Clap. clap, clap
Para
abreviar: acho que Ruffato foi muito bem na Feira de Frankfurt ao
descrever a iniquidade social brasileira. Mandei-lhe, mentalmente, um
clap, clap, clap, tão logo li suas palavras.
Vejo
sentido em que a direita se incomode com o quadro traçado por Rufatto.
Foi ela, afinal, que levou o país para as profundezas da desigualdade
social.
O
golpe militar de 1964, com apoio maciço das grandes empresas de mídia,
foi vital para que a sociedade brasileira se dividisse entre o 1% e os
99%.
Destruição
do ensino público de qualidade, arrocho salarial, proibição de greves,
extinção de um direito trabalhista vital como a estabilidade – a obra da
ditadura pode-se resumir numa frase: favorecer aqueles que já eram
donos de imensos, descabidos, acintosos privilégios.
O
Brasil se favelizou a partir de 1964 enquanto um pequeno grupo
enriqueceu brutalmente. Delfim Netto, o nome forte da economia na
ditadura, alegava que o bolo tinha que crescer antes de ser distribuído.
A
fala de Delfim – segundo alguns, ele nega que disse o que disse – foi
uma das maiores maldades cometidas contra os brasileiros desfavorecidos,
os “Zés do Povo”, como afirmava o fundador do jornal Globo, Irineu
Marinho, há coisa de um século.
Fique
claro, portanto: a responsabilidade pela construção de uma sociedade
injusta e insustentável é, inteiramente, da direita predadora nacional.
Nos
últimos anos, e isso foi adequadamente registrado por Ruffato, houve
avanços no combate à desigualdade. A chegada do PT ao poder – e este é
provavelmente o maior mérito do partido na condução do país – colocou
enfim a desigualdade no topo da agenda.
Considere
a mídia. Quando ela liderou uma cruzada contra a miséria chocante de
tantos brasileiros? Nunca. Era como se o problema não existisse. Ao
longo do último meio século, inúmeras campanhas foram feitas por jornais
e revistas – mas para aumentar ainda mais os privilégios do grupo que
representam.
Quantas
vezes você leu – e lê – que os direitos trabalhistas brasileiros são
absurdos? Compare-os com os que existem em países desenvolvidos
socialmente, e você tem vontade de chutar a parede. Nos países nórdicos,
para ficar num pequeno exemplo, as mães podem tirar mais de um ano de
licença maternidade, e os pais também têm extensas folgas para ajudar a
cuidar dos filhos.
Mas
no Brasil a mídia cultivou tenazmente a falácia de que não teríamos uma
economia competitiva com nossos modestos direitos trabalhistas. Era
mentira. Na verdade, o que se buscava era uma fatia cada vez maior do
bolo de que falava Delfim. A fortuna de uma pequena parcela da sociedade
foi se tornando simplesmente abjeta.
Repito: obra da direita, que fracassou miseravelmente na tarefa de construir uma sociedade justa.
Desfazer
os estragos da direita é o maior desafio dos governantes brasileiros
hoje, amanhã, depois de amanhã etc – pertençam eles a que partido
pertencerem.
Se
trouxe a questão da iniquidade para o centro dos debates, o PT, nestes
dez anos, promoveu avanços sociais numa velocidade aquém da esperada e
da desejada. Muitos privilégios foram mantidos, ou timidamente atacados –
em nome da governabilidade.
Com
isso, os brasileiros continuam ainda hoje a ver coisas que gostariam de
não ver – comunidades como a de Pinheirinho desalojadas selvagemente,
índios tratados a pontapés, Amarildos subitamente desaparecidos para
jamais retornar.
As
jornadas de junho deixaram clara a insatisfação da sociedade com tudo
isso. A direita tentou depois roubar a razão dos protestos, e dizer que o
alvo era a “corrupção” – um velho pretexto para justificar ataque a
governos populares.
Mas
a indignação era contra a persistência de altos níveis de desigualdade,
a despeito dos avanços – aquém dos necessários, repito -- promovidos
por Lula, primeiro, e Dilma, agora. “Queremos mais”, gritou a sociedade.
Foi este mesmo o grito – esplêndido -- de Ruffato em Frankfurt.
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