nomes diferentes. Os cinco presos [Gerardo Hernández, Ramon Labañino, Antonio Guerrero, Fernando e René González] foram condenados a penas de 20 anos e a duas perpétuas. Essa é a história.

[Zé Dirceu] Então, o FBI estava vigiando a atividade deles antes?

[Fernando Morais] Eles estavam vigiando os caras há dois anos. Já tinha escutas dentro das casas. Um morava num apartamento e o FBI alugou outro apartamento exatamente na frente para fotografar e ver a hora em que saia. Eles iam lá, abriam, tiravam o disco rígido do computador, copiavam e o recolocavam. Pegaram mais de 20 mil mensagens enviadas pelos cubanos, e o julgamento foi um negócio absurdo. Não há nenhuma prova, no meio dessa documentação toda, de que eles tenham espionado os EUA [o objetivo era obter informações das organizações de extrema direita que faziam terrorismo em Cuba]. Nunca pegaram nenhum documento norte-americano, nunca tiveram acesso a nenhuma informação sigilosa ou secreta, e quem diz isso foram três almirantes e um general americano ligados à Agência Nacional de Segurança. Depoimento do júri, homologado pelos advogados com testemunha de defesa dos cinco, e tudo.

Um camarada, inclusive, tinha o emprego de encanador numa base aérea americana, e o general que comandava essa base disse que ele nunca chegou por perto dos prédios que tinham informações que pudessem ser consideradas de segurança nacional. Outro cara tinha sido comandante de uma coluna de tanques em Angola e entrou nos EUA para ser professor de salsa.

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Educação: o nó está no ensino de primeiro e segundo graus

[Zé Dirceu] Fernando, mudando de assunto, como você avalia a educação e a cultura nesses quase sete anos de governo Lula?

[Fernando Morais] Cultura deu um salto significativo. Educação, a minha esperança é que o Lula realmente use o dinheiro do pré-sal para fazer uma revolução nessa área. Não só como autor de livros, mas sobretudo tendo sido secretário do Estado com maior número de estudantes no Brasil – em São Paulo são seis milhões de estudantes e hoje deve ser um pouco menos, é a população da Dinamarca, e na época, o orçamento da Educação no Estado era de US$ 4bi - aprendi um pouco e descobrir onde está o nó.

Em primeiro lugar, não é ensino superior, mas o de primeiro e segundo graus. E, principalmente, só conserta na hora em que você tiver educação em tempo integral. O projeto do (ex-governador do Rio, Leonel) Brizola era verdade – e não era do Brizola, mas do Anísio Teixeira (educador dos anos 50). Não tem nenhum segredo. Se você pegar todos os países que deram certo no mundo...O caso do Japão, destruído no final da II Guerra e agora, segunda maior potência do mundo... Eles não tem nada de especial em relação a nós, mas num dado período gastaram 70% do orçamento em educação. Não tinham dinheiro para gasolina de viatura policial, mas tinham para educação de melhor qualidade.

A minha esperança é essa. O Lula vai pro céu se fizer isso. Pode cometer todos os pecados, mas se de fato fizer o que está prometendo, de usar os recursos do pré-sal para fazer uma revolução na Educação, daqui a 500 anos quando os nossos tataranetos olharem para o Brasil e tiverem que citar um estadista, dirão que é o Lula. Mais do que o Getúlio Vargas, porque Vargas tem uma mancha na história dele: (a ditadura e) a própria Olga é um exemplo disso.

E Getúlio foi três: o revolucionário de 30, que deu ao Brasil a condição de nação - antes o país era uma república de coronéis e barões do café; o Getúlio ditador que reprimiu tanto a esquerda - Olga é um exemplo disso - quanto a direita, como fez com os integralistas, arrancaram por exemplo unha do tenente Fournier; e o terceiro Getúlio, o nacionalista, o antiimperialista, o da Petrobras.

Foi o da Petrobras que o DEM da época (1950-1954), a UDN, tentou derrubar e que termina com o gesto heróico de dar um tiro no coração. Então, com absoluta certeza, se o Lula encerrar o seu mandato consertando a educação brasileira, vai precisar muito milênio para termos um outro estadista como ele.

Hoje, todo mundo pode ser o seu próprio Roberto Marinho.

[Zé Dirceu] Fernando para fechar, como você vê o jornalismo hoje no país e a mídia como um todo?

[Fernando Morais] Um horror, uma verdadeira tragédia. Toda generalização é injusta - se você me pedir para apontar um ou outro que não esteja nesse meio, eu consigo. Agora, no geral, a imprensa e os veículos se transformaram em partidos políticos de direita, sem assumir isso. Porque se assumisse não tinha problema. Você cria uma referência. Essa é uma revista de esquerda, esse é o é o blog do Paulo Henrique Amorim que não gosta do Fernando Henrique Cardoso. Pronto, você já avisa ao leitor o que ele está lendo.

Se você pega uma revista como a Veja, por exemplo, ela tem todo o direito de fazer o que bem entender. Numa sociedade como a nossa, quem tem dinheiro para montar uma revista, pode fazer o que quiser, inclusive, não tem que ter nenhuma preocupação com a ética. Agora, esclareça o leitor que aquilo ali é um partido político, que você está defendendo interesses. Isso realmente não acontece.

Veja que isso não é de hoje. Se você pegar o Estadão de quando o Juscelino (Kubitschek) deixou a presidência da República, vai ver que o jornal dizia que o presidente era a quinta maior fortuna do mundo. Juscelino morreu e dona. Sara teve que vender casa para pagar despesas familiares. “A quinta maior fortuna do mundo” segundo o Estadão. Isso piorou de lá prá cá, mas para a nossa sorte, acabou.

Eu sempre acreditei que até a democratização dos meios de comunicação seria uma luta política. Acabei descobrindo que se tornou uma conquista tecnológica. Hoje, todo mundo pode ser o seu próprio Roberto Marinho. Se você botar um notebook aqui na frente e ligar uma câmera de vídeo - custa baratinho - e falar o dia inteiro, se disser o que as pessoas querem ouvir, terá audiência, ganhará anúncio e terá recursos para sustentar e ampliar a sua estrutura.

Felizmente, essas publicações (tradicionais) estão com os dias contados

ECONOMIA - Estudo aponta o Brasil como líder em retomada econômica na AL.

Cansaram de ridicularizar o Lula quando falou em "marolinha". Cansaram de torcer pelo "quanto pior, melhor" na esperança de prejudicar o governo Lula.Agora estão a favor do golpe em Honduras. Como dizia o Ibrahim Sued, "enquanto os cães ladram, a caravana passa".
Carlos Dória

Brasil é líder em retomada na América Latina, segundo S&P Foto: Divulgação O estudo "Recuperação da América Latina: o Quanto Longe, o Quanto Rápido?", realizado pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), apontou o Brasil como líder na volta ao crescimento neste ano.

A S&P elevou sua projeção para o PIB do Brasil que passou de leve para estável.

Segundo o artigo, a recessão na América Latina acabou, mas a velocidade da recuperação vai depender de cada região.

"O tempo e a velocidade da recuperação em cada país variam conforme o tamanho dos mercados locais de consumo e capitais, a dependência do comércio mundial e a magnitude da política doméstica de estímulo. Tudo isso somado à estabilização da economia global e dos mercados financeiros", afirmou a analista de crédito para a América Latina da S&P, Lisa Schineller.

EUA - Para onde "nós" fomos?

Para Friedman, crítica da direita à Obama, "começou a se transformar em deslegitimização"

Thomas L. Friedman
Do The New York Times

Odeio escrever sobre isto, mas eu, de fato, já estive nesta peça antes e ela é realmente perturbadora.

Estava em Israel entrevistando o Primeiro-Ministro Yitzhak Rabin pouco antes de ele ser assassinado em 1995. Tomamos uma cerveja no seu escritório. Ele precisava de uma. Lembro o clima feio em Israel naquele período - um clima no qual políticos e colonos de direita estavam fazendo tudo o que podiam para retirar a legitimidade de Rabin, que estava comprometido em trocar terra por paz, como parte dos acordos de Oslo. Eles questionavam a sua autoridade. Eles o acusavam de traição. Eles criaram imagens retratando-o como um oficial da SS nazista e gritavam ameaças de morte em comícios. Seus adversários políticos sorriam com tudo isto.

E ao fazerem isto, criaram um ambiente político venenoso, que foi interpretado por um colono judeu de direita como uma licença para matar Rabin - ele deve ter ouvido, "Deus estará ao seu lado" - e assim o fez.

Outros já comentaram sobre esta analogia, mas quero acrescentar a minha voz, pois os paralelos entre Israel naquela época e com a América hoje me fazem sentir mal: não tenho problemas com qualquer crítica sólida ao presidente Barack Obama, seja da esquerda ou da direita. Mas algo muito perigoso está acontecendo. A crítica da extrema direita começou a se transformar em deslegitimização e a criar aqui o mesmo tipo de clima que existia em Israel na véspera do assassinato de Rabin.

