quarta-feira, 11 de agosto de 2010

FIDEL - "Tudo depende de que persuadamos Obama."

● Expressou o comandante-em-chefe Fidel Castro acerca do perigo duma guerra nuclear com o ataque ao Irã, durante uma entrevista com jornalistas venezuelanos

Gustavo Becerra

"SE Obama não aperta o gatilho porque há uma opinião mundial e todas as potências exigindo que não haja guerra, então é quando estes senhores israelenses não se atreverão a disparar um foguete por sua conta", afirmou o comandante-em-chefe Fidel Castro em entrevista concedida aos jornalistas venezuelanos Vanessa Davis, Andrés Izarra, Walter Martínez e Mario Silva, televisionada em 9 de agosto pelo programa Mesa-Redonda da Televisão e da Rádio cubanas, pela TeleSul e Venezuelana de Televisão.

As ameaças de guerra contra o Irã, o perigo nuclear que isso significa; o papel das grandes potências, a situação entre Colombia e Venezuela, os atuais desafios do meio ambiente, o caso dos Cinco Heróis antiterroristas cubanos injustamente presos nos Estados Unidos, a batalha no campo das ideias, as lições da história e o mundo novo que se deve construir, estiveram entre os importantes temas analisados pelo líder da Revolução Cubana.

"Antes era mais pessimista. Continuei pensando e vi a possibilidade de que se salvasse a paz e se evitasse a guerra nuclear", respondeu Fidel ante uma pergunta de Vanessa Davis.

"Eu disse, quais os mecanismos para desatar esta guerra nuclear? Então foi quando compreendi que tem que passar pela decisão dum homem (Barack Obama), cujo poder é muito relativo por muitas razões", acrescentou.

Ao se referir ao presidente norte-americano, considerou-o "uma exceção: um homem negro que chega à presidência dos Estados Unidos, algo nunca visto, nem previsto. É cristão, mas de origem africana, de pai nascido num povo muçulmano. Trata-se dum homem que indiscutivelmente não é um assassino, não é um indivíduo que deseja o mal aos outros; é um político, estudou, tem uma cultura", acrescentou depois.

Depois de comentar que leu um livro de Obama intitulado Sonhos de meu pai, "porque queria saber como era esse homem; não havia então nenhum destes problemas, mas era um adversário e queria saber como era", disse que o estudou bem, "até onde a gente pode estudar uma pessoa, e não tinha nenhuma dessas características que pudessem convertê-lo num assassino, num tipo que experimentasse prazer, numa espécie de Nero".

O líder cubano descartou qualquer possibilidade de que o conflito dé uma guinada para a América Latina: "No Irã a guerra se torna nuclear, desaparecem todas as causas que originam as intervenções que conhecemos até agora".

ISRAEL É O ÚNICO QUE NÃO TENTARIA PERSUADIR OBAMA DE QUE IMPEÇA A GUERRA

Fidel alertou que Israel é o único que não tentaria persuadir Obama de que impeça a guerra, porque é soberbo demais, muito prepotente.

Perguntado sobre o que está fazendo a Rússia e a China para evitar o conflito nuclear, respondeu: "Se soubesse muito, não teria direito a dizê-lo. Sei o que penso e sei por sintomas concretos que estão preocupados, que estão pensando. São países que desejam a paz mais que ninguém, e estão atuando".

Depois de se referir à catástrofe que está sofrendo a Rússia, disse que Cuba poderia oferecer-lhe colaboração médica se o solicitassem. "Se pedirem 100 médicos, se pedirem 300, nós podemos enviá-los, porque, felizmente, nosso país conta com essas pessoas que se têm preparado ao longo de muitos anos".

Perguntado sobre se considera provável que a Colômbia ataque a Venezuela, o líder cubano respondeu que não existe nem a mais remota possibilidade. "Primeiro, porque não lhe interessa; segundo, porque não pode; terceiro, porque não quer; quarto, porque sabe que as consequências seriam desastrosas".

Mais adiante insistiu em que o imperialismo esgotará todos os esforços para derrubar a Revolução Bolivariana usando a outra artilharia: a publicidade e a mentira.

Vanessa Davis retomou uma exposição de Fidel, quando este assegurou que nem o império, nem a revolução vão conseguir o poder pela via das armas, e pediu para que ele explicasse quais são essas armas para fazer as revoluções.

"Divulgar a verdade", respondeu o comandante-em-chefe. "Eu acredito que vocês têm a arma nuclear nas mãos, a arma ideológica, e se ganham essa batalha terão derrocado o regime".

Walter Martínez lhe pediu comentar sobre o poder da comunicação num mundo interconectado via satélite e o tempo real.

"O poder da comunicação — apontou Fidel — esteve nas mãos do império, usou e abusou desse poder, e afinal, hoje tudo o que acontece no mundo é produto disso; fabricaram por todos os meios o poder que têm e pretendiam conservá-lo, mas não puderam, assim que agora têm que se resignar".

Andrés Izarra, presidente da Telesul, perguntou a Fidel suas opiniões sobre o processo eleitoral que acontece na Venezuela.

"Em acho que o que estão fazendo é absolutamente correto, as verdades, a explicação que dá Chávez do que é o socialismo e o que significou para milhões de pessoas em todos os sentidos", respondeu.

Perante uma explicação de Silva sobre a inviabilidade do capitalismo como sistema, Fidel sentenciou: "Pertence à pré-história. Com certeza, Marx tinha toda a razão".

Walter Martínez, apresentador do Programa Dossier, perguntou de novo a Fidel se achava que a guerra se desataria uma vez que tentem inspecionar os navios iranianos, e o líder cubano assegurou:

"Sim, e essa data não podem dilatá-la porque seria virar as costas em retirada. Esse é um ponto que chega, ou se cumpre, ou não. Se se cumpre, significa a guerra, se não é a derrota".

"Mas não seria nem a guerra nem a derrota se está ciente da decisão que vai tomar", apontou a seguir.

Tudo depende de Obama? — perguntou Silva.

"De nós que o persuadamos" — respondeu Fidel.

Sobre a experiência de Cuba na guerra fria, Vanessa quis saber quais lições tirou a Ilha daqueles desafios.

"Bom, da guerra fria nos tocou suportar o bloqueio e sofrer todas as consequências; mas também se pôde demonstrar que era possível resistir, e os latino-americanos devem pensar igual, que há um potencial enorme nas massas, que é possível alcançar a justiça, a libertação real, verdadeira".

Em nome dos twiteiros que acompanhavam as incidências da entrevista, Izarra perguntou se os falcões de Washington não tentarão matar Obama como no passado fizeram com John F. Kennedy, ao qual Fidel disse: "Sim, com certeza, o fato de que não tenham feito é coisa do azar, porque já fizeram isso".

E a seguir considerou: "Mas não creio que vão fazer agora. De qualquer maneira, é melhor que se cuide, que não confie, porque podem ocorrer coisas absurdas, irracionais".

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