quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MÍDIA - O segundo de WikiLeaks.

Kristinn Hrafnsson: O segundo de WikiLeaks vem para o centro da arena.


Julian Assange descreveu-se algumas vezes como uma espécie de lanterna de WikiLeaks: é quem representa a causa do grupo e, ao mesmo tempo, atrai sobre si a fúria dos críticos. Ontem, a lanterna sofreu uma pane: Julian Assange foi preso em Londres, sem direito a libertação sob fiança; e WikiLeaks ficou privado de sua persona básica.

Mas há um ‘segundo homem’ que representa WikiLeaks e que nos últimos meses começou a ser apresentado às câmeras: é islandês, é conhecido jornalista investigativo e acompanha Assange já há algum tempo. Chama-se Kristinn Hrafnsson e trabalha com WikiLeaks desde abril. À medida que os movimentos de Assange foram-se tornando cada vez mais limitados e ele precisou recolher-se por causa de ameaças legais e ilegais contra ele, Hrafnsson foi-se tornando cada vez mais visível.

Hrafnsson pode ser visto em http://www.youtube.com/watch?v=bDi1A59vElk, em entrevista à CNN, dizendo que WikiLeaks é uma organização jornalística e que, evidentemente, tem, mais que o direito, o dever, de publicar informação que ninguém tem o direito de sonegar aos cidadãos (vale a pena ver o jornalista empregado da CNN gaguejando e, depois, tentando ‘noticiar’ que há ‘notícias’ que ‘não se devem divulgar”). Hrafnsson responde: “Se um jornalista não pode divulgar o que digam e escrevam
os diplomatas norte-americanos... procuraremos informação relevante, permita-me perguntar, onde?! Se uma organização jornalística não pode publicar texto escrito e assinado por diplomatas dos EUA... não sei exatamente que sentido teria o jornalismo.”

Não conseguimos fazer contato com Hrafnsson para que ele confirmasse e não há qualquer indicação de que liderará a organização na ausência de Assange. Mas Hrafnsson continua a ser o único rosto da organização na ausência de Assange, e a estrutura formal de WikiLeaks pode estar sendo parcialmente transferida para a Islândia: em novembro, Hrafnsson disse à imprensa que WikiLeaks criara uma empresa (Cia. Ltda.) na Islândia, cujo endereço oficial seria o apartamento de uma pessoa da
equipe de WikiLeaks.

Como vários cidadãos islandeses, Hrafnsson, então jornalista empregado da RUV, rádio nacional da Islândia, tomou conhecimento da existência de WikiLeaks quando o grupo distribuiu documentos do hoje defunto Kaupthing Bank, em agosto do ano passado, dez meses antes da falência do banco. Os documentos comprovavam que o banco emprestara bilhões de dólares aos seus próprios executivos e a empresas das quais eram acionistas e proprietários.

Imediatamente depois, ainda sob o impacto do escândalo, Hrafnsson ajudou a organizar o movimento que ficou conhecido como Moderna Iniciativa para a Mídia da Islândia [ing. Icelandic Modern Media Initiative, (IMMI)].

O Movimento IMMI redigiu e fez aprovar a Lei Islandesa de proteção à liberdade de expressão e divulgação de documentos secretos tida como a claramente orientada, dentre todas as ‘leis de comunicações e mídia’ do mundo, para proteger o direito à plena informação, dos cidadãos e eleitores. O nome de Hrafnsson aparece como conselheiro no site do Projeto IMMI.

– Para conhecer o Projeto IMMI, ver http://immi.is/?l=en

– Sobre o projeto de lei IMMI, ver matéria de capa da revista Forbes sobre Assange, WikiLeaks e IMMI, em
http://blogs.forbes.com/andygreenberg/2010/11/29/wikileaks-julian-assange-wants-to-spill-your-corporate-secrets/.

– Sobre a aprovação do projeto de lei IMMI (foi aprovado dia 16/6/2010), há matéria interessante em
http://www.boingboing.net/2010/06/16/icelandic-modern-med.html).

Quando encontrei Hrafnsson em Reiquijavique em novembro, ele referiu-se à divulgação dos documentos do banco Kaupthing como “revelação tremendamente importante, talvez o mais importante depois da crise dos bancos” – e fator decisivo que despertou seu interesse tanto em relação a WikiLeaks quanto em relação à IMMI.

“O choque na sociedade islandesa foi incrível. A carência e a urgência de informação de boa qualidade fez aumentar a pressão sobre os jornalistas.

Muitos jornalistas desesperavam-se porque nada se conseguia, todos batendo cabeça contra a muralha de ferro da Lei do Sigilo Bancário e só obtendo fragmentos de informação que não se encaixavam uns nos outros” – disse ele. “Rapidamente a sociedade islandesa percebeu a importância de haver uma organização como WikiLeaks, um canal anônimo que conseguisse levar a informação ao público.”

Em abril, Hrafnsson viajou para Bagdá para filmar uma entrevista com filhos dos civis que foram mortos no ataque do helicóptero Apache que WikiLeaks divulgou ao mundo sob o título de “Collateral Murder.” Três meses depois, foi demitido de seu emprego na RUV; embora não haja provas, há suspeitas de que sua conexão com WikiLeaks foi fator de peso na demissão. Fonte da RUV, que pediu para não ser identificado, diz que a demissão foi consequência, exclusivamente, de desentendimento pessoal entre Hrafnsson e seu superior sobre a edição de um fragmento do noticiário.

Hrafnsson é personagem muito mais contido e taciturno que Assange, e não parece sentir-se à vontade sob os holofotes. Na entrevista que tivemos em novembro, disse que tem planos para “dar gradualmente cada vez mais ênfase sobre material vazado do que sobre a organização Wikileaks, e mais ênfase à organização que ao fundador.”

Sobre o impacto da prisão de Assange? “Não somos organização de um homem só. Continuaremos a fazer o que sempre fizemos.”

Fonte: Blog NovaE.

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