Que tipo de loucura é esta que faz com que alguém crie uma enquete no Facebook perguntando aos entrevistados: "Obama deve ser assassinado?" As escolhas eram: "Não, Talvez, Sim e Sim, se ele cortar minha assistência médica". O Serviço Secreto está investigando agora. Espero que eles coloquem o imbecil na cadeia e joguem a chave fora, pois é exatamente isto que estava sendo feito com Rabin.

Mesmo se você não estiver preocupado que alguém possa extrair destes ataques rancorosos uma licença para tentar ferir o presidente, você precisa se preocupar com o que está acontecendo com a política americana em um sentido mais amplo.

Nossos líderes, até mesmo o presidente, não podem mais pronunciar a palavra "nós" com uma expressão séria. Não há mais "nós" na política americana, em uma época em que "nós" temos estes problemas enormes - o déficit, a recessão, assistência médica, mudança climática e guerras no Iraque e no Afeganistão - que "nós" podemos apenas administrar, quem dirá corrigir, se há um "nós" coletivo em ação.

Às vezes, imagino se o presidente "41", George H.W. Bush, será lembrado como nosso último presidente "legítimo". A direita acusou Bill Clinton e o perseguiu desde o 1º Dia com o falso "escândalo" Whitewater. George W. Bush foi eleito de forma suspeita por causa da bagunça da votação na Flórida, e os seus críticos da esquerda nunca o deixaram se esquecer disto.

Agora, Obama está sofrendo ataques à sua legitimidade por uma campanha orquestrada pela extrema direita. Eles estão utilizando de tudo, de calúnias de que ele é um "socialista" enrustido a chamá-lo de "mentiroso" em meio a uma sessão conjunta do Congresso, passando por criar dúvidas sobre o seu nascimento nos Estados Unidos e se ele é, de fato, um cidadão. Estes ataques não estão vindo só da extrema. Agora eles estão vindo de Lou Dobbs na CNN e de membros da Câmara dos Representantes.

Novamente, golpeiem as políticas do homem e até o seu caráter o quanto quiserem. Eu sei que a política é um negócio difícil. Mas se destruirmos a legitimidade de outro presidente para conduzir ou unir o país para o que os americanos mais querem neste momento - estruturar uma nação em casa - estaremos com um problema sério. Não podemos ficar 24 anos sem um presidente legítimo - não sem sermos esmagados pelos problemas que acabaremos adiando porque não conseguimos enfrentá-los de forma racional.

O sistema político americano, como diz o ditado, foi "criado por gênios para que pudesse ser administrado por idiotas". Mas um coquetel de tendências políticas e tecnológicas convergiu na última década de forma a possibilitar aos idiotas de todas as vertentes políticas subjugar e paralizar os gênios do nosso sistema.

Estes fatores são: o excesso selvagem de dinheiro na política; o gerrymandering de distritos políticos, tornando-os permanentemente republicanos ou democratas e apagando o meio-termo político, um ciclo de 24 horas por dia, 7 dias por semana de jornalismo na TV a cabo, que transforma toda a política em uma batalha diária de táticas que oprime o pensamento estratégico; e uma blogosfera que, no seu melhor, enriquece nossos debates, colocando novos limites na classe dominante e, no seu pior, torna nossos debates mais grosseiros em um nível totalmente novo, dando um novo poder para difamadores anônimos mandarem mentiras ao redor do mundo. No fim, além de tudo, agora temos uma campanha presidencial que incentiva o partidarismo total, o tempo todo, entre nossos principais políticos.

Eu afirmaria que, juntas, estas mudanças resultam em uma diferença de grau que é uma diferença em tipo - um tipo diferente de cenário político americano que me faz imaginar se ainda podemos discutir seriamente, por mais um minuto, assuntos sérios e tomar decisões com base no interesse nacional.

Não podemos mudar isso da noite pro dia, mas o que podemos e devemos mudar é o fato de pessoas cruzarem a linha entre criticar o presidente e incentivar tacitamente o impensável e o imperdoável.
Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.
Fonte:Terra Magazine.

VOTO IMPRESSO - Comunicado do neto do Brizola.

Amigos , me desculpem, mas não posso deixar de extravasar
minha emoção. O presidente Lula acaba de sancionar a reforma eleitoral
e, perdoem as maiúsculas, NÃO VETOU O VOTO IMPRESSO SIMULTÂNEO AO VOTO
ELETRÔNICO A PARTIR DE 2014!!

Sei como foram intensas as pressões, sei quantos interesses se moveram
contra este instrumento de garantia da vontade popular. O povo
brasileiro merece o sagrado respeito às suas decisões.

Não é hora de falar dos inimigos da segurança do processo eleitoral. É
hora de, acima de qualquer diferença que se possa ter tido no passado,
dizer que nos unimos num mesmo, único e fundamental valor: a vontade do
povo brasileiro.

Parabéns, presidente. Não são apenas os pedetistas que o cumprimentam,
nem os estudiosos da segurança eleitoral que participaram desta luta.
São os homens de bem deste país, os democratas, os que não admitem que
haja sombras sobre a expressão desta vontade nas urnas, à qual, todos,
sem exceção, devemos nos persignar e aceitar.

Viva a democracia, viva a verdade eleitoral!

MST - Intelectuais assinam manifesto contra CPI para MST.

do blog os amigos do presidente

Um grupo de 60 intelectuais, políticos, juristas, representantes da Igreja e sindicalistas, entre outros, divulgou ontem um manifesto com duras críticas à proposta de CPI apresentada por três parlamentares do DEM para investigar os repasses ao Movimento dos Sem-Terra (MST). O documento defende a atualização dos índices de produtividade no campo. “É contra essa bandeira que a bancada ruralista do Congresso reage. Como represália, busca, mais uma vez, articular a formação de uma CPI contra o MST. Seria a terceira em cinco anos”, diz.

Há uma semana, a senadora Kátia Abreu (TO) e os deputados Ronaldo Caiado (GO) e Onyx Lorenzoni (RS) protocolaram na Secretaria-Geral do Senado pedido para apurar transferência de “mais de” R$ 40 milhões da União e R$ 20 milhões do exterior para o MST. O requerimento lista seis suspeitas de “irregularidades e desvios” em convênios com entidades ligadas à agremiação.

De acordo com o Manifesto em Defesa da Democracia e do MST, divulgado ontem pelo próprio movimento, “o ataque extrapola a luta pela reforma agrária” e atinge os avanços democráticos do País. “Se a agricultura brasileira é tão moderna e produtiva, como alardeia o agronegócio, por que temem tanto a atualização desses índices?” E vai além, ao propor CPI “para analisar os recursos públicos destinados às organizações da classe patronal rural”.

O documento, que ganhou mais de 400 adesões, aponta “ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade contra o Movimento dos Sem Terra, seja no Congresso, seja nos monopólios de comunicação, seja nos lobbies de pressão em todas as esferas de poder”. E alerta para tentativa “de criminalizar” as ações dos sem-terra. Pelo texto, “o ódio das oligarquias rurais e urbanas não perde de vista um único dia” o MST. “Esse movimento paga diariamente com suor e sangue por sua ousadia de questionar um dos pilares da desigualdade social no Brasil: o monopólio da terra.”

Segundo o texto dos simpatizantes do MST, os donos de terra não toleram que movimentos sociais disputem verbas do orçamento para tornar viável a atividade econômica de famílias assentadas.”Daí resulta o ódio dos ruralistas e outros setores do grande capital, habituados desde sempre ao acesso exclusivo aos créditos, subsídios e ao perdão periódico de suas dívidas”, atacam.

Cinco pessoas respondem pela autoria do manifesto e busca de assinaturas – o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio (PT-SP), o ex-presidente do Incra Osvaldo Russo, o poeta Hamilton Pereira, o escritor Alípio Freire e a socióloga Heloisa Fernandes. Endossam o documento o crítico literário Antônio Cândido, o jurista Fábio Konder Comparato, o sociólogo Emir Sader, o escritor Fernando Morais, o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), d. Ladislau Biernaski, o teólogo Leonardo Boff, a presidente da Associação de Juízes pela Democracia, Dora Martins, além de dirigentes do PSTU, PC do B e PSB. A sambista Beth Carvalho e o ator Osmar Prato também o subscrevem.
Fonte:Leituras da Márcia.

QUAL A MELHOR RELIGIÃO?

Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama.

Leonardo Boff explica:

"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos,
na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos,
eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico,
lhe perguntei em meu inglês capenga:
- "Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s the best religion?)
Esperava que ele dissesse:
"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos
- o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia
contida na pergunta - e afirmou: "A melhor religião é a que mais
te aproxima de Deus, do Infinito".É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta,
voltei a perguntar:
- "O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
-"Aquilo que te faz mais compassivo" (e aí senti a ressonância tibetana, budista,
taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado,
mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético...
A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje
estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável...
Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou não tem religião.
O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo...
Lembremos:
"O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos".
A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física. Ela está também nas relações humanas. Se eu ajo com o bem, receberei o bem.. Se ajo com o mal, receberei o mal.
Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade:

"terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros".

Para muitos, ser feliz não é questão de destino.

É de escolha.

