sexta-feira, 12 de março de 2010

ANOS DE CHUMBO - Como pensam os gorilas.

Coronel repressor mostra como pensam os gorilas de 64

Na busca por informações sobre a localidade dos combatentes mortos na Guerrilha do Araguaia, a 29º Vara Federal do Rio de Janeiro convocou, no dia 3, o Coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel, que atuou na repressão.

Lício é obrigado a prestar esclarecimento na justiça. Foto: Bernardo Gabriel

Lício, hoje com 80 anos, já publicou um livro, “Guerrilha do Araguaia – Relato de um Combatente” contanto sua verão dos fatos. Um outro livro também trata da sua passagem pela região, “O Coronel Rompe o Silêncio”, de Luiz Maklouf Carvalho.

A audiência para colher o depoimento de Lício foi uma decisão da justiça federal, onde corre o processo aberto em 1982 pelos familiares dos guerrilheiros mortos, que teve como advogado o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. Através desta ação, a União foi obrigada a esclarecer e dizer onde estão os desaparecidos da guerrilha.

Segundo o membro do Comitê Estadual do PCdoB, Djalma Oliveira, que teve sua irmã morta na guerrilha (Dina Oliveira), o coronel não deu qualquer informação sobre o local onde estão enterrados os guerrilheros e fez inclusive ironias, taxando os combatentes de “comunistas safados”. A juíza que conduzia os questionamentos ameaçou dar voz de prisão pelas ironias e pelo coronel não ajudar nos esclarecimentos.

Lício Augusto Ribeiro Maciel era major-adjunto do Centro de Informações do Exército, quando atuou na repressão à guerrilha. O então major foi o responsável pelo assassinato de quatro guerrilheiros, entre eles André Grabois. Foi ele também o resposável por fuzilar Lúcia Maria de Souza, a Sônia, quando ela se banhava em um rio. Na ocasião, ela foi surpreendida por ele, porém sem se intimidar, Lúcia disparou um tiro que atingiu seu rosto. Na audiência, Lício chegou a dizer que até hoje não consegue colocar uma prótese dentária por causa deste episódio. Na época chegou-se a anunciar sua morte na região do araguaia, e ele teve que voltar ao local, para mostrar que estava vivo.

Sempre irônico e sem prestar qualquer esclarecimento de relevância, Lício mostrou que é daqueles que se orgulha de ter fuzilado e torturado os combatentes no Araguaia, mesmo sem admitir que praticava diretamente a tortura. Ele chegou a culpar os índios pela prática da tortura contra os guerrilheiros. Entretanto, em certo momento, Lício caiu em contradição, pois disse que antes de falar algo queria saber o local onde um soldado seu foi enterrado, dando a entender que possui sim informações que até hoje os familiares dos combatentes aguardam.

O depoimento também foi acompanhado por outros familiares dos desaparecidos da guerrilha, entre eles Victória Grabois, filha de Mauríco Grabois e irmã de André Grabois

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