sexta-feira, 19 de março de 2010

A HORA E A VEZ DOS ASIÁTICOS.




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Leonardo Boff *

Adital

Se considerarmos os desdobramentos da crise econômico-financeira atual constatamos uma preocupante inércia. Os EUA conseguiram dobrar os europeus na decisão de manter o mercado como eixo central da economia com a promessa de controles e regulações que ainda não foram tomadas. Barac Obama se inclinou na direção de Wall Street e com dinheiros dos contribuintes salvou e apoiou bancos que foram os principais vilões da crise. Mais e mais se mostra um presidente que obedece à lógica de um império em franca decadência, cuja única força que realmente conta é sua capacidade de matar todo mundo e de destruir a vida do planeta. Essa é a verdade que ninguém gosta de dizer e de ouvir.

A ajuda que os G-20 em abril de 2009 prometeram em Londres aos países vulneráveis, um trilhão e cem bilhões de dólares, somente 5% foram realmente concedidos. Esta ajuda é 360 vezes menor que os 18 trilhões de dólares destinados para salvar as falidas instituições financeiras dos países ricos. A especulação financeira corre solta como antes da crise. Não sem razão, os dois proeminentes prêmios Nobeis de economia, Joseph Stiglitz e Paul Krugman, prevêem para breve uma nova crise mais grave que a anterior. Vivemos gaiamente como nos tempos de Noé, comendo, bebendo e nos divertindo.

Mesmo assim a atual crise produziu ou reforçou três fenômenos que merecem ser notados.
O primeiro é uma desglobalização que se dá através de uma regionalização da economia: a criação de grupos regionais, como Mercosul, Alba, Nafta, BRIC, ASEAN(10 países entre os quais, Birmânia, Indonésia, Singapura etc.), OCDE, Comunidade Européia, OSC (Organização de Xangai com China, Rússia, Kazaquistão etc.) e outros. As políticas são coordenadas para evitar crises e com bancos regionais fortes, dispensando o FMI.

O segundo é o deslocamento do centro de gravidade do Atlântico Norte para o Pacífico e a Ásia. Aqui estão 44% de todas as reservas mundiais. O PIB da China é da ordem de 7,8 trilhões de dólares e é ela que sustenta o consumo dos EUA; do Japão é de 4,5 trilhões; da Coréia do Sul é de 1,3 trilhões; e da Indonésia é de 932.100 bilhões. As reservas destes quatro países somam 7,34 trilhões de dólares. Marx nos deixou esta lição: a economia atrai pós si a política, a cultura e a hegemonia do mundo. Os asiáticos pretenderão moldar o processo mundial com traços asiáticos especialmente chineses. É a vez deles.

Por fim, o surgimento de uma ação mundial coletiva contra a atual situação crítica. Ela nasce de uma profunda decepção e de muita raiva existentes no mundo. Agora já são 60 milhões de desempregados. Dentro de pouco serão mais de cem milhões. Tudo indica que a solução para o aquecimento e para a crise ecológica generalizada não poderá vir da política, perpassada de interesses nacionais e de muita corrupção.

Estão surgindo esboços de Organizações de Salvação da Humanidade e da Vida. Líderes, grupos, movimentos, setores religiosos, associações, articulações mundiais, de forma desesperada, quererão tomar a história em suas mãos. Milhões de refugiados climáticos forçarão os limites políticos de muitas nações em busca de sobrevivência. Haverá manifestações multitudinárias de descontentes diante dos bancos, dos parlamentos e dos palácios de governo exigindo medidas drásticas para garantir a seguridade alimentar, postos de trabalho, água potável, proteção contra as devastações dos eventos extremos. Quem resistirá às multidões enraivecidas?

A economia do puro crescimento para o consumo, motor da economia capitalista e do PAC do governo Lula, no fundo diz: "às favas com a natureza e que se danem as gerações futuras; nós queremos continuar crescendo e aumentar o PIB, pois é isso que nos faz potência". Mas todos gritarão: "Basta, seus geocidas! Queremos uma economia verde que nos faça viver e que seja adequada à nova situação da Terra". Sem essa viragem dificilmente escaparemos da vingança de Gaia.

Disse-o e honrei a minha consciência.

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