MÍDIA -´Estadão censura radialista.

ENTREVISTA / JOÃO CARLOS BARBOSA ALCKMIN

Por Ricardo Faria em 29/9/2009

O radialista João Carlos Alckmin foi censurado justamente por quem se diz paladino da liberdade, o grupo Estado de São Paulo.

Alckmin e seu parceiro Flavio Ashcar tomaram conhecimento da censura quando chegaram à rádio Metropolitana AM, 1.290, em São José dos Campos, na manhã de 21 de setembro, Dia do Radialista. Eles não puderam fazer mais um Show Time, o programa de maior audiência da emissora, em face de um e-mail enviado pela Rede Eldorado, do grupo Estado de São Paulo, no dia 18 de setembro.

Na tarde do mesmo dia, falamos com a autora do e-mail, Regiane Batista dos Santos, gerente da rede Eldorado. Ela afirmou ter recebido ligações telefônicas e e-mails questionando o programa Show Time inserido na programação da Rede, através da emissora de São José dos Campos. E que, entre outras, João Alckmin teria dito no ar que a "saúde de São José dos Campos é uma m...".

Regiane lembrou a existência de regras, procedimentos de linguagem e conteúdo no contrato de afiliação da Eldorado com a Metropolitana AM. Ela foi taxativa no e-mail: "Através desses questionamentos, fizemos uma rádio escuta e, realmente, não há compatibilidade de programação entre a Eldorado e o programa mencionado."

E vai adiante: "Na cláusula 9.2 do contrato assinado pela Rádio Metropolitana, tal procedimento é passível de rescisão contratual. Solicitamos, portanto, que alguma medida seja tomada no prazo máximo de 15 dias. Na hipótese de não ocorrer a correção, enviaremos a carta de rescisão. Atenciosamente, Regiane Santos – gerente de rede"

Pimenta nos olhos dos outros é refresco

"Justiça censura Estado e proíbe informações sobre Sarney

Gravações em áudio proibidas revelaram ligações do presidente do Senado com os atos secretos da Casa.

Felipe Recondo, de O Estado de S. Paulo

Brasília – O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), proibiu o jornal O Estado de S. Paulo e o portal Estadão de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica. O recurso judicial, que pôs o jornal sob censura, foi apresentado pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – que está no centro de uma crise política no Congresso..." (ver aqui).

Pau que dá em Chico, dá em Francisco. O ditado vale para os Mesquitas do Estadão e para Regiane Batista dos Santos, que desprezou o radialista mais combativo e respeitado de São José dos Campos e do Vale do Paraíba. Dono da maior audiência na emissora, Alckmin ficou conhecido justamente pelo combate ferrenho à corrupção na máquina pública, especialmente na polícia, na política e no Judiciário.

"Não se inseria na metodologia"

Na tarde de quarta-feira (23/9), falamos com João Carlos Barbosa Alckmin. Eis sua entrevista:

Há quanto tempo você está na rádio Metropolitana, ou rádio Eldorado?

João Carlos Barbosa Alckmin – Perto de dois anos. Sinceramente, não sei se é Metropolitana ou Eldorado. Para meu estarrecimento, parece não ser uma coisa nem outra.

Você estava no horário das 10 horas ao meio dia?

J.C.B.A. – Estava nesse horário, não estou mais. Fazíamos um programa independente, o único com audiência na rádio.

Como funciona a rádio?

J.C.B.A. – Eu não conheço os meandros da rádio Metropolitana ou da Eldorado, em São José dos Campos. Nunca me preocupei com isso.

O que realmente aconteceu no último dia 21?

J.C.B.A. – Quando cheguei com o Flávio Ashcar para fazer o programa nos disseram que havíamos sido censurados pela rede Eldorado, do grupo Estado, a quem a emissora havia se afiliado, e que o nosso programa não se inseria na metodologia da Eldorado.

"Estou dando graças a Deus por ter saído"

Que espécie de contrato você tinha?

J.C.B.A. – Um contrato verbal com o Lano Brito.

Quem é Lano Brito?

J.C.B.A. – Ele se diz responsável pela emissora e é quem explora a freqüência. Quero deixar claro que os microfones e os pedestais são meus, a mesa é minha, a internet é paga por mim, o telefone 12 – 3308.1290 é meu. Da rádio, eu usava somente o espaço físico.

Como é feito o programa Show Time?

J.C.B.A. – É uma revista eletrônica onde discutimos os problemas da cidade, da região, do país e tocamos música de qualidade e isso parece não ter sido aprovado pela rede Eldorado.

O programa também vai ao ar pela Rádio Piratininga?

J.C.B.A. – Vai, aos sábados das 10 ao meio dia, pela 750 AM, onde continuamos normalmente, acessados pelo site www.superradiopiratininga.com.br – Flávio Ashcar, eu, Carlos Brickmann, Percival de Souza, James Akel, Rui Nogueira e outros.

O que sabe desse contrato entre a Eldorado e a Metropolitana?

J.C.B.A. – O contrato foi feito pela Metropolitana, que não é do Lano Brito, e sim, do Silvio Sanzoni, ou seja, do espólio do Jair Mariano Sanzoni.

Você conhece o Silvio Sanzoni?

J.C.B.A. – Conheço. Quer saber... Estou dando graças a Deus por ter saído. Me falaram que a rádio não tem CNPJ, que os funcionários não são registrados em nome da rádio Metropolitana ou Eldorado. O estúdio não poderia estar onde está, e sim, no edifício Saint James, na avenida João Guilhermino. A torre está numa área de preservação ambiental. Flávio e eu temos uma reputação a zelar, não podemos compactuar com tudo isso. Além, agora, da censura do grupo Estado.

Rádio chapa-branca

Terrível, não?

J.C.B.A. – O que me causa estranheza é a dona Regiane, a responsável pelos afiliados, não ter tomado nenhuma cautela quando da assinatura do contrato. Pelo que sei, entre a Rádio Eldorado e a Rádio Metropolitana, usando o CNPJ da Tropikal Produções. Tudo absolutamente irregular. Atente bem, esse é o grupo O Estado de São Paulo, que se diz preocupado com a imagem de independência.

Você chegou a falar com o Silvio Sanzoni?

J.C.B.A. – Ele me disse que está tomando as medidas cabíveis para retomar a rádio, que já foi até fechada pela Anatel. Trocando em miúdos, trata-se de uma rádio irregular e a Anatel sabe disso.

Como é ser um jornalista tão combativo?

J.C.B.A. – Me custa caro, já fui até baleado e quase fiquei tetraplégico.

Como vê os veículos de comunicação em São José dos Campos?

J.C.B.A. – Todos eles estão atrelados ao poder público, todos recebem verbas da prefeitura. Essa é a realidade. Sem contar o monopólio da comunicação radiofônica. Várias rádios da cidade pertencem ao mesmo dono. A Nativa, a Band Vale, a Band AM e a Stereo Vale são dirigidas pelo Grupo Bandeirantes e isso é proibido pelo Ministério das Comunicações.

Dizem que cada uma delas tem um político por trás. É verdade?

J.C.B.A. – Não tenho conhecimento disso, mas sei é que todas se identificam como do Grupo Bandeirantes, é o que vale.

Então, se depender da mídia, estamos ferrados?

J.C.B.A. – Através dela não vem nada de importante. A única emissora independente é a Rádio Piratininga. O radialista Antonio Leite, da Planeta FM, se diz independente, isso depois que cortaram as tetas em que ele mamava. A rádio dele era chapa branca até que brigou com o prefeito Eduardo Cury, que não apareceu mais na emissora e até processou o Leite.

"Não conheço nem tenho interesse em conhecer"

Podemos falar um pouco de você e a cidade de Mogi das Cruzes?

J.C.B.A. – Sou paulistano, as minhas ligações com Mogi vêm do meu avô, que lá era fazendeiro. Meu pai foi juiz de Direito por muitos anos na cidade.

Como era sua vida em Mogi?

J.C.B.A. – Não cheguei a ter programa radiofônico na cidade. Às vezes, digo que fui sócio do jornal Diário de Mogi, onde fui esculhambado durante muito tempo em matérias assinadas pelo Nivaldo Marangoni e Laércio Ribeiro. A alegação era de que eu afrontava a sociedade local por usar roupas finas e carros importados. Pura inveja, preconceito. Minha família mora em Mogi, lá eu respondi a trinta e cinco processos pelos mais variados motivos e o Nivaldo e o Laércio sempre deram ênfase a isso: "João Carlos Rodrigues de Alckmin Barbosa foi indiciado", diziam eles, mas não publicavam o arquivamento do inquérito.

O Nivaldo Marangoni é o mesmo que passou pela TV Vanguarda?

J.C.B.A. – Exatamente!

Está sabendo que ele virou assessor do vereador joseense João Tampão (PR)?

J.C.B.A. – Desconheço e me espanta.

Você não tomou providência em relação ao Nivaldo?

