quinta-feira, 14 de maio de 2009

MÍDIA - O uso do cachimbo faz a boca torta.

Será que já não basta o JN omitir e distorcer informações? Será que O Globo está querendo concorrer com a FSP? E ainda tem gente que não acredita no PIG (Partido da Imprensa Golpista), denominação essa criada pelo PHA no seu blog Conversa Afiada.
Carlos Dória


O USO DO CACHIMBO FAZ A BOCA TORTA.

Mair Pena Neto.

Aconteceu em O Globo, mas poderia ter sido em qualquer um dos grandes diários do país. Em sua edição do dia 12 de maio, o jornal carioca abriu em sua primeira página uma foto de Lula, de cara séria, dedo em riste, diante de um manifestante com a mão em seu ombro, sob o título “Lula enfrenta protesto”. A legenda da foto dizia que Lula discutia com manifestantes no primeiro protesto que enfrentava desde que passou a despachar no CCBB, em Brasília.

A mensagem era clara. O presidente, que flutua em índices elevadíssimos de popularidade, enfrentava o povo, ali representado por integrantes de um movimento por moradia de baixa renda. A conjugação imagem-texto dava a entender que o presidente discutia com manifestantes insatisfeitos com alguma política de seu governo.

Os que viram o jornal pendurado nas bancas ou não tiveram tempo de ler a íntegra da matéria não puderam constatar que a chamada da primeira página contradizia o que era descrito no interior do jornal. Os manifestantes que se encontravam em frente ao CCBB esperavam a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com o propósito de negociar diretamente com o governo federal o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, intermediado pelos governos estaduais, no caso o governo do Distrito Federal, de quem desconfiavam.

Ao ver a manifestação, Lula mandou parar o carro e desceu para conversar com os manifestantes, para desespero dos seguranças, como relata a matéria. Ao serem surpreendidos pela atitude do presidente, os manifestantes, ainda segundo o texto da reportagem, passaram a gritar “Lula, eu te amo”.

A partir daí, conta a matéria, Lula estabeleceu um diálogo com os manifestantes, ouviu suas queixas e temores e prometeu conversar com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, além de determinar a seu chefe de gabinete que recebesse uma comissão de representantes do movimento.

Tudo tão diferente do que estava na primeira página, que o jornal publicou uma nova chamada de capa no dia seguinte, não no mesmo tamanho e com o mesmo destaque, reconhecendo que o texto original deu a entender que Lula enfrentou manifestantes, quando, na verdade, “ganhou” (as aspas são do jornal) o grupo, como registrou “corretamente” a reportagem na página 4.

O que teria levado a tamanho contraste entre texto e sua chamada de capa? Uma leitura equivocada da matéria poderia ser uma das razões, mas parece pouco provável quando se sabe que os redatores de primeira página costumam ser jornalistas mais experientes, com boa capacidade de leitura e bom texto.

Arriscaria recorrer ao velho ditado de que o uso do cachimbo faz a boca torta. De tão preocupados em combater o governo Lula, os jornais acabam forçando a mão em certas situações, e, talvez, levando jornalistas a erros que normalmente não cometeriam. Outra hipótese seria a de um realismo maior do que o do rei, muitas vezes mencionado por Mino Carta, quando diz que jornalistas acabam assumindo a ideologia dos patrões.

O que quer que tenha sido pede atenção redobrada dos jornalistas para o bom exercício de suas funções. Em meio à crise do Congresso, li recentemente que os senadores iriam se empenhar por uma CPI da Petrobras para ver se tiravam o foco dos escândalos da Casa. Pensei comigo: será que os jornalistas vão entrar nessa? Dias depois, uma manobra contábil da Petrobras era estampada na primeira página, reforçando a idéia da CPI.

O curioso, mais uma vez, é que a matéria sobre o tema mostrava analistas de mercado, os mais ouvidos pelas editorias de economia dos jornais, considerando normal a opção de a empresa recorrer a um regime tributário que lhe permite pagar menos impostos. Pode ser que a Petrobras tenha falcatruas que mereceriam uma CPI ou até mais. Cabe aos jornalistas descobri-las e, mais que tudo, saber a que interesses estão servindo.
Fonte:Direto da Redação.

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