Do blog do Alê
O Estado de S.Paulo publicou comentários de dois cientistas políticos de fato independentes ou que pelo menos se esforçam com competência para parecer independentes. Ninguém quer jornalismo chapa-branca, quer informação e opiniões divergentes. Deixem a militância para nós blogueiros engajados.
Sem tropeço e com simpatia de aeromoça
Carlos Melo
Já com audiência de horário nobre, as entrevistas são desafio não só para candidatos, mas também para o jornalismo: encontrar o ponto certo, não ser acusado de favorecimento.
De resto, a ansiedade de todo o início; assim, também casal-âncora parecia ansioso. Ainda assim, não deu fôlego à candidata, padrão que deve se repetir nas próximas entrevistas.
A expectativa sobre Dilma é grande. Há meses, apostava-se num tropeço; no descontrole. O fato político é que isto ainda não ocorreu.
Dilma Rousseff surgiu com sorriso e simpatia de aeromoça. Andou, no entanto, no fio da navalha: orgulha-se do presidente Lula, mas mantém identidade; não "maltrata", apenas buscou "fazer com que o Brasil se esforce". Sócia do presidente, é "mulher firme" e exigente. Quanto aos aliados, foram eles que convergiram ao governo, não o contrário. O PT errou e aprendeu.
A promessa é "dar continuidade, sem repetir". Avançar. A "candidata de Lula" foi, enfim, formalmente apresentada.
Desconforto do vídeo ao vivo sob controle
Marcus Figueiredo
A candidata à Presidência Dilma Rousseff foi bem na entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo. Ela estava calma e controlou o desconforto que o vídeo ao vivo oferece.
É fato que cometeu uma ou outra gafe durante a entrevista, como trocar a Baixada Fluminense pela Baixada Santista, mas isso não tem importância. Ela conseguiu impor aos entrevistadores a própria agenda, não ficou presa aos assuntos levantados nas perguntas. Procurou se mostrar simpática no vídeo, algo a que não estamos muito acostumados.
Não creio que ela tenha conquistado eleitores durante o programa, pois isso não ocorre de forma tão rápida. O que acontece é que vai se criando um caldo de cultura positivo.
Já se esperava que ela fosse muito mal no debate da TV Bandeirantes, e isso não aconteceu – o desempenho foi razoável. Ontem ela se saiu melhor. Está se aprimorando e treinando para o que ainda vem pela frente, que é o horário eleitoral gratuito.
A verdade é que os entrevistadores, principalmente o William Bonner, não estavam muito interessados em propostas de governo. Foram à entrevista-quase-debate mais para testar os limites da candidata. Tentaram de todo modo mirar em supostas contradições, insistiram em perguntas comportamentais e sobre alianças. E para a Dilma foi um presente, que ela soube aproveitar.
Sem vacilar e com muita personalidade, ela pôde mostrar para uma audiência na casa dos 35% que sabe se controlar sob pressão e que a "dureza" da ministra é um valor necessário para quem tem metas a cumprir, para quem tem o desafio de comandar uma nação. E mesmo sob ataque cerrado, ainda conseguiu "vender o peixe" dos milhões de empregos gerados no governo Lula, na mobilidade social alcançada por dezenas de milhões de brasileiros, no saneamento etc.
De fato Dilma não tem a experiência, o carisma e o jogo de cintura de um Lula, não tem a rapidez de pensamento de um Brizola, mas para uma caloura nesse tipo de exposição, passou no teste com louvor. O importante para ela nesse momento é deixar evidente para o eleitor quem é situação e quem é oposição e para isso contou com a ajuda do próprio Bonner que insistiu nas relações dela com o presidente Lula. Se apresentou, sim, como "braço direito e esquerdo" do presidente, como a segunda pessoa mais importante na hierarquia do governo, não fingiu independência, mas não se deixou cair nas armadilhas montadas pelos entrevistadores, que queriam vendê-la como uma figura de menor estatura, manipulada.
Contradições nas alianças só não tem Plínio, pois até no PV de Marina tem problemas. Ou Quércia, Roriz e Efraim Morais, entre outros, não configuram contradições? O importante, como ela salientou, é que "não é que nós aderimos ao pensamento de quem quer que seja. O governo Lula tinha uma diretriz: focar na questão social. [...] Para fazer isso, quem nos apoia, aceitando os nossos princípios e aceitando as nossas diretrizes de governo, a gente aceita do nosso lado. Não nos termos de quem quer que seja, mas nos termos de um governo que quer levar o Brasil para um outro patamar, para uma outra." O tema alianças é mesmo muito complexo, sofisticado para ser tratado num tempo tão pequeno, já que implica em inevitáveis concessões. O discurso moralista é sempre mais palatável. O PT no passado era criticado por não fazê-las, agora é atacado por fazê-las.
Um preço pelas alianças qualquer governo tem que pagar. Mas se você observar com cuidado, no núcleo duro do governo Lula, de onde sai o planejamento das políticas públicas, o PT é amplamente majoritário. Dilma na Casa Civil, Guido Mantega na Fazenda, Paulo Bernardo no Planejamento, Alexandre Padilha nas Relações Institucionais. Na saúde e na Educação dois nomes de confiança do presidente, José Gomes Temporão e Fernando Haddad. Na Justiça, até há poucas semanas, Tarso Genro. Cedendo na periferia do governo para aliados, não resta dúvidas de que a máquina do Estado estava e continua a estar nas mãos do PT.
Enfim, quem apostou em desmontar a candidatura "poste" para vencer eleições, deve estar tendo que rever planos.
Resta agora esperar para ver como será o comportamento dos apresentadores com os outros candidatos, Marina Silva e José Serra. O que se espera do jornalismo numa eleição é o mesmo tratamento para todos. E é justo reconhecer que em 2006 Geraldo Alckmin também passou "maus bocados" naquela bancada.
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