segunda-feira, 4 de maio de 2009

GRIPE SUÍNA -LA GLORIA, epicentro da gripe do agronegócio.

Epicentro da gripe suína, La Gloria é um pequeno povoado do México onde 3 mil moradores vivem com medo. Não apenas do vírus A (H1N1), mas de autoridades ligadas às Granjas Carroll, uma empresa americana-mexicana que se aproveitou do tratado de livre comércio do Nafta para se instalar no interior do México depois de ser proibida, em 1997, de atuar nos Estados Unidos por danos ao meio ambiente e à saúde.

Na área de Perote, no estado de Veracruz, as Granjas Carroll engordam cerca de 1 milhão de porcos para exportação por ano. A céu aberto ficam as chamadas “lagunas de oxidação”, que exalam gás metano e, denunciam os moradores, são responsáveis por doenças que flagelam crianças, adultos e idosos da região.

A transnacional, o secretário de Saúde de Perote, Manuel Lila de Arce, e outras autoridades locais negam as acusações – expostas pelo colunista Mauro Santayana na edição de sexta-feira do Jornal do Brasil. Mas um repórter do jornal mexicano El Milenio esteve na região na semana passada e constatou: os moradores de La Gloria respiram, o dia inteiro, um fétido odor proveniente dos criadouros dos porcos – são 200 chiqueiros na área – e enxames de moscas infestam as casas das famílias.

Os criadouros de Xoltepec e Quechulá ficam de 8 a 11 km do vilarejo de La Gloria. Suas lagunas de oxidação têm cor avermelhada, devido à quantidade de dejetos fecais suínos lançados na água. A decomposição gera gás metano, que sobe para a atmosfera e deixa o ar de toda a região contaminado. Ao lado das lagunas de oxidação encontram-se os chamados biogestores, onde são jogados os porcos mortos por doenças ou ferimentos. A única proteção da fossa é uma tampa de metal. A putrefação é uma fonte de contaminação e proliferação das moscas que, empurradas pelo vento, chegam até La Gloria e invadem as casas. Seriam elas os vetores iniciais do A(H1N1): teriam entrado em contato com os porcos e/ou dejetos e possivelmente infectado os alimentos nas casas.

Vários moradores denunciam ainda que, sem isolamento sanitário, substâncias químicas resultantes das fezes e das carcaças dos porcos acabam se infiltrando no lençol freático de onde a população retira água potável.

María Dolores Herrera é uma das pessoas que tem sua casa invadida por moscas “do tamanho de abelhas” e vê sua família sofrer com enfermidades gastrointestinais e respiratórias. Sua filha caçula, de 5 anos, desenvolveu uma pré-disposição para diarreias, tosse, infecção na garganta, vômitos e febre.

Fausto Limón Palestina e Patricia Ramírez são donos do rancho El Riego, que fica a 250 metros do criadouros das Granjas Carrol em Xoltepec, e reclamaram de dores de cabeça contínuas, ao que parece causadas pela inalação constante do metano proveniente das lagunas de oxidação. Também contaram ao Milenio que, além das moscas, outro animal lhes causa agonia: matilhas de cachorros selvagens, que geralmente se alimentam nos biogestores, por vezes também invadem o rancho. Já mataram três dos seis avestruzes que o casal criava.

Fausto e Patricia denunciaram as irregularidades várias vezes ao governo local, mas ninguém fez nada. A única ocasião em que autoridades agiram foi por pressão de um abaixo-assinado, que exigia testes nos lençóis freáticos. A agência sanitária Conagua chegou a coletar amostras, mas nunca divulgou os resultados.

Nas últimas semanas, depois de a gripe suína (ou gripe A) matar duas crianças em La Gloria, agentes de saúde de Veracruz fizeram o isolamento sanitário da cidade, com fumigação com o produto químico Aquarrel e aplicação de uma tonelada de cal no solo. Denúncias de que a gripe e a contaminação ambiental provocada pelas Granjas Carroll estão relacionadas foram, até agora, minimizadas pelo governo. Para as autoridades, o calor e a complicação de uma gripe simples são os responsáveis pela mutação do vírus A(H1N1). Sustentam não haver provas de que tudo começou em La Gloria, apesar de a vila enfrentar uma onda de gripe desde meados de março. O “paciente zero” seria o menino Edgar Hernandez, de 5 anos, recuperado.

Amostras

No entanto, diante da pressão da opinião pública mexicana – não só dos habitantes de La Gloria – os serviços de saúde de Veracruz coletaram na quinta-feira amostras bacteriológicas de 370 porcos das Granjas Carroll para investigar a origem do vírus. Um laboratório na Cidade do México vai processar as informações e as que derem resultado positivo serão encaminhadas para a Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, para uma análise mais detalhada.

Mas mesmo antes do resultado, a bancada do Partido da Revolução Democrática na Câmara de Deputados vai apresentar uma proposta para que as Granjas Carroll deixem o México. Moradores de La Gloria estão convocados a depor.

Fonte: Jornal do Brasil, título do Vermelho

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