J.C.B.A. – Não porque o meu intuito, na época, era quebrar a cara dele, mas não consegui encontrá-lo. Hoje, mais maduro, talvez esteja mais equilibrado. Os anos passaram, o Laércio Ribeiro continua em Mogi das Cruzes, mas veja como são as coisas: manchete de jornal é a mulher dele, a delegada de polícia, Vera Dantracolli, acusada de mandar "ensapar pessoas" para fazer flagrantes.

E o dono do jornal Diário de Mogi, quem é?

J.C.B.A. – Toti Tirreno Dazambagio, que nunca vi na vida e não tenho interesse em conhecer.

"Darei todas as explicações"

Voltando ao seu programa Show Time, no agora "território eldorado"...

J.C.B.A. – Sofri censura do grupo Estado de São Paulo, comprovada pela cópia do e-mail da d. Regiane.

Você chegou a falar com ela?

J.C.B.A. – Sim, ela alegou que não foi bem isso, que eu tinha entendido mal, que desconhecia os problemas da rádio Metropolitana. Eu disse: "No mínimo, a sra. não tomou a necessária cautela na ânsia de afiliar. Não procurou saber com quem estava firmando uma parceria, uma rádio com problemas sérios, fatos que descobri somente agora. Imaginei que o Lano Brito, depois de ter os transmissores lacrados, tivesse se regularizado junto a Anatel. Segundo o Ministério das Comunicações, a emissora continua com restrições."

Além de bater duro contra a corrupção, dizem que um dos motivos para o seu afastamento da rádio foi a sua esposa, a advogada Tânia Nogueira, patrocinar ações populares contra o prefeito de São José dos Campos. Confere?

J.C.B.A. – Vai além disso. A Tânia advoga para o Antonio Leite, processado pelo prefeito. Certa feita, eu estava no ar e o prefeito começou a falar com o Lano Brito, não se dispondo sequer a me cumprimentar. Eu disse no ar que ele era mal educado, grosseiro, que não me confundisse, que advogada era a minha mulher, e não eu, que deveria ter respeito. Ele nada respondeu.

Então sua esposa é advogada de adversários do prefeito?

J.C.B.A. – Não conheço o conteúdo das ações, não me envolvo com o trabalho de minha esposa. Sei que é advogada das vereadoras petistas Ângela Guadagnin e Amélia Naomi e também do vereador Cristiano Pinto Ferreira, da bancada do prefeito. A Tânia é uma profissional sem filiação partidária.

O que os radialistas da cidade falam sobre a censura que sofreu?

J.C.B.A. – Eles não falam absolutamente nada. O Leite se solidarizou. Apoio total, só do Seme de Neme Jorge, dono da Rádio Piatininga que me disse: "Comigo não tem pressão, você continua na nossa rádio e ponto final."

O que podemos esperar de você no Show Time deste sábado, dia 26?

J.C.B.A. – Darei todas as explicações. Colocarei no ar, com detalhes, como fui censurado pelo grupo O Estado de São Paulo.

Projetos demagógicos

Com a saída de João Alckmin, começaram algumas reformas nas instalações do "território eldorado". Estão trocando o piso, o forro etc. Quem primeiro apareceu, foi o Luiz Paulo Costa, que ganha salários milionários na prefeitura de São José e é ligado ao grupo Estado. Depois, foi o Alfredo Freitas, ex-secretário de Transportes e atual presidente da Urbam. Pelo andar da carroça, não é difícil imaginar por que João Alckmin foi afastado.

É muito triste ver os "companheiros de luta" se submeterem a esse lamentável papel em nome da permanência no poder, recebendo dinheiro público, rasgando os princípios da ética, associando-se aos corruptos que antes diziam repudiar. Ganham, mas não levam, a não ser as pragas da maioria dos miseráveis dependentes de seus projetos demagógicos.

Até o fechamento da edição, tentamos falar com as pessoas citadas e não tivemos sucesso. Umas fazendo cursos, outras viajando.
Fonte:Observatório da Imprensa.

ECONOMIA - Blog interessante.

Blog: http://sobalupadoeconomista.blogspot.com/

Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues lançam livro para ensinar a “lógica econômica”

- Autores são professores de economia da FEA-USP

Os economistas Carlos Eduardo Soares Gonçalves e Mauro Rodrigues (este natural de Araraquara), professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), lançam no próximo dia 27, às 19 horas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, o livro Sob a Lupa do Economista – Uma análise econômica sobre bruxaria, futebol, terrorismo, bilheterias de cinema e outros temas inusitados, editado pela Campus-Elsevier. A atividade - que faz parte da programação de aniversário da cidade e homenageia os 192 anos da Morada do Sol – tem o apoio da Prefeitura de Araraquara, por meio da Secretaria Municipal da Cultura e Fundart.

Os autores revelam que escreveram a obra para “divulgar ao público e ao aluno principiante o poder da lógica econômica”. Redigido em linguagem simples, o livro dispensa a artilharia pesada da matemática para discutir desenvolvimentos recentes da ciência econômica, tanto no campo teórico como no empírico. São 46 textos que podem ser lidos em qualquer ordem.

Temas tradicionais de economia, como inflação e déficit público, a crise financeira de 2008/2009, o subdesenvolvimento, efeitos do comércio e da globalização, e a função das patentes na indústria farmacêutica também são tratados por Gonçalves e Rodrigues. No entanto, a maioria dos textos aborda questões distantes dos cadernos e seções de economia da imprensa, entre elas o impacto de condições econômicas sobre a atividade de caça às bruxas, o comércio de órgãos humanos, a privatização das espécies em extinção, o cálculo econômico das organizações terroristas, o efeito do protestantismo sobre o desenvolvimento da antiga Prússia.

Os dois professores sustentam que uma das principais ferramentas do economista é a análise custo-benefício. Ela se baseia na idéia de que as pessoas respondem a incentivos e pesam custos e benefícios de suas ações. Por exemplo, uma queda do imposto sobre veículos novos diminui o custo de possuir um carro, o que impulsiona as vendas.

Essa lógica econômica é aplicada por Gonçalves e Rodrigues para analisar diversas situações:

· A expansão do comércio internacional nos últimos 50 anos reduziu o custo de um país ser fisicamente pequeno e, portanto, ajuda a explicar o crescimento do número de nações no mundo no período do pós-guerra

· Os dados mostram que há mais guerra civil na África em períodos de pouca chuva porque a seca aumenta a pobreza e, portanto, o benefício de se engajar em um movimento de guerrilha que redistribui renda para o grupo vencedor

O livro também discute alguns casos em que esta lógica, se aplicada de modo muito estrito, falha ao explicar o fenômeno em questão:

· Por que alguns diplomatas em Nova York pagam suas multas mesmo não sendo obrigados a tal? (importância de fatores culturais)

· Por que os salários de faxineiros em firmas mais lucrativas são mais altos do que em firmas menos lucrativas? (questões de equidade)


Novo blog dos autores.

Gonçalves e Rodrigues estão lançando com o livro, o blog Sob a Lupa do Economista (http://sobalupadoeconomista.blogspot.com). O objetivo é comunicar os mais recentes resultados da pesquisa acadêmica na área de economia para o leitor não familiarizado com o ferramental matemático e estatístico. O blog vai mostrar o poder explicativo da lógica econômica, na análise dos mais variados fenômenos sociais, e discutir temas que afetam o cotidiano das pessoas, sejam eles puramente econômicos ou não. Confira.

UTILIDADE PÚBLICA - Novo site: RECLAME AQUÍ.

Procon é coisa do passado.

Li na Exame do dia 15/07 uma reportagem sobre um site chamado Reclame Aqui.
A idéia é de ser um mural (um Muro das Lamentações) onde as pessoas expõem suas queixas sobre serviços ou produtos, visível à todos que acessarem o site.
O interessante é que, sem burocracia, os problemas são solucionados com mais rapidez.

Quando um consumidor reclama de um produto de alguma empresa, essa empresa recebe um e-mail dessa queixa. E como a empresa preza por sua imagem, ela tende a ser eficiente na solução, que será aberta ao público.
O que tem dado muito certo, já que 70% dos casos são resolvidos! E o tempo médio é de menos de uma semana, diferente do procon que tem a média em 120 dias.

Lá vai o site: www.reclameaqui.com.br

Divulguem.

Depois daquele estresse de 40min no telefone tentando cancelar o cartão de crédito ou o plano do celular, ou querendo trocar aquele pijama de bolinhas que sua tia avó te deu de presente, mas veio desbotado, você pode relaxar metendo o malho na empresa. Aí pode dormir tranquilo. Façam bom proveito

FSM - Em 2010 volta a ser realizado em Porto Alegre.

Ambientalistas e defensores da justiça social iniciaram ontem os preparativos da edição 2010 do Fórum Social Mundial.

A notícia é do jornal Zero Hora, 30-09-2009.

Em coletiva de imprensa promovida em São Paulo, os organizadores do encontro anunciaram que a edição que marcará os 10 anos do evento, criado em 2001, será realizada em Porto Alegre, que sediou o primeiro ano do maior fórum de discussões sociais da atualidade. O evento será chamado de Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre.

No Rio Grande do Sul, as atividades ocorrerão em sete municípios da Grande Porto Alegre. Na Capital, serão promovidas 12 mesas de debates com nomes de grande expressão política.

