Por Mauro Santayana
É possível prever outros desencontros diplomáticos entre o Brasil e os Estados Unidos. A visita da senhora Clinton e as suas pressões para que concordemos com sanções contra o governo de Teerã é apenas um dos indícios. O governo norte-americano não consegue retirar lições de seus malogros bélicos e econômicos, e seu comportamento com relação a Israel é um dos grandes mistérios do convívio internacional. Washington age com relação ao Estado judaico como se a grande nação fosse mera colônia política de Tel Aviv. Entre as muitas explicações, há a do imenso e tradicional poder da elite econômica dos hebreus no mundo e, particularmente, nos Estados Unidos. A isso se acrescenta o fundamentalismo protestante, que hoje busca aliança com o judaísmo, tendo como ponto de encontro o Velho Testamento, com suas crônicas de guerra.
A senhora Bill Clinton a cada dia é mais parecida com sua antecessora, Condoleezza Rice. O presidente a recebeu com deferência, e ao tratar das questões que a trouxeram, junto ao chanceler Celso Amorim, seu interlocutor natural, ela recebeu o recado, cortês mas firme, de que não temos por que mudar nossa posição em relação ao Irã. Queremos a paz, e trabalharemos para obtê-la naquela região do mundo. Desde a descoberta dos grandes lençóis petrolíferos em Baku, no Cáspio, ela tem sido objeto da cobiça do Ocidente.
É difícil raciocinar fora dos interesses e preconceitos. Por que – é o que pergunta Lula – só o pequeno grupo de nações poderosas tem o direito de arbitrar os conflitos e decidir quem pode e quem não pode desenvolver tais processos industriais ou tais armas? Não há povos com mais direitos do que os outros. Desde que as armas, a partir do século 19, se tornaram mais letais, sempre se pensou no desarmamento como garantia da paz. Depois da guerra franco-prussiana de 1870, período que coincide com a utilização sempre maior do petróleo, as potências europeias passaram a discutir o assunto em público e a armar-se secretamente, criando novas e mais poderosas armas, como os gases venenosos e os canhões de longo alcance.
A guerra passou a ser planejada para a expansão do colonialismo e, sobretudo, o domínio estratégico do Oriente Médio. Em consequência, tivemos as duas grandes guerras mundiais no século passado e a construção da mais poderosa das armas, empregada no massacre de Hiroshima. Com ela, os norte-americanos pretendiam impor seu império ao mundo. Em seguida, os soviéticos, os ingleses, os franceses e os chineses também produziram suas bombas. Israel também fabricou o artefato, com ajuda americana. Esta é uma das razões que deixam o Estado hebraico tão seguro em desdenhar as inúmeras e repetidas resoluções das Nações Unidas, que tentam obrigá-lo a admitir o direito palestino a seu próprio Estado, como decidiu a comunidade internacional em 1948. Mais tarde, a Índia e o Paquistão também conseguiram entrar para o clube nuclear.
Israel está desafiando o governo Obama, e anunciou a decisão de construir 1.600 moradias para o uso de judeus no leste de Jerusalém, território palestino ocupado, em clara violação das determinações da ONU, pouco antes da chegada do vice-presidente Joe Biden. O visitante verberou, de forma firme, essa transgressão, mas o governo de Israel não se abalou. Não é provável que a próxima visita de Lula ao Oriente Médio traga grande avanço nos esforços para conciliar os interesses de Israel e os da Palestina. Ainda assim, ela é importante e necessária. O Brasil terá dado o primeiro passo em sua trajetória no esforço de obter diálogo fecundo e a paz na região. Nosso país tem a autoridade para isso, desde que, em nosso território, e há séculos, convivem, sem grandes conflitos, judeus e árabes; cristãos e muçulmanos.
Além do problema do Oriente Médio, temos os problemas comerciais que nos levaram ao remédio extremo de adotar, contra os subsídios oficiais dos Estados Unidos a seus produtores de algodão, as retaliações autorizadas pela OMC, depois de exaustivas e infrutíferas negociações com Washington.
Temos que manter a serenidade, mas agir com firmeza. Na vida das nações, como na vida dos homens, só são respeitados os que se fazem respeitar.
