Há um certo alarido, no mundo da mídia, em torno da associação entre a Abril e o Huffington Post no Brasil.
Duas
sílabas resumem o que essa parceria quer dizer: uma é ‘na’ e a outra é
‘da’. Nada. Rigorosamente nada, ao menos para a Abril. O problema
dramático da Abril, no mundo digital, é a rejeição que a Veja provoca
por causa de seu conteúdo extraordinariamente reacionário. A Veja é o
Serra da mídia. Cada vez menos gente gosta e cada vez mais gente
detesta.
O
repúdio é ainda maior entre os internautas, o que aumenta o drama da
Veja, dado o ritmo com que aumenta o número de pessoas que consomem
notícias pela internet. O universo de rejeição à Veja tenderá a ser,
portanto, amplo, total e irrestrito.
Outro
dia a revista sofreu um esculacho exemplar na frente da sede da Abril,
mas parece não ter aprendido nada com isso. A Veja caminha rapidamente
para disputar com a Globo o título de mídia mais detestada dos
brasileiros.
Jornalistas
da Globo não podem se identificar em protestos, ou estão arriscados a
levar uns cascudos, como aconteceu com Caco Barcellos. Suspeito que
repórteres que se identifiquem como da Veja passarão pela mesma
situação. A única diferença é que, como não têm que segurar um microfone
com o logotipo da empresa, e nem são conhecidos fisicamente como se dá
com a turma da Globo, é mais fácil passarem incógnitos.
O
que o Huffington Post pode fazer em relação a tudo isso? Zero.
Suponhamos que a Veja passe a publicar em seu site matérias –
internacionais -- do HP. Qual o poder delas diante daquilo que a revista
vem dando cotidianamente em seu cobertura absurdamente enviesada do
Brasil?
Significativamente,
o anúncio da parceria coincidiu com a aquisição de Lobão como colunista
do site da Veja. Pouco antes, fora contratado Rodrigo Constantino. Os
dois reforçam tudo de ruim que a Veja tem em sua imagem.
É como se Serra tentasse renovar sua imagem se unindo a Sérgio Cabral e Silas Malafaia.
Constantino,
um destes dias, conseguiu louvar um estudante que se recusou a fazer um
trabalho sobre Marx. Publicou a carta que o aluno enviou ao professor
com as razões para um gesto de obtusidade inigualável. “Acho que agora
posso dizer que a Veja morreu”, escreveu alguém no Twitter ao comentar o
fato.
Keynes
era um erudito em Marx. Milton Friedman teve que percorrer todo Marx
respeitosamente para produzir seu pensamento antimarxista. Mas o
estudante aplaudido por Constantino acha que não deve se instruir sobre
Marx. Provavelmente esteja encharcado das besteiras de pseudofilósofos
como Olavo de Carvalho e Pondé.
Em
sua carta, o estudante ainda juntou um decálogo anticapitalista
atribuído falsamente a Lênin que é motivo de chacota para quem conhece o
mínimo de Lênin. Graças a Rodrigo Constantino, o papel ridículo do
aluno ignaro ganhou dimensão nacional.
Conteúdo, conteúdo e conteúdo: este é o real drama da Veja e, por extensão, da Abril, dada a importância da revista no grupo.
Não há nada, aí, que o Huffington Post possa fazer
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