O Fórum Social – que já foi chamado informalmente de Fórum de Porto Alegre – se autodenomina uma alternativa ao Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, e que reúne representantes das maiores economias e entidades financeiras do mundo

O encontro será promovido de 25 a 29 de janeiro, paralelamente ao Fórum de Davos, e trará como tema central a crise ambiental e os riscos do aquecimento global – “problemas gerados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico, defendido em Davos”, ressalta Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social.

Além da promoção de diálogos sobre temas sociais, o FSM abrirá em 2010 fóruns de discussão sobre a história do encontro. Os debates irão focar conquistas alcançadas nos 10 anos de evento e dos caminhos que o Fórum deve adotar em suas próximas edições.

– Será uma forma de discutir o significado do movimento e ressaltar a sua importância no contexto mundial – acredita Grajew.

Crises econômica e ambiental serão tema de discussão

O evento, que contou com a participação este ano dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador), pode ser prestigiado em 2010 pelas presidentes do Chile e da Argentina, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner. Lula e Chávez foram os únicos chefes de Estado a participar das edições porto-alegrenses do Fórum.

– Ambas foram convidadas para ministrar palestras no evento – antecipou Grajew.

Além de uma análise das últimas edições, o Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre se dedicará a fazer uma reflexão dos desafios do evento em meio às crises econômica e ambiental.

– O Fórum mudou muito nesses últimos 10 anos, mas o mundo também mudou – disse ontem José Corrêa Leite, um dos organizadores, em São Paulo.
Fonte:IHU

HONDURAS - O BRASIL de Lula é inimigo do golpismo.

"Nosso Guia fez o certo, a praga das 300 quarteladas do século passado precisa de uma vacina", escreve Elio Gaspari, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 30-09-2009. Segundo ele, "Lula não deve ter azia com os ataques que sofre por conta de sua ação".

Eis o artigo.

Lula disse bem: "O Brasil não acata ultimato de governo golpista. E nem o reconheço como um governo interino (...) O Brasil não tem o que conversar com esses senhores que usurparam o poder".

Os golpistas hondurenhos depuseram um presidente remetendo-o, de pijama, para outro país, preservam-se à custa de choques de toque de recolher e invadiram emissoras. Eles encarnam praga golpista que infelicitou a América Latina por quase um século. Foram mais de 300 as quarteladas, uma dúzia das quais no Brasil, que resultaram em 29 anos de ditaduras. Na essência, destinaram-se a colocar no poder interesses políticos e econômicos que não tinham votos nem disposição para respeitar o jogo democrático.

Decide-se em Honduras se a praga ressurge ou se foi para o lixo da história. Nesse sentido, o governo de Nosso Guia tem sido um fator de estabilidade para governos eleitos democraticamente. Se o Brasil deixasse, os secessionistas de Santa Cruz de La Sierra já teriam defenestrado Evo Morales. Lula inibiu a ação do lobby golpista venezuelano em Washington. Se o Planalto soprasse ventos de contrariedade, o mandato do presidente paraguaio Fernando Lugo estaria a perigo.

Para quem acredita que a intervenção diplomática é uma heresia, no Paraguai persiste a gratidão a Fernando Henrique Cardoso por ter conjurado um golpe contra Juan Carlos Wasmosy em 1996. Em todos os casos, a ação do Brasil buscou a preservação de governos eleitos pela vontade popular.

No século do golpismo dava-se o contrário. Em 1964, o governo brasileiro impediu o retorno de Juan Perón a Buenos Aires obrigando-o a voltar para a Europa quando seu avião pousou para uma escala no Galeão.

A ditadura militar ajudou generais uruguaios, bolivianos e chilenos a sufocar as liberdades públicas em seus países. (Fazendo-se justiça, em 1982 o general João Figueiredo meteu-se nos assuntos do Suriname, evitando uma invasão americana. Ele convenceu o presidente Ronald Reagan a botar o revólver no coldre. Nas suas memórias, Reagan registrou a sabedoria da diplomacia brasileira.)

O "abrigo" dado ao presidente Manuel Zelaya pelo governo brasileiro ofende as normas do direito de asilo. Pior: a transformação da Embaixada do Brasil em palanque é um ato de desrespeito explícito. Já o cerco militar de uma representação diplomática é um ato de hostilidade. Fechar a fronteira para impedir a entrada no país de uma delegação da OEA é coisa de aloprados. A essência do problema continua a mesma: o presidente de Honduras, deportado no meio da noite, deve retornar ao cargo, como pedem a ONU e a OEA.
Lula não deve ter azia com os ataques que sofre por conta de sua ação.

Juscelino Kubitschek comeu o pão que Asmodeu amassou porque deu asilo ao general português Humberto Delgado. Amaciou sua relação com a ditadura salazarista e, com isso, o Brasil tornou-se um baluarte do fascismo português. Ernesto Geisel foi acusado de ter um viés socialista porque restabeleceu as relações do Brasil com a China e reconheceu o governo do MPLA em Angola.

As cartas que estão na mesa são duas: o Brasil pode ser um elemento ativo para a dissuasão de golpismo, ou não. Nosso Guia escolheu a carta certa.
Fonte:IHU

AGRICULTUR A - Divisão no campo.

Os latifundiários representados pelo ministro Stephanes, não perdem uma oportunidade para criticar o governo.O negócio deles é manter o "status quo" a qualquer custo.
Carlos Dória.

Da coluna de Ilimar Franco, jornalista, publicada no jornal O Globo, 30-09-2009:

Polêmica hoje no lançamento do Censo Agropecuário Brasileiro. Atendendo a lobby do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o IBGE classificou a pequena propriedade da Região Sul do país como sendo agricultura familiar. Em protesto, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) decidiu não comparecer. Sua equipe avalia que a agricultura familiar foi inflada para reduzir o peso da agricultura comercial em alguns setores da produção.

DIETA SAUDÁVEL PODE AJUDAR A REDUZIR O CONSUMO DE ENERGIA E DE ALIMENTOS NOS EUA.

Estudo constata que uma dieta saudável e um regresso à agricultura tradicional podem ajudar a reduzir o consumo de energia e de alimentos nos EUA.

A notícia é de Henrique Cortez e publicada por EcoDebate, 30-09-2009.

Estima-se que 19 por cento do total da energia utilizada nos EUA é consumida na produção e distribuição de alimentos. A energia norte-americana é, majoritariamente, de origem fóssil, cada vez mais cara e escassa, além de ser a principal fonte de emissão de carbono nos Estados Unidos.

No estudo “Reducing energy inputs in the US food system“, publicado na revista Human Ecology, David Pimentel e seus colegas da Universidade de Cornell, em Nova York, apresentam uma série de estratégias que poderiam cortar o consumo de energia fóssil utilização na produção e distribuição de alimentos em 50 por cento .

O primeiro argumento é que as pessoas comam menos, especialmente considerando que o americano médio consome um número estimado de 3747 calorias por dia, contra um consumo recomendado de 1200-1500 calorias. A alimentação do americano médio, é, tradicionalmente, baseada em dietas com quantidades elevadas de produtos de origem animal e de alimentos processados, que, pela sua natureza, utilizam mais energia do que a necessária para a produção de alimentos, como a batata, arroz, frutas e legumes.

Só pela redução de consumo de produtos de origem animal já teria um enorme impacto sobre o consumo de combustível, bem resultaria na melhora da sua saúde.

Outras economias são possíveis na produção de alimentos. Os autores sugerem que se produzam no sentido mais tradicional, a agricultura biológica ou agroecológica, métodos mais convencionais, que demandam menos energia. A seleção de culturas mais eficientes também reduziria a utilização de adubos e pesticidas, aumentando da utilização de estrume e observando as rotações de cultura, para a melhoria da eficiência energética.

Por último, as alterações dos métodos de processamento de alimentos, embalagem e distribuição também poderão ajudar a reduzir o consumo de combustível. Um produto processado, do campo ao consumo, percorre uma média de 2400 km antes de ser consumido.

Este estudo defende veementemente que o consumidor está na posição central para uma redução da utilização de energia. Como indivíduos, ao abraçar um estilo de vida “ecológico” , com a tomada de consciência das suas escolhas alimentares, podemos influenciar os recursos energéticos. Para isto basta comprar produtos locais e evitar alimentos processados, embalados e de qualidade nutricional inferior. Isto levaria a um ambiente mais limpo e a uma saúde melhor.
Fonte:IHU

HONDURAS - Truculência enfraquece Micheletti.

O decreto que suspende liberdades individuais baixado domingo por Roberto Micheletti provocou forte reação contrária ao atual governo em setores da sociedade hondurenha que apoiaram na primeira hora o golpe de Estado que derrubou Manuel Zelaya no dia 28 de junho.

A reportagem é de Ricardo Galhardo e publicada pelo jornal O Globo, 30-09-2009.

A truculência de Micheletti desagradou a setores do empresariado, Congresso, meios de comunicação e partidos políticos. Desde segundafeira passada, quando Zelaya se refugiou na embaixada brasileira, 2.200 pessoas foram detidas, segundo a Polícia Nacional, 134 delas desde que o decreto foi baixado. A maior parte já foi libertada.

