Passei três dias em São Paulo e pude constatar que ninguém acredita nessa "mala".
Russomanno subiu cinco pontos e tem agora 31% de intenções de voto, com apenas 12% de rejeição. Saldo positivo: 19 pontos.
Serra caiu três pontos, desceu para 27% e sua rejeição chegou a 38%, um recorde na atual campanha. Saldo negativo: 11 pontos.
O resumo dos índices do novo Datafolha divulgados nesta terça-feira (21), mostrando uma radical inversão nas curvas dos dois candidatos na pesquisa, não deixa muita margem a dúvidas.
A 47 dias da eleição, na estreia da propaganda eleitoral gratuita (ao custo de R$ 600 milhões para os contribuintes) no rádio e na televisão, o candidato tucano vive seu pior momento na campanha, enquanto Celso Russomanno, do PRB, que não parou de crescer em todas as pesquisas ao longo do ano, alcança seus melhores índices.
Também na intenção de voto espontânea, Russomanno agora aparece na frente de Serra: 15 a 13%. Bem distante dos dois, surge o candidato do PT, Fernando Haddad, com 4% na espontânea e 8% na pesquisa estimulada.
Os números se invertem dramaticamente, porém, quando se olha para o tempo de TV destinado a cada candidato.
Serra e Haddad terão uma hora e 40 minutos semanais cada um em cada emissora, entre programas e inserções comerciais, enquanto a Russomanno cabe um total de apenas 30 minutos.
É por isso que PSDB e PT estão investindo tanto em seus programas de televisão — os tucanos, para reverter a queda de Serra e conter a rejeição crescente; os petistas, para tornar Haddad mais conhecido como candidato de Lula e Dilma.
Neste mercado eleitoral em que tudo é marketing, a disputa se dá até para ver quem tem a melhor câmera de cinema para mostrar seu candidato bem na fita.
O assunto é destacado nos jornalões paulistas. Assim ficamos sabendo que João Santana, o marqueteiro petista, usa uma Alexa fabricada pela alemã Arri, que pode ser encontrada no mercado por US$ 60 mil.
Já Luiz Gonzalez, dono das campanhas tucanas, vai de Epic, da americana Red Digital Cinema, comprada por módicos US$ 35 mil.
A Epic deve ser o maior trunfo do PSDB para modernizar a imagem do seu eterno candidato, que já perdeu três eleições anteriores para prefeito de São Paulo (ganhou uma), com os mesmos discursos anti-petistas e as mesmas propostas genéricas de fazer mais e melhor.
O grande problema de Serra é que o tucano pode mostrar tudo que já fez e prometer o que quiser, mas quem ainda acredita no que ele fala?
Depois de assinar um documento garantindo que ficaria no cargo até o final do mandato para o qual foi eleito em 2004, o tucano largou a prefeitura nas mãos de Gilberto Kassab apenas um ano e pouco depois da posse para disputar outra eleição.
Além da quebra da promessa, que a população não esqueceu, a julgar pelos seu altíssimo índice de rejeição nas pesquisas, há a questão da "fadiga de material", depois de tantas candidaturas e campanhas, tornando ainda maior o desafio para a câmera Epic, "com uma resolução quatro vezes maior do que a de full HD", o que pode não ser suficiente para mudar a cabeça dos eleitores em Sapopemba, por exemplo.
Não sei qual a câmera que a campanha de Celso Russomanno vai usar para mantê-lo no topo da pesquisa quando começar a blitzkrieg dos adversários na televisão.
O fato é que até aqui a grande surpresa desta campanha eleitoral vem conseguindo se apresentar como o candidato da mudança, em oposição tanto ao prefeito Gilberto Kassab, aliado de Serra, como a Fernando Haddad, agora com Paulo Maluf no seu palanque.
Serra vai ter que recuperar os votos que perdeu para ele mesmo, apesar do esforço dos seus marqueteiros para esconder o candidato na campanha. Haddad, da mesma forma, precisa correr atrás dos votos petistas que Russomanno tomou dele, em especial nas periferias das zonas leste e sul, redutos da ex-prefeita Marta Suplicy.
Metade da população ainda não consegue dizer em quem vai votar na pesquisa espontânea, quando não é apresentada a lista de candidatos. Na estimulada, outros 10% declararam que não vão votar em ninguém. Tem muito jogo pela frente.
A partir de hoje, o destino das eleições estará mais do que nunca nas mãos dos marqueteiros e suas fantásticas máquinas de última geração. Agora é esperar pelas próximas pesquisas para avaliar o efeito dos programas de TV.
A julgar por este último Datafolha, só me arrisco a dar um palpite: com este índice de rejeição, José Serra perde para qualquer adversário no segundo turno, se é que ele irá mesmo ao segundo turno.
A perda de confiança do eleitor no candidato pode ser fatal.
Blog do Ricardo Kotscho.
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