sexta-feira, 12 de março de 2010

ELEIÇÕES - Ciro, candidato a vice de Dilma?

Carlos Chagas

Desde segunda-feira que se sucedem jantares de indignação na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, reunindo o próprio, Michel Temer, mais Eliseu Padilha, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e outros caciques do PMDB. Numa dessas noites não faltou sequer o rebelde Jarbas Vasconcelos.

A indignação tem dado lugar a planos de represália, porque o PMDB chegou à conclusão de ser definitivo o veto do presidente Lula à candidatura de Michel Temer a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff. As preferências do primeiro-companheiro vão para o deputado Ciro Gomes e devem-se ao crescimento de Dilma nas pesquisas eleitorais. O Palácio do Planalto acredita que não precisará mais amparar-se na bengala do PMDB, tamanha a euforia diante da evidência de que a popularidade e os votos do Lula começam a transferir-se para a candidata.

Henrique Meirelles deixou de ser uma alternativa, concluindo o comando da campanha da ministra que o presidente do Banco Central seria um peso morto, apesar de dar tranqüilidade às forças econômicas dispostas em torno do governo. Não traria um voto a mais, precisamente o contrário de Ciro Gomes, com vôo próprio, liderança e percentuais ainda razoáveis nas tomadas de opinião.

Por hora, Ciro é pré-candidato à presidência da República, mas deve ser registrada a forma como elogia Dilma Rousseff e o modo como reconhece a liderança do Lula, na aliança integrada pelo Partido Socialista. O ex-ministro e ex-governador do Ceará já teria sido informado e sensibilizado pela hipótese, ainda que muitas conversas devam preceder sua decisão final.

Enquanto isso, o PMDB amarga a rejeição e prepara a reação. Apenas a união do partido em torno da candidatura própria poderia assustar o presidente Lula, mas o candidato óbvio, Roberto Requião, tem pavio curto. Até agora foi desconsiderado pelo alto comando do partido, além de boicotado pela mídia. Se os dirigentes peemedebistas acertarem nos próximos dias comícios e viagens pelo país, fechados em torno do governador do Paraná, com Michel Temer à frente, é possível que a candidatura prospere e que aconteça surpreendente virada no quadro sucessório. Porque as bases do partido são favoráveis à indicação de um candidato saído de seus quadros, como maior partido nacional. Caso contrário, Requião concorrerá ao Senado.

Reformulações

Viabilizando-se a chapa Dilma-Ciro, muita coisa mudará na sucessão. A primeira, de que o PMDB tornará mais difíceis suas relações com o governo, no Congresso, mesmo sem abandonar a aliança governista e os cargos que ocupa na administração federal. Outra conseqüência parece levar os tucanos a decolar com mais empenho e rapidez, não apenas agilizando o lançamento de José Serra como fechando o cerco em torno do governador Aécio Neves, para que aceite ser candidato a vice-presidente do colega paulista.

Dúvidas inexistem, serão duas chapas de peso considerável emergindo da pasmaceira que vinha caracterizando a corrida sucessória, e com uma peculiaridade: em outubro não mais aconteceria um plebiscito entre os governos de Fernando Henrique e do Lula, mas um promissor debate a respeito do futuro.

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