A Folha de S. Paulo publica hoje um artigo do enonomista Luiz Carlos Mendonça de Barros, aquele que presidiu o BNDES no Governo Fernando Henrique Cardoso e usou o banco público como alavanca dos grupos privados no processo de compra das empresas estatais. Nele, Barros insinua a possibilidade de que o Copom e o Banco Central tenham tomado “uma decisão política” ao recusar, pelo menso por mais um mês, uma elevação na taxa de juros.
O Dr. Mendonça não precisa ter esta dúvida: foi mesmo uma decisão política, tomada a contragosto pelo voto do próprio presidente do BC, Henrique Meirelles. Não tenham dúvidas de que, se ele não tivesse de prestar contas ao Governo que o povo elegeu e que o nomeou para o cargos, o Dr. Meirelles teria aumentado os juros. É o que corresponde à sua cabeça, à sua cultura de banqueiro.
Mas o presidente do BC não é um banqueiro, é uma autoridade pública à qual se delega o controle da moeda e a regulação do sistema bancário e cambial.
Existem pressões políticas pela manutenção e até pela baixa dos juros: pressões do Governo, do empresariado da produção e dos consumidores e da opinião pública. Assim como existem pressões para aumentar os juros: dos banqueiros, dos rentistas, dos investidores estrangeiros que aplicam nos rentáveis títulos públicos brasileiros, que pagam um dos melhores juros do planeta.
A elevação dos juros teria, portanto, sido uma decisão política. Todas as decisões o são, a partir de um certo ponto. Existem, é claro, orientações e limites técnicos. Num momento de aquecimento da economia como o que vivemos, seria uma temeridade baixar para zero ou 0,5 os juros, como o fazem EUA e Europa. Dependemos de fluxos financeiros para suprir a redução do comércio exterior, que perdeu espaço com a depreciação do dólar. Esta entrada de dólar, porém, ajuda a depreciar mais o câmbie e o ciclo se reinicia.
Mas, da mesma forma, o Brasil não tem razão para caminhar em sentido contrário. Uma taxa de juros de 8,5% de juros, nos padrões mundiais da atualidade, já é monstruosa. Não se consegue um juros real neste padrão (descontada a inflação, os juros são de perto de 4%) em parte alguma do mundo. Nem a metade disso se consegue, a não ser aplicando em mercados de altíssimo risco. Aumenta-los ainda mais seria um absurdo.
Já publiquei aqui que há um forte lobby por este aumento. O “mercado” estimula previsões terríveis sobre a inflação e, pelos mecanismos psicológicos naturais, a expectativa de inflação alimenta o próprio preocesso inflacionário. Natural: diante de um mercado aquecido e de uma previsão de alta de custos, que empresa não quer se proteger com reajustes de preços?
O Dr. Barros acha um terror a possibilidade de que o Brasil cresca 6,5%. A China, faz anos, cresce 9%. O Dr. Barros acha um terror que o desemprego no Brasil desça a 5%. Natural, com menos desemprego, as pressões por salários melhores aumentam. Publico aí do lado o gráfico que a própria Folha publica hoje também. Mesmo com a maioria das categorias tendo conseguido aumentos reais no ano passado, estes são mínimos, abaixo de 2%.
Não há crise de superemprego, como não há de superconsumo. Há uma situação de normalidade, que é a de os trabalhadores procurarem ganhar um pouco mais e a de os consumidores comprarem um pouco mais. E um pouco mais, no Brasil, é quase nada.
O que há é a preocupação de ganhar mais nas finanças e nas escalas de produção. Hoje, no mesmo jornal, há um claro exemplo. A Embraer, que há um ano dizia que estava “quebrando” justivicou com isso a demissão de mais de quatro mil trabalhadores. Pois a empresa que estava “quebrando” lucrou “apenas” R$ 895 milhões em 2009, o dobro do que havia lucrado em 2008.
O terror da crise foi a justificativa para as demissões, como o terror da inflação é o pretexto para a alta de juros. Há muito dinheiro “apostado” no mercado de juros futuros, e o duelo vai ser, em parte, definido por quem “piscar” primeiro.
Fonte:Blog Tijolaço.
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