É possível prever outros desencontros diplomáticos entre o Brasil e os Estados Unidos. A visita da senhora Clinton e as suas pressões para que concordemos com sanções contra o governo de Teerã é apenas um dos indícios. O governo norte-americano não consegue retirar lições de seus malogros bélicos e econômicos, e seu comportamento com relação a Israel é um dos grandes mistérios do convívio internacional. Washington age com relação ao Estado judaico como se a grande nação fosse mera colônia política de Tel Aviv. Entre as muitas explicações, há a do imenso e tradicional poder da elite econômica dos hebreus no mundo e, particularmente, nos Estados Unidos. A isso se acrescenta o fundamentalismo protestante, que hoje busca aliança com o judaísmo, tendo como ponto de encontro o Velho Testamento, com suas crônicas de guerra.
A senhora Bill Clinton a cada dia é mais parecida com sua antecessora, Condoleezza Rice. O presidente a recebeu com deferência, e ao tratar das questões que a trouxeram, junto ao chanceler Celso Amorim, seu interlocutor natural, ela recebeu o recado, cortês mas firme, de que não temos por que mudar nossa posição em relação ao Irã. Queremos a paz, e trabalharemos para obtê-la naquela região do mundo. Desde a descoberta dos grandes lençóis petrolíferos em Baku, no Cáspio, ela tem sido objeto da cobiça do Ocidente.
É difícil raciocinar fora dos interesses e preconceitos. Por que – é o que pergunta Lula – só o pequeno grupo de nações poderosas tem o direito de arbitrar os conflitos e decidir quem pode e quem não pode desenvolver tais processos industriais ou tais armas? Não há povos com mais direitos do que os outros. Desde que as armas, a partir do século 19, se tornaram mais letais, sempre se pensou no desarmamento como garantia da paz. Depois da guerra franco-prussiana de 1870, período que coincide com a utilização sempre maior do petróleo, as potências europeias passaram a discutir o assunto em público e a armar-se secretamente, criando novas e mais poderosas armas, como os gases venenosos e os canhões de longo alcance.
A guerra passou a ser planejada para a expansão do colonialismo e, sobretudo, o domínio estratégico do Oriente Médio. Em consequência, tivemos as duas grandes guerras mundiais no século passado e a construção da mais poderosa das armas, empregada no massacre de Hiroshima. Com ela, os norte-americanos pretendiam impor seu império ao mundo. Em seguida, os soviéticos, os ingleses, os franceses e os chineses também produziram suas bombas. Israel também fabricou o artefato, com ajuda americana. Esta é uma das razões que deixam o Estado hebraico tão seguro em desdenhar as inúmeras e repetidas resoluções das Nações Unidas, que tentam obrigá-lo a admitir o direito palestino a seu próprio Estado, como decidiu a comunidade internacional em 1948. Mais tarde, a Índia e o Paquistão também conseguiram entrar para o clube nuclear.
Israel está desafiando o governo Obama, e anunciou a decisão de construir 1.600 moradias para o uso de judeus no leste de Jerusalém, território palestino ocupado, em clara violação das determinações da ONU, pouco antes da chegada do vice-presidente Joe Biden. O visitante verberou, de forma firme, essa transgressão, mas o governo de Israel não se abalou. Não é provável que a próxima visita de Lula ao Oriente Médio traga grande avanço nos esforços para conciliar os interesses de Israel e os da Palestina. Ainda assim, ela é importante e necessária. O Brasil terá dado o primeiro passo em sua trajetória no esforço de obter diálogo fecundo e a paz na região. Nosso país tem a autoridade para isso, desde que, em nosso território, e há séculos, convivem, sem grandes conflitos, judeus e árabes; cristãos e muçulmanos.
Além do problema do Oriente Médio, temos os problemas comerciais que nos levaram ao remédio extremo de adotar, contra os subsídios oficiais dos Estados Unidos a seus produtores de algodão, as retaliações autorizadas pela OMC, depois de exaustivas e infrutíferas negociações com Washington.
Temos que manter a serenidade, mas agir com firmeza. Na vida das nações, como na vida dos homens, só são respeitados os que se fazem respeitar.
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