Ontem, o presidente da Associação Nacional de Indústrias (Andi), Adolfo Facussé, divulgou uma proposta na qual pede abertamente a restituição de Zelaya, o que evidencia no mínimo uma divisão no segmento empresarial, que deu apoio irrestrito ao golpe.

Proposta inclui prisão domiciliar

Outros sinais vieram. O general Romeo Vásquez, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, eximiu os militares de responsabilidade no golpe. Foi ele quem executou a prisão de Zelaya, que estava de pijama na madrugada do dia 28. Segundo ele, um acordo político está próximo.

Perguntado sobre a responsabilidade dos militares, ele respondeu:

— Se isso fosse verdade eu seria o chefe de Estado.

O embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, veio a público pela primeira vez para, em entrevista a uma rádio local, reiterar o apoio do governo Barack Obama ao Acordo de San José, articulado pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que também prevê a restituição de Zelaya.

Antes o Congresso, partidos de centro-direita, alguns veículos de comunicação e a Igreja Católica já haviam dado sinais de descontentamento com o governo interino.

Uma comissão do Congresso esteve anteontem com Micheletti pedindo a revogação do decreto e provocando um recuo do presidente golpista. O movimento foi encabeçado pelos partidos Nacional e Liberal, os que têm maior representação no Parlamento e deram sustentação à destituição de Zelaya. Líder nas pesquisas, o candidato do Partido Liberal, Porfírio “Pepe” Lobo, é um dos maiores críticos do decreto. Ele é o maior interessado em que o processo eleitoral aconteça em condições minimamente aceitáveis.

A Igreja, que defendeu o golpe sob a justificativa da paz, agora participa das tentativas de acordo por meio do bispo auxiliar, Juan Jose Pineda, que esteve duas vezes com Zelaya na última semana.

O presidente interino passou o dia de ontem em reuniões com os diversos setores que pressionam o governo para tentar contornar a situação.

Segundo um parlamentar próximo do presidente, Micheletti está enfraquecido:

— Como vocês brasileiros dizem, foi um tiro no pé. O decreto espantou pessoas e setores que apoiaram o golpe, e Micheletti está hoje mais fragilizado do que na sexta-feira.

A proposta da Andi, mesmo que fadada ao fracasso por prever que Zelaya volte ao poder em prisão domiciliar, causou grande impacto nos meios político e empresarial. Membros do Conselho Hondurenho da Empresa Privada, um dos pilares do golpe, passaram a advogar pelo Acordo de San José.

— O que está sobre a mesa é o Acordo de San José e creio que falta mais iniciativa e agressividade para aplicá-lo. Não há mais nada na mesa — disse o presidente do conselho, Amílcar Búlnes.

O ministro da Indústria e Comércio do governo em exercício, Benjamin Bográn, negou que Micheletti esteja isolado.

— Cada setor pode fazer as propostas que achar convenientes. A proposta do governo continua sendo que o presidente Micheletti se retire em nome de uma terceira pessoa desde que Zelaya legitime as eleições — disse o ministro.

A pressão sobre o empresariado teria partido do embaixador dos EUA, que reuniu um grupo em sua casa na segunda-feira e cobrou uma solução nos marcos da proposta de Arias.

Além disso, o decreto é alvo de uma avalanche de ações judiciais (mais de cem até o final da tarde de ontem) e não tem impedido as manifestações da resistência.

Ontem, mais de duas mil pessoas voltaram a protestar pacificamente na porta da Universidade Pedagógica pela restituição de Zelaya. Uma pequena manifestação ocorreu em frente à Rádio Globo que, juntamente com o Canal 36, foi invadida, depredada e tirada do ar por tropas.

Também foram registrados protestos nos bairros de El Bosque, Buenos Aires e Colonia. Em nenhum deles houve atritos com a polícia.

Ironicamente, a única manifestação cancelada ontem havia sido preparada pelos partidários de Micheletti, os chamados camisas brancas, em apoio às eleições marcadas para o dia 29 de novembro.
Fonte:IHU

MEIO AMBIENTE - "Belo Monte foi proposto por megalômanos e trambiqueiros..."

“Belo Monte foi proposto por megalômanos e trambiqueiros há mais de 20 anos”. Entrevista especial com Oswaldo Sevá

“Acho que engenharia é uma coisa muito séria para ser praticada por pessoas que são mentirosas como este grupo que inventou e está tocando o projeto de Belo Monte há vinte anos. São mentirosos e agora estas mentiras estão começando a vir à tona, felizmente”. A afirmação é do professor Oswaldo Sevá, que faz, nesta entrevista que concedeu à IHU On-Line por telefone, uma crítica à construção da hidrelétrica de Belo Monte. Entre as consequências que a obra gerará, Sevá destaca que um lugar belíssimo conhecido como Volta Grande será completamente modificado. Ele indaga: “Porque pretendem cortar a Volta Grande inteira, abrindo canais imensos, do tamanho do canal do Panamá, para poder desviar essa água e cair na mesma margem?”. E, em seguida, responde, apontando que este projeto é absurdo, “foi imaginado por gente que só pensa em dinheiro”.

Oswaldo Sevá é graduado em Engenharia Mecânica de Produção pela Universidade de São Paulo. Fez mestrado em Engenharia de produção pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, e doutorado na Université de Paris I. Em 1988, a Universidade Estadual de Campinas, onde é professor atualmente, lhe concedeu o título de Livre-docência. Em seu site, o professor disponibiliza alguns arquivos sobre hidrelétricas em geral e sobre os projetos do rio Xingu. Sevá organizou três livros: TENOTÃ-MÕ. Alertas sobre as consequências dos projetos hidrelétricos no rio Xingu (São Paulo: International rivers Network, 2005); Riscos Técnicos coletivos ambientais na região de Campinas, SP (Campinas, SP: NEPAM - Unicamp, 1997); e Risco Ambiental - Roteiro para avaliação das condições de vida e de trabalho em três regiões : ABC/ SP, Belo Horizonte e Vale do Aço, MG, Recôncavo Baiano/BA (São Paulo: INSTY-Instituto Nacional de Saúde no Trabalho/CUT, 1992).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais são as principais falhas no projeto de Belo Monte?

Oswaldo Sevá – O projeto é completamente absurdo. Um projeto de hidrelétrica, atualmente, deveria ter outros critérios. Esse é um projeto velho, que foi desenhado pela primeira vez no final dos anos 1970. Primeiro foi feito o inventário para calcular o potencial hidráulico do Xingu, que é baseado em uma concepção que já existe alguns lugares no Brasil, como sobre o rio Jacuí, no Rio Grande do Sul. Se pega o meandro do rio, corta-se esse meandro, desviando a água por uma das margens, para se colocar as turbinas em uma casa de força, depois do meandro. Começa por não se tratar de um projeto de uma hidrelétrica qualquer, não tem nada de parecido com Itaipu, nem com Tucuruí, por exemplo. Não é uma usina que tem um único barramento, um prédio de concreto com as máquinas da casa de força e com vertedouros para o escoamento das cheias. É totalmente diferente disso.

Este projeto é muito mais parecido com o projeto da Usina Dona Francisca, no rio Jacuí, mas em uma dimensão cem vezes maior. Ele pega uma ideia da Volta Grande do Xingu. Esta pode ser enxergada a partir do satélite e aparece em qualquer mapa do Brasil, onde se vê o rio Xingu seguindo para o norte e descendo em direção ao rio Amazonas, de repente ele é obrigado a fazer uma volta de quase 200 quilômetros, chega a correr novamente para o sul, depois recomeça e aí retoma o rumo que ele tinha, fechando quase um anel completo, por isso chamado de Volta Grande. É um dos monumentos paisagísticos e fluviais do nosso planeta.

O projeto é absurdo porque pretende pegar um monumento fluvial, um lugar maravilhoso com cachoeiras de vários quilômetros de largura cada uma, com ilhas, arquipélagos florestados com morros dentro do rio, e pretende considerar que isso deve ser aproveitado para se fazer energia elétrica, simplesmente destruindo, fazendo uma coisa igual ou pior que Itaipu fez com as Cataratas das Sete Quedas do rio Paraná. Se fizermos isso com a Volta Grande, do Xingu, estaremos decretando a destruição de um dos lugares mais maravilhosos do mundo. Ninguém barrou as cataratas do Iguaçu, que eu saiba nem existe proposta para barrar, as cataratas do Niágara, nos Estados Unidos, as cataratas de Victória Falls no rio Zambezi, na África, portanto não tem que barrar e nem destruir a Volta Grande do Xingu. Isto é fácil de explicar desde que as pessoas estejam dispostas a considerar o planeta, os rios, a Amazônia, o que temos no mundo e o que as futuras gerações terão. Para discutir em termos de energia elétrica, custos e habilidade econômica, daria para fazer um rosário de argumentos.

IHU On-Line – Que critérios deve ter um projeto de hidrelétrica?

