O grande perigo que ronda hoje a sociedade norte-americana é a radicalização de processo político. Essa radicalização germinou e cresceu durante os quatorze meses de debates e manifestações públicas sobre o projeto de reforma do sistema de saúde no país, uma das prioridades do governo Obama.
O projeto passou finalmente na última quinta-feira, depois de tantas idas e vindas da Câmara para o Senado e vice-versa, num processo legislativo tão confuso que até os comentaristas da TV tinham dificuldade em explicar.
Uma coisa é certa. Os democratas venceram, mas a direita radical republicana saiu bastante fortalecida e disposta a encarar desafios maiores, inclusive o de recuperar a maioria no Legislativo nas eleições de novembro deste ano, o que será desastroso para o governo Obama.
No dia seguinte à aprovação do projeto da saúde, pedras foram atiradas contra vidraças de escritórios democratas em algumas cidades do país, uma delas levava uma mensagem assustadora: “o extremismo em defesa da liberdade não é ilegal”, frase pronunciada pelo candidato republicano à presidência em 1964, Barry Goldwater. Ameaças de morte gravadas em secretárias eletrônicas e até atos de vandalismo praticados em casas de parlamentares ou de seus parentes estão sendo investigados pelo FBI.
Segurar essa direita radical que está incendiando o país é tarefa urgente que tem que partir dos republicanos mais moderados, mas o partido parece anestesiado por figuras radicais como a ex-candidata a vice na chapa de McCahn, Sarah Palin. Ambiciosa, Palin não se cansa de pregar atitudes mais agressivas, como neste sábado quando participou de uma concentração e discursou para uma multidão de seguidores em Nevada, pedindo a demissão de Obama, de Nancy Pelosi (a presidente da Câmara dos Deputados) e de Harry Reid, líder do governo no Senado e natural daquele Estado: “eles estão demitidos, vamos tomar deles o que é nosso, dos verdadeiros americanos”, gritou ela para uma multidão de fanáticos seguidores.
Um outro episódio que revela o nivel de sectarismo que tomou conta de certas figuras republicanas aconteceu esta semana no Canadá, onde Ann Coulter, comentarista da Fox News, o braço dos setores radicais republicanos na mídia, foi hostilizada e impedida de falar por estudantes na Universidade de Ontario.
A indignação dos estudantes contra Coulter não foi gratuita. Um dia antes, em palestra em outra universidade canadense, a estudante de origem muçulmana Fatima Daher - citando declaração anterior de Coulter de que "muçulmanos deveriam ser proibidos de viajar de avião e deveriam voar em um tapete mágico” - perguntou à palestrante como poderia voar já que não possuia um tapete mágico. “Pegue um camelo”, respondeu Coulter.
Imediatamente a estudante ofendida abandonou a sala, no que foi acompanhada pela maioria dos colegas presentes.
No dia seguinte, Coulter declarou que tudo não passou de uma brincadeira, que ela costuma fazer em seus comentários ácidos na TV. Mas a desculpa não colou e os estudantes de Ontario vingaram a colega ofendida manifestando-se contra a presença dela. A direção da escola achou por bem suspender a palestra para evitar maiores problemas.
Mas Coulter não estava brincando, não. Ela é conhecida por frases agressivas que insuflam a violência. Na época dos atentados terroristas de 2001, ela comentou que os Estados Unidos “deveriam invadir os países muçulmanos, matar todos os seus líderes e converter as populações ao cristianismo".
Em outra ocasião, ela lamentou que “Timothy McVeigh não tenha explodido o prédio do New York Times”. McVeigh foi aquele que colocou uma bomba num prédio do governo em Oklahoma City, em 1995, matando 168 pessoas.
Palin e Coulter, ambas contratadas da Fox News, são o melhor retrato do radicalismo que tomou conta do Partido Republicano. Elas têm carisma e contam com generosos espaços na TV para fazer a cabeça de milhões de americanos que não enxergam adiante do próprio umbigo e são capazes de qualquer loucura quando guiados por falsos líderes para o fanatismo.
A história do país está repleta de exemplos. |
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