Leonardo Sakamoto.
Historinha cabeluda que a jornalista Verena Glass publicou aqui na Repórter Brasil. O professor e pesquisador do Laboratório de Embriologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires e do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas, Andrés Carrasco, divulgou um trabalho mostrando que o agrotóxico glifosato – largamente utilizado nas lavouras transgênicas de soja – possui efeitos tóxicos sobre a saúde.
O estudo, o primeiro a pesquisar os efeitos do glifosato puro no desenvolvimento embrionário de vertebrados - no caso, embriões de anfíbios -, afirma que “concentrações ínfimas de glifosato, comparadas com aquelas usadas na agricultura, são capazes de produzir efeitos negativos na morfologia do embrião, sugerindo a possibilidade de que estejam interferindo nos mecanismos normais do desenvolvimento embrionário”.
O jornalista Dario Aranda, do periódico argentino Página 12, divulgou um comunicado que chamou de “Cronologia de uma perseguição a partir do poder midiático, político e cientifico”, onde descreve o que ocorreu desde a divulgação do trabalho de Carrasco e da publicação de sua matéria no Página 12. Seu relato expõe o patente receio das grandes multinacionais da biotecnologia de que seus produtos sejam questionados, bem como a virulência de suas reações, respaldadas pelo grande imprensa.
Cronologia de uma perseguição a partir do poder midiático, político e cientifico
- Segunda , 13 de abril: Página 12 publica uma matéria sobre a toxicidade do glifosato em embriões de anfíbios. A fonte é o Laboratório de Embriologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, e o autor, o pesquisador Andrés Carrasco.
- Quarta, 15 de abril: a Associação dos Advogados Ambientalistas da Argentina entra com uma ação na Suprema Corte solicitando a proibição do uso e da venda do produto até que se determine sua real toxicidade.
- Quinta, 16 de abril: Página 12 divulga uma matéria sobre a ação. No mesmo dia, as câmaras empresariais do setor - Cámara Argentina de Sanidad Agropecuaria y Fertilizantes (Casafe) e Cámara de la Industria de Fertilizantes y Agroquimicos (Ciafa) – divulgam um primeiro comunicado em defesa do glifosato.
- Sexta, 17 de abril: a multinacional Syngenta distribui um duro comunicado questionando a veracidade do estudo de Carrasco e as matérias do Página 12.
- Segunda, 20 de abril: o Ministério da Defesa proíbe o plantio de soja em suas terras. Em termos de tamanho de área, o impacto para o setor produtivo é mínimo, mas é o gesto político mais forte dos últimos anos: um Ministério nacional questiona os agrotóxicos.
- Terça, 21 de abril: Os jornais de maior circulação nacional da Argentina, Clarin e La Nación, questionam o estudo da UBA-Conicet. Ambas as matérias usam fontes das câmaras empresariais. La Nación é o mais sincero: “O ‘agro’ teme que se proíba o glifosato”. Está claro que quando fala no “agro”, não se refere aos produtores, mas às grandes empresas que patrocinam suas páginas.
- Quarta, 22 de abril: dois advogados e um escrivão vão ao laboratório de Carrasco na UBA, mas ele não se encontra. Intimidam os trabalhadores e exigem uma cópia do estudo sobre o glifosato. Quando não a obtêm, os advogados deduzem, frente ao escrivão, que o estudo não existe. No mesmo dia, Carrasco recebe telefonemas anônimos com ameaças.
- Sexta, 24 de abril: La Nación volta a questionar a existência do estudo. Afirma que, segundo as câmaras empresariais, não há registro do trabalho no Conicet e no laboratório da UBA. Andrés Carrasco, como autor e responsável pela pesquisa, reafirma que não cederá o estudo às empresas do setor (sejam as câmaras setoriais ou a imprensa a seu serviço), afirmando que esperará que joguem todas as suas cartas para retrucar.
Uma cópia do estudo está em poder do jornalista Dario Aranda, como também foi encaminhada ao Ministério da Defesa, ao Senado, a deputados e ao Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentária (Senasa). Carrasco continua se negando a entregar o trabalho aos jornais Clarin e La Nación, pois sabe que o repassarão às corporações do agronegócio, que em curto prazo teriam cientistas e pesquisadores cúmplices que lhes produziriam estudos por encomenda. No momento, Carrasco avança em pesquisas ainda mais críticas ao glifosato.
Fonte:Blog do Sakamoto.
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