Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
Sejamos diretos: que sentido existe em erigir uma estátua para Castelo Branco, o primeiro general no poder durante a ditadura militar?
Castelo Branco, essencialmente, ajudou a derrubar, em 1964, um regime eleito pelos brasileiros. João Goulart assumira a presidência depois da renúncia de Jânio Quadros, e num golpe de estado foi substituído em 1964 por um general que jamais recebeu um voto na vida.
Uma estátua para ele?
Ponto para os ativistas que promoveram um “esculacho” na estátua de Castelo no Rio de Janeiro. Imite os bons e você será um deles, escreveu Sêneca. Pois nossos esculachadores se inspiraram no exemplo de ativistas que têm promovido um “escracho” em símbolos de ditaduras em países como Argentina e Chile.
Estátua merecidamente “esculachada”
Qualquer um pode erguer uma estátua. Mas só o povo tem o poder de consagrá-la, ignorá-la ou até destruí-la. Em Londres, uma estátua de Margareth Thatcher foi decapitada em 2003.
Cheers!
Sob apoio do conservadorismo brasileiro – representado por políticos como Carlos Lacerda e por toda a grande mídia — e dos Estados Unidos (pelas mãos da famigerada CIA), a administração militar brasileira comandou uma espetacular concentração de renda sob o pretexto de “modernizar” a economia. O economista-chefe da ditadura, Delfim Netto, alegava que o bolo tinha que crescer antes de ser dividido. O problema era que o momento da divisão jamais chegou para os desfavorecidos sob os militares.
Sequer reclamar eles podiam, pois as greves foram proibidas. Nos subterrâneos, foram perseguidas, torturadas e mortas pessoas que, como Dilma quando universitária, reagiram ao golpe. Os insurgentes eram, em geral, jovens cultivados intelectualmente e bem intencionados, dispostos a morrer – e a matar — pela causa. Gosto da definição de Luís Carlos Prestes, o lendário líder comunista brasileiro: os guerrilheiros eram “patriotas equivocados”. (Prestes e o Partido Comunista não apoiaram a luta armada.)
Sob os militares foi destruída uma das mais eficientes escadas para a ascensão social: a educação pública. As escolas públicas, até o regime militar, tinham alto nível. Foram se transformando em uma réplica tosca do que foram. Os colégios particulares acabaram por se tornar a única alternativa para pais interessados em ver seus filhos terem um ensino decente. Evidentemente, os garotos pobres ficaram de fora da mudança das escolas públicas para as privadas.
Uma estátua para Castelo Branco?
Não fosse o brasileiro tão cordial, ela teria sido decapitada há muito tempo, como aconteceu com a estátua de Thatcher. Ainda que tardio, o esculacho deve ser aplaudido.
Não é revanchismo. É justiça.
Sejamos diretos: que sentido existe em erigir uma estátua para Castelo Branco, o primeiro general no poder durante a ditadura militar?
Castelo Branco, essencialmente, ajudou a derrubar, em 1964, um regime eleito pelos brasileiros. João Goulart assumira a presidência depois da renúncia de Jânio Quadros, e num golpe de estado foi substituído em 1964 por um general que jamais recebeu um voto na vida.
Uma estátua para ele?
Ponto para os ativistas que promoveram um “esculacho” na estátua de Castelo no Rio de Janeiro. Imite os bons e você será um deles, escreveu Sêneca. Pois nossos esculachadores se inspiraram no exemplo de ativistas que têm promovido um “escracho” em símbolos de ditaduras em países como Argentina e Chile.
Estátua merecidamente “esculachada”
Qualquer um pode erguer uma estátua. Mas só o povo tem o poder de consagrá-la, ignorá-la ou até destruí-la. Em Londres, uma estátua de Margareth Thatcher foi decapitada em 2003.
Cheers!
Sob apoio do conservadorismo brasileiro – representado por políticos como Carlos Lacerda e por toda a grande mídia — e dos Estados Unidos (pelas mãos da famigerada CIA), a administração militar brasileira comandou uma espetacular concentração de renda sob o pretexto de “modernizar” a economia. O economista-chefe da ditadura, Delfim Netto, alegava que o bolo tinha que crescer antes de ser dividido. O problema era que o momento da divisão jamais chegou para os desfavorecidos sob os militares.
Sequer reclamar eles podiam, pois as greves foram proibidas. Nos subterrâneos, foram perseguidas, torturadas e mortas pessoas que, como Dilma quando universitária, reagiram ao golpe. Os insurgentes eram, em geral, jovens cultivados intelectualmente e bem intencionados, dispostos a morrer – e a matar — pela causa. Gosto da definição de Luís Carlos Prestes, o lendário líder comunista brasileiro: os guerrilheiros eram “patriotas equivocados”. (Prestes e o Partido Comunista não apoiaram a luta armada.)
Sob os militares foi destruída uma das mais eficientes escadas para a ascensão social: a educação pública. As escolas públicas, até o regime militar, tinham alto nível. Foram se transformando em uma réplica tosca do que foram. Os colégios particulares acabaram por se tornar a única alternativa para pais interessados em ver seus filhos terem um ensino decente. Evidentemente, os garotos pobres ficaram de fora da mudança das escolas públicas para as privadas.
Uma estátua para Castelo Branco?
Não fosse o brasileiro tão cordial, ela teria sido decapitada há muito tempo, como aconteceu com a estátua de Thatcher. Ainda que tardio, o esculacho deve ser aplaudido.
Não é revanchismo. É justiça.
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