Oswaldo Sevá – Acho que não existem critérios. Quando se fizeram a maioria das hidrelétricas brasileiras, entre os anos 1940 e 1980, o único critério que vigorava era medir a velocidade do rio, o desnível que existia, e construir uma usina de tal maneira que aproveitasse o máximo possível esta vazão. Este critério é de uma determinada época, já passou, porque, na maioria dos lugares em que permitia fazer isso, já foi feito. Não é um problema de falta de critério, é de visão de mundo. As pessoas chegam lá, os burocratas, engenheiros, calculistas, as empresas que ganham dinheiro fazendo obras e vendendo eletricidade, olham um lugar maravilhoso como aquele, e só fazem contas, acham que vão conseguir modificar a geografia e o relevo daquele lugar de tal forma que isso vire um empreendimento rentável. Mesmo que fosse decidido fazer alguma obra lá, jamais deveria ser deste tamanho e com esta concepção. Ainda tenho muita esperança que os bancos financiadores e as entidades seguradoras vão descobrir isso, que é um projeto totalmente inviável do ponto de vista econômico exatamente porque é absurdo como projeto de engenharia. É um projeto que nem o próprio governo é capaz de dizer, até hoje, quanto irá custar. Até um ano atrás diziam uma mentira, que custaria sete bilhões de reais, depois passaram a dizer que iria custar onze, atualmente dizem que vai custar dezesseis, mas todo mundo sabe que vai custar pelo menos trinta. Tudo isso é o resultado de um processo completamente descontrolado de mentiras, de argumentos falaciosos, de falsidades que foram sendo construídas nos últimos vinte anos. É como se fosse um castelo de areia que está começando a ruir. Ainda bem.

IHU On-Line – E que debates foram feitos na época em que Itaipu foi construída?

Oswaldo Sevá – Quando Itaipu foi construída, eu tinha acabado de me formar em Engenharia Mecânica, começava a dar aula em universidades e ainda não era um especialista na área de energia, embora prestasse muita atenção na natureza. Itaipu foi construída como resultado da união dos esforços de duas ditaduras militares, com meia dúzia de grandes empresas internacionais e mais a empresa brasileira Camargo Correa, que se tornou, a partir daí, uma multinacional. Foi resultado de duas ditaduras sangrentas, como foram a do ditador Stroessner, no Paraguai, e, no Brasil após o massivo período do Médici e do Geisel. Foram eles que decidiram fazer o que era melhor possível do ponto de vista do capitalismo da época e dos lucros das empresas que iam construir e vender os equipamentos, e simplesmente desprezaram qualquer critério de bom senso.

Itaipu nunca teve nenhuma cachoeira, na realidade era um trecho do rio em que as costas eram um pouco mais íngremes, formavam uma espécie de desfiladeiro natural com uma vazão muito grande. Foi necessário construir um prédio de 120 metros de altura, com mais de um quilômetro de largura, para fazer uma queda totalmente artificial que ali não existia. Lá no começo da represa de Itaipu, colocaram Sete Quedas embaixo d’água. Se tivessem feito ela trinta ou quarenta metros mais baixa, geraria 60 ou 70% da energia que gera e estariam ainda livres para visitação de milhões de turistas por ano, que iam deixar lá tanto dinheiro, praticamente o quanto se ganha com a venda de eletricidade, e estaria preservado aquele monumento fluvial para o resto da história do planeta. Faço questão de insistir nisso. As pessoas ficam querendo discutir, dialogar com o governo e as empresas no mesmo terreno. Eu faço questão de dizer que estou em outro terreno, em que eles não são capazes de dizer nada. Estou no terreno da ética e da civilização. Acho que engenharia é uma coisa muito séria para ser praticada por pessoas que são mentirosas como este grupo que inventou e está tocando o projeto de Belo Monte há vinte anos. São mentirosos e agora estas mentiras estão começando a vir à tona, felizmente.

IHU On-Line – O que a obra de Belo Monte trará para o rio Xingu?

Oswaldo Sevá – É difícil saber o que uma obra feita em um ponto determinado do rio traz de consequência como um todo. O rio Xingu tem 2.300 quilômetros de comprimento, começa perto de Cuiabá, no planalto mato-grossense. O início dele está muito comprometido com o agronegócio, com a expansão do plantio de soja, de milho, e depois tem um pedaço grande, relativamente preservado, onde fica o parque indígena do Xingu. Graças a Deus, foi criado um parque com uma área imensa, um conjunto de terras indígenas que já estão homologadas há quase 50 anos, e que é um pedaço que está muito mais preservado. Depois ele entra em um trecho encachoeirado, com quase 1.000 quilômetros ao longo do estado do Pará, e, lá no final deste trecho, um pouco antes dele desembocar no rio Amazonas, é que tem esta Volta Grande, onde a obra será construída.

Para o rio como um todo, se for feita, seria a primeira grande barragem, e iria interromper o fluxo natural do rio com consequências mais locais onde seria interrompido. Será a primeira barragem, mas não vai parar por aí porque se conseguirem fazer esta ninguém segura mais depois. Nos próximos vinte, trinta e quarenta anos vão ser feitas as outras quatro barragens que já foram calculadas e projetadas. Todo o rio brasileiro que tem uma barragem acaba tendo várias outras, não conheço história de um rio que tenha uma só. Nem o rio Jacuí, o rio Uruguai, o Iguaçu, o Paranapanema, o São Francisco e o Tocantins. Isto é uma empulhação que o governo federal resolveu fazer de um ano pra cá, de dizer que iriam fazer uma só. É tudo mentira, e ainda com a resolução que não tem menor valor de lei, de um conselho ministerial que praticamente não se reúne.

Então, se várias barragens forem feitas, o rio será destruído, passa a ser uma sucessão de lagos, de represas, como são vários rios brasileiros. Eles têm muita utilidade, podem gerar energia, criar peixes, podem ter hospedagem de classe média ou até de luxo na beira do rio para fazer turismo, mas deixa de ser um rio. Muitas vezes, a água apodrece, as espécies de peixe mudam, mas isso é um assunto para pessoas que são da área de ciências naturais, eles é que sabem direito qual é a consequência, mas só perder a Volta Grande já é uma algo enorme. O rio vai perder o seu principal trecho encachoeirado, uma parte dele vai ficar dentro d’água, e outra vai ficar sem água, completamente seca. As pessoas que moram lá não vão aguentar porque não vão ter nem água de poço para beber. Tem aspectos da vida local que também não estão sendo muito falados. Aquilo vai virar um inferno se, por acaso, a obra for feita, pois, as pessoas não vão mais ter condições de morar na região. Quem estiver na área alagada tem que sair, quem estiver na área seca vai sair também, pois será impossível de viver.

IHU On-Line – Um pesquisador afirmou que somente 39% da potência instalada de Belo Monte se transformará em energia firme. O que será feito com o resto?

Oswaldo Sevá – Sobre discussão de energia firme acho o seguinte: estudei isso durante muito tempo, sou engenheiro mecânico, dou aula de energia na UNICAMP há muitos anos, acompanho várias obras e já conversei com pessoas que operam usinas hidrelétricas. Pouquíssimas pessoas no Brasil têm um conhecimento sofisticado, profundo, do funcionamento dos rios ao longo do ano, para poder afirmar que uma coisa que não existe ainda, no futuro, só terá uma determinada potência que é “x” % da potência das máquinas. Essa é uma questão que serve para ficarmos dizendo como a usina é mal projetada, mas não é por aí, pois, qualquer hidrelétrica tem muito mais máquinas do que precisa, porque, às vezes, elas têm que parar para manutenção. É preciso ter reservas. Durante o verão amazônico, pode acontecer de o rio Xingu não ter água suficiente para virar qualquer uma das máquinas previstas.

Agora, voltamos à questão: Por que pretendem instalar onze mil megawatts? Por que pretendem cortar a Volta Grande inteira, abrindo canais imensos, do tamanho do canal do Panamá, para poder desviar essa água e cair na mesma margem? Porque é um projeto absurdo, foi imaginado por gente que só pensa em dinheiro e está pensando em criar as coisas mais absurdas do mundo e que vai conseguir usar o dinheiro público para isso, e assim, ganhar dinheiro fazendo essas obras. É um problema de concepção. Vamos fazer as maiores obras de Engenharia Civil para ter a maior de todas, que é o jeito que encontraram para ganhar mais dinheiro. É uma coisa relativamente simples para qualquer cidadão entender. Estamos numa situação difícil de quase esquizofrenia para a sociedade, pois, Belo Monte foi proposto por megalômanos e trambiqueiros há mais de 20 anos, que continuaram a mentir para todo mundo do governo – que acreditam nas mentiras – e agora está chegando a hora da verdade, ou seja, o projeto começa a ser conhecido, mais detalhado e, ainda assim, não se tem a ideia do custo.

