terça-feira, 12 de maio de 2009

MÍDIA - Liberdade para sonegar notícias.

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

A famigerada Lei de Imprensa foi revogada, mas as redes de TV não divulgaram a manifestação contra Gilmar Mendes.

A notícia deveria ser a matéria prima do jornalismo televisivo. Mas não é isto o que está ocorrendo apesar da revogação da Lei de Imprensa.

Esta semana, por exemplo, as redes de TV se recusaram a cobrir a manifestação pública noturna feita contra o Gilmar Mendes na Praça dos Três poderes por milhares de pessoas. Mesmo não tendo sido vista pelos telejornalistas a referida manifestação iluminou Brasília ( http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/05/446389.shtml)

Os brasileiros foram acostumados a obter informação através da telinha luminosa e a dar crédito aos jornalistas de TV. No âmbito nacional, pode-se dizer que a TV ainda é o único grande meio de comunicação. Com efeito, o telejornalismo alcança muito mais gente do que os jornais e revistas impressos ou que a internet.

Pela TV nós já vimos manifestações contra Presidentes, Governadores e Parlamentares. Mas nunca uma contra um membro do Supremo Tribunal Federal. O fato que a imprensa televisiva se recusou a cobrir é excepcional, portanto, notícia por excelência.

Esta clara sonegação de informação é relevante. A CF/88 prescreve que os cidadãos brasileiro tem direito à informação. De fato "... quando pressionados, os jornalistas dão como certo que trabalham para o interesse público." (Elementos do Jornalismo, Bill Kovach e Tom Rosentiel - http://www.revistacriacao.net/elementos_jornal.htm). Sendo assim, por que as redes de TV não cobriram a excepcional manifestação contra Gilmar Mendes? Que interesses foram preservados pela omissão? Os interesses privados de Gilmar Mendes ou o interesse público dos cidadãos que custeiam as despesas públicas com o Poder Judiciário que ele preside?

Bourdieu afirma que os jornalistas de TV "...grosso modo, interessam-se pelo excepcional, pelo que é excepcional para eles. O que pode ser banal para outros poderá ser extraordinário para eles ou ao contrário." (Sobre a Televisão, Pierre Bourdieu - http://www.revistacriacao.net/sobre_tv.htm). As palavras do francês se ajustam perfeitamente ao incidente.

Ainda segundo Bourdieu essa "...busca interessada, encarniçada, do extra-ordinário pode ter, tanto quanto as instruções diretamente políticas ou as autocensuras inspiradas pelo temor da exclusão, efeitos políticos. Dispondo dessa força excepcional que é a da imagem televisiva, os jornalistas podem produzir efeitos sem equivalentes." (idem). A omissão da notícia referente à manifestação contra o Presidente do STF produziu um claro efeito político. A esmagadora maioria dos cidadãos brasileiros, que poderiam e deveriam saber o que ocorreu em Brasília para poder se posicionar a favor ou contra Gilmar Mendes, foi excluída da arena pública com a ajuda das redes de TV.

Num mundo em que o ceticismo em relação ao jornalismo se tornou uma realidade tão presente quando as novas tecnologias que permitem a qualquer cidadão divulgar suas próprias notícias "... os princípios e a finalidade do jornalismo são definidos por alguma coisa mais elementar - a função exercida pelas notícias na vida das pessoas."(Elementos do Jornalismo, Bill Kovach e Tom Rosentiel). Neste caso específico, é evidente a função que a sonegação da notícia ocupou na vida dos cidadãos brasileiros. O que não chega a ser uma novidade. O povo brasileiro foi ignorado quando da Proclamação da República, em 1930, em 1937, em 1964 e no princípio da Nova República (apesar das Diretas Já, a dupla Tancredo Neves/ Sarney foi eleita no Congresso Nacional).

Leão Serva diz que "...as notícias não deixam ver a história. Ao contrário, o sistema das notícias encobre a lógica profunda que está por trás da cortina de novidade." (Jornalismo e Desinformaçã - http://www.revistacriacao.net/jornalismo_desinformacao.htm). Suas palavras são proféticas. Nós não sabemos e provavelmente nunca saberemos quais foram os fatos que levaram à sonegação televisiva da manifestação contra Gilmar Mendes. As notícias corporativas da construção da omissão televisiva jamais serão reveladas.

José Arbex assegura que "... a 'opinião' divulgada pela mídia interfere no curso dos acontecimentos, dando a ilusão de que o público foi levado em consideração. Na realidade, os indivíduos permanecem isolados, espalhados pelas mais distintas cidades, regiões, estados e países, sendo virtualmente 'unificados' pela mídia, mas sem terem exercido qualquer interlocução. É a 'ágora eletrônica' que simula a antiga polis, onde tudo se debatia. As megacorporações simulam a ágora que legitimará suas próprias estratégias de dominação e controle." (Showrnalismo- http://www.revistacriacao.net/show.htm). Em razão da curiosa discrepância entre o espaço que a revogação da Lei de Imprensa ganhou nos meios de comunicação exatamente na semana em que as redes de TV mantiveram os cidadãos desinformados em relação à manifestação contra Gilmar Mendes é impossível deixar de dar razão a Arbex.

Em razão deste episódio sugiro às autoridades que coloquem nas salas Vips dos aeroportos internacionais uma placa com os seguintes dizeres:

"Bem vindos à democracia que garante aos cidadãos os direitos á informação, a liberdade de consciência, de participação e manifestação. Democracia em que as redes de TV se encarregam de impedir que as pessoas fiquem informadas para se que possam conduzir os destinos da nação."
Fonte:CMI Brasil.

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