sexta-feira, 26 de março de 2010

MÍDIA - Jornalismo comparado.

Do blog TIJOLAÇO.

Se eu escrevesse aqui um título dizendo que “Governo Lula prende governador de Brasília” todo mundo me chamaria de mentiroso, e com razão. Não foi o Lula quem mandou prender Arruda, embora pudesse até ter vontade de fazê-lo (ou não, o que não importa, pois não poderia fazê-lo). Ele foi preso por uma força policial – a PF – subordinada a Lula, mas cumprindo sua função de Estado.

Bom, o que seria mentiroso no meu modesto blog é o mesmo que faz a Folha, hoje, na sua manchete “Governo Chávez prende dono de TV oposicionista”.

Quando você lê a matéria, vê que Guillermo Zuloaga, dono da Globovisión, foi preso quando se preparava para voar em seu jatinho particular, rumo às Antilhas Holandesas, sim, mas por ordem judicial e a pedido do Ministério Público, e não arbitrariamente pelo “Governo Chávez”.

Quem a pediu foi esta senhora aí da foto, a Dra. Luisa Ortega Dias, procuradora-geral do MP daquele país, que , em princípio, goza da mesma independência e autonomia do nosso, aqui, estabelecida em sua Lei Orgânica (texto aqui). E quem a determinou foi o juiz da 40a. Vara de Caracas, o mesmo que depois mandou soltá-lo, depois de ouvi-lo por duas horas, desde que não deixe o país.

Zuloaga está sendo processado por dizer que o presidente Hugo Chávez ordenara “atirar e mandar chumbo” contra o povo venezuelano. A lei venezuelana responsabiliza criminalmente o uso de meios concedidos de comunicação para divulgação de informações falsas.

Não estou defendendo que o senhor Zuloaga, o dono da maior rede de televisão seja preso, ao contrário. Não tenho informações para dar opinião e acho que ninguém é culpado de nada até que se prove e julgue.

(Um parentesis: televisão não é concessão? como pode ser “oposicionista”, como diz a Folha? Já pensaram numa companhia de eletricidade oposicionista, ou numa telefônica oposicionista? E a Folha, é um jornal situacionista ou oposicionista? ).

Mas daí a transformar uma ação judicial em um ato arbitrário do “Governo Chávez”, vai uma boa distância, não é?

Ou a Folha acusa o Ministério Público e a Justiça da Venezuela de estarem aliados a um processo autoritário? Se o faz, deveria explicar as razões. Mas não diz nada.

Ou será que um dono de televisão não pode sofrer processo e, por ordem judicial ser preso? É um Daniel Dantas venezuelano?

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