Esse é o indicador mais evidente dessa esquizofrenia. O governo diz que vai colocar a leilão a energia de Belo Monte daqui dois ou três meses e até hoje ninguém sabe quanto ele vai custar. Não existe isso em lugar nenhum no mundo. Esse é um sintoma de insanidade mental que foi mantida durante 20 anos. Podemos ficar horas falando dos impactos aqui e ali, inclusive sobre a energia firme que você levantou nessa questão. Acho, inclusive, que a maioria dos que estão falando da energia firme conhece muito pouco o problema. Aqui na Unicamp, onde eu trabalho, deve ter três ou quatro pessoas só que entendem direitinho do funcionamento dos rios e que seriam capazes de dizer alguma coisa a respeito disso. As simulações que fizemos aqui na Faculdade de Engenharia Elétrica são totalmente diferentes dos cálculos do governo.

IHU On-Line – Qual sua opinião sobre as audiências públicas que foram feitas sobre a construção de Belo Monte?

Oswaldo Sevá – Eu estava analisando de longe, pois não pude participar porque há alguns meses fiz uma cirurgia muito pesada e estou em fase de tratamento. Fiquei na retaguarda, recebendo noticias e fotografias. Já participei de muitas audiências públicas em São Paulo, as audiências que são feitas pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo são muito mais organizadas e democráticas nesse sentido. O tempo de apresentação dos empreendedores e das entidades ambientalistas é mais ou menos equiparado. Os políticos não falam no começo da audiência, porque ela é técnica. Além disso, as quais participei, tiveram um caráter informativo maior porque fazia-se uma série de observações, assim, o empreendedor tinha o direito de replicar, e as entidades ambientalistas tinham direito a treplicar. Eram muito interessantes, muitas delas foram tensas, tiveram a presença da polícia. Mas nas audiências de lá, estavam todos morrendo de medo, de novo, que os índios fossem lá fazer aquela covardia como fizeram em maio de 2008 e machucaram o engenheiro da Eletrobrás. Com isso, botaram cerca de 400 policiais, guardas nacionais, agentes da ABIN e polícia federal para proteger os caras do IBAMA e empreendedores. Então, é difícil imaginar uma audiência verdadeira com um clima desses.

A audiência não pesa no licenciamento. Ela é uma espécie de mise-en-scène que o empreendedor faz questão que seja realizado, porque depois tem que demonstrar que houve participação pública, e que o IBAMA também faz questão de realizar para ter um álibi. Mas a decisão, no caso de Belo Monte, já está tomada lá em cima, lá na Casa Civil, que já mandou dizer ao Carlos Minc logo que entrou no Ministério, que Belo Monte vai ter a licença prévia ambiental concedida. No fundo, você pode dizer que é uma palhaçada, porque as pessoas que levam a sério vão lá, gastam dinheiro do próprio bolso, mas, para o IBAMA e para os empreendedores, aquilo é um teatro, porque já está tudo resolvido. O IBAMA vai conceder a licença prévia, só não vai fazer isso se acontecer algum terremoto. Essa decisão é do governo. A audiência é um meio para desgastar e é, também, um álibi. É uma pena, porque poderia ser de fato um momento para haver um debate.
Fonte:IHU

terça-feira, 29 de setembro de 2009

ANOS DE CHUMBO - Senado participará de homenagem a guerrilheiro do Araguaia.

O Senado deve enviar uma comissão parlamentar a Fortaleza (CE) onde no próximo dia 6 ocorrerá o enterro dos restos mortais de Bérgson Gurjão, morto na década de 70 durante a Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência à ditadura militar comandado pelo PCdoB. A solicitação para o envio da comissão foi feita nesta terça (29) à Mesa da Casa pelo líder do partido no Senado, Inácio Arruda (CE).
São dois os desaparecidos políticos do Araguaia cujos restos mortais foram reconhecidos. A primeira foi Maria Lúcia Petit da Silva, que teve suas ossadas identificadas em 1996 e sepultada por seus familiares em Bauru, São Paulo.

Para o parlamentar, a presença do Senado no ato é carregado de simbolismo. É o reconhecimento aos brasileiros que lutaram e deram a vida por um país democrático e com justiça social.

“O enterro dos seus restos mortais será um momento para rendermos um tributo a mais esse brasileiro que entregou sua vida à causa da justiça e da liberdade, bem como à seus familiares que, após sofrerem por 37 anos, terão assegurado o direito de dar uma sepultura digna a um ente querido”, afirmou Inácio.

Em julho, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos confirmaram, após realização de exame de DNA, a identificação dos restos mortais de Bergson, desaparecido no Araguaia em 1972, aos 25 anos.

Bergson cursou Química Universidade Federal do Ceará (UFC). Era vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) quando foi preso durante o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), em outubro de 1968. Em 1969 foi condenado a dois anos de prisão pela Justiça Militar. Já na clandestinidade, mudou para o Araguaia onde viveu na área de Caianos.

De Brasília com informações do gabinete do senador Inácio Arruda
Fonte:Site O Vermelho.

AGRICULTURA - CNBB E ABI APOIAM MST NA LUTA PELA REVISÃO DOS ÍNDICES.

Diante da ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade, o MST recebeu apoio na luta pela revisão dos índices de produtividade do presidente da Comissão Episcopal de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Pedro Luiz Stringhini, e do presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício de Lima Azêdo.

"Solidarizamo-nos com as centenas de famílias acampadas, algumas delas há muitos anos, às margens das estradas em todo o território brasileiro", afirma Dom Pedro Luiz, em nota enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual defende a atualização dos índices de produtividade (leia abaixo versão integral). "As Pastorais Sociais compartilham a convicção de que a reforma agrária contribui para a superação da situação de miséria e abandono dos acampados, muitos deles crianças e idosos. Sobretudo, permite destinar as terras, prioritariamente, para a produção de alimentos e a preservação ambiental".

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício de Lima Azêdo, assinou o Manifesto em Defesa da Democracia e do MST. Segundo o documento, "o compromisso do governo de rever os critérios de produtividade para a agricultura brasileira, responde a uma bandeira de quatro décadas de lutas dos movimentos dos trabalhadores do campo. Ao exigir a atualização desses índices, os trabalhadores do campo estão apenas exigindo o cumprimento da Constituição Federal, e que os avanços científicos e tecnológicos ocorridos nas últimas quatro décadas, sejam incorporados aos métodos de medir a produtividade agrícola do nosso País.

O manifesto, que recebeu mais de 3500 assinaturas, foi lançado por intelectuais, escritores, artistas, partidos, entidades nacionais e internacionais. O texto avalia que a ameaça de criação de uma CPI contra o MST é uma represália à bandeira da atualização dos índices de produtividade. "É por essa razão que se arma, hoje, uma nova ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade contra o Movimento dos Sem Terra – seja no Congresso Nacional, seja nos monopólios de comunicação, seja nos lobbies de pressão em todas as esferas de Poder", afirma o manifesto.

A seguir a carta enviada ao presidente Lula pela CNBB

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz

Excelentíssimo Senhor
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil

Nós, agentes de pastoral, coordenadores e coordenadoras nacionais e regionais, assessores e bispos referenciais das pastorais sociais, presentes no Encontro Nacional das Pastorais Sociais da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através deste comunicado, solidarizamo-nos com as centenas de famílias acampadas, algumas delas há muitos anos, às margens das estradas em todo o território brasileiro.

A Constituição Brasileira determina que uma propriedade cumpra sua função social para que o seu proprietário continue tendo direito de posse sobre ela. Segundo a Constituição, os índices de produtividade determinam se uma propriedade é produtiva ou não. De acordo com a Lei, estes dados deveriam ser atualizados periodicamente, levando em conta os avanços tecnológicos e o emprego de novos conhecimentos na produção agrícola.

No início do mês de agosto, Vossa Excelência afirmou que, num prazo máximo de 15 dias, iria atualizar os índices de produtividade da terra, o que representaria avanço no processo de reforma agrária no Brasil. Com esta atualização, os órgãos responsáveis pela reforma agrária passam a ter mais agilidade e ferramentas para determinar que as propriedades cumpram sua função social ou venham a ser desapropriadas para fins de reforma agrária.

A sociedade tem assistido os ataques ao Governo por parte de latifundiários contrários à atualização desses índices. O próprio Ministério da Agricultura se recusou a assinar a portaria interministerial determinada pelo senhor Presidente da República.

Os índices de produtividade utilizados pelo INCRA a partir de dados do IBGE de 1975 estão defasados. Por isso, a atualização dos índices de produtividade é pauta de mobilização dos movimentos de luta pela terra, e do Fórum Nacional de Reforma Agrária.

As Pastorais Sociais compartilham a convicção de que a reforma agrária contribui para a superação da situação de miséria e abandono dos acampados, muitos deles crianças e idosos. Sobretudo, permite destinar as terras, prioritariamente, para a produção de alimentos e a preservação ambiental.

Reafirmando nosso compromisso com o povo do campo, os indígenas, as comunidades negras e quilombolas, que lutam cotidianamente pela democratização da terra, solicitamos a Vossa Excelência, em cumprimento do que estabelece a Constituição Federal, a assinatura do decreto que atualiza os índices de produtividade no campo.
Na oportunidade, expressamos a Vossa Excelência os sentimentos de grande respeito, apreço e confiança.

Fraternalmente,

Dom Pedro Luiz Stringhini
Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
Fonte:MST