Pedro do Coutto
Na entrevista a William Bonner e Fátima Bernardes, Jornal Nacional de segunda-feira, Dilma Rousseff jogou no ar para aproximadamente 60 milhões de telespectadores dois lances que considera fundamentais para sua vitória nas urnas de outubro. Sinalizou para 22 por cento de eleitores, que têm dúvida em quem é o candidato de Lula, que a candidata é ela. E voltou-se para polarizar o debate entre o atual governo e o de Fernando Henrique Cardoso, buscando transformar o voto da sucessão 2010 num plebiscito entre FHC, que deixou o poder desgastado, e Luís Inácio da Silva que se aproxima do crepúsculo com uma popularidade impressionante.
Não foram outras as intenções. Lendo-se no dia seguinte a reportagem de Fábio Brizola e Paulo Marqueiro, publicada em O Globo, chega-se facilmente a esta conclusão, tão clara a transcrição da entrevista no texto dos dois repórteres. Oito vezes foram as citações de Lula feitas por Dilma. Algumas outras responsabilizaram Fernando Henrique Cardoso por dificuldades do passado herdadas pelo presente.
A candidata do PT não foi para o Jornal Nacional, audiência de 32 por cento, dez vezes mais que a do debate na Band, discutir temas ou programas de governo. Foi para se esquivar de cobranças e colocar no centro do enorme palco eletrônico os dois pontos que ela mais deseja enfatizar. O grande público, como é natural, pois ninguém é obrigado a ser analista político, não percebeu o verdadeiro projeto da ex-chefe da Casa Civil. Foi este a que me refiro. Tanto que, alcançado o objetivo no JN, na entrevista a André Trigueiro e Carlos Monforte, na Globo News, duas horas depois, terminou empenhando-se apenas em responder a questões em torno dos aeroportos do país e da ideia que possui quanto à composição política de sua administração, se eleita.
Os melhores raciocínios, penso eu, são os que se desdobram, não em um, mas em dois ou mais escalas. Na mesma edição de ontem de O Globo, Gerson Camaroti comentou um aspecto fundamental da pesquisa do Ibope divulgada na sexta-feira passada, pela TV Globo, e no sábado pelo O Globo e O Estado de São Paulo. Esse levantamento apontou, no geral, Dilma com 39 e Serra com 34 pontos. Mas o ângulo a que me refiro, e Camaroti enfocou com sua lente de percepção, está na descoberta de que 22 por cento dos eleitores e eleitoras, (embora seja surpreendente), ainda não sabem quem é o candidato ou candidata de Lula. Essa taxa já foi maior e vem descendo. Á proporção em que o conhecimento se amplia, Dilma Roussef avança. Como a expressiva parcela de 22 por cento desconhece a preferência do presidente da República, ela procurou passar ao máximo a informação de que a candidata é ela própria. Terá conseguido isso na noite de anteontem?
Vamos esperar as próximas pesquisas para ver se houve efeito. Paralelamente acentuou o caráter plebiscitário entre FHC e Lula, através da superposição das imagens em confronto. São dois estágios essenciais para ela. Difícil descobrir qual dos dois lances mais acrescentou para ela, se é que causaram. Difícil porque as próximas pesquisas certamente não vão descer a detalhes como esses. Vão se deslocar, como é normal, para a lei dos grandes números, lei que embute os resultados em seu conjunto, no atacado, portanto, não em frações de varejo.
Vale acentuar que Roussef deixou assinalada uma discordância em relação a Lula. Não podem ser levados a sério países que consideram crime a divergência de opinião- disse. A referência é claramente óbvia, principalmente quanto a Cuba e ao Irã. Inclui também, sem dúvida, a Venezuela de Hugo Chavez. Todos três países fornecem ao mundo demonstrações inequívocas de arbítrio antidemocrático.
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