Mário Augusto Jakobskind
Se vingar o Dia da Hipocrisia, proposto por Lula, muitos concorrentes na área midiática serão contemplados. Nas Organizações Globo, por exemplo, jornais e canais de televisão certamente não ficarão de fora.
No caso da Rede Globo, o motivo mais recente para concorrer se deve a cobertura de um incidente em uma fazenda no interior do Pará em que os noticiários destacaram uma mentira deslavada: a de que o MST utilizou jornalistas como escudos humanos. A farsa foi confirmada pelo corajoso repórter Victor Haor, da TV Liberal, afiliada da TV Globo, ao depor para o delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará. Haor negou também a versão segundo a qual os jornalistas teriam ficado em cárcere privado. A soberba emissora silenciou sobre a denúncia.
A Globo praticamente deu pouco destaque ao fato de que o banqueiro Daniel Dantas, indiciado pela Polícia Federal por falcatruas, é um dos proprietários da fazenda onde ocorreu o confronto. A governadora do Estado, Ana Julia Carepa revelou que os jornalistas foram à fazenda em um avião cedido pelo banqueiro. Silêncio total da mídia hegemônica. Por que será?
A Globo e o Estado de S. Paulo, vale sempre lembrar, têm interesses no agronegócio, pois estão associados ao esquema. Não é muita hipocrisia criminalizar os movimentos sociais que denunciam a ação do agronegócio, como fazem os referidos órgãos de imprensa? O MST é o principal alvo porque entende e propaga que o maior inimigo da reforma agrária hoje é exatamente o agronegócio.
Querem mais exemplos de hipocrisia? A recente campanha contra a “farra” das passagens aéreas de alguns parlamentares. Os percentuais em jogo dos gastos com as eventuais irregularidades são ínfimos se comparados com outros desvios, como, por exemplo, as constantes benesses concedidas no Legislativo ou no Executivo a empresas que ajudaram as campanhas de muitos parlamentares e até mesmos ocupantes de cargos executivos. Os bilhões pelo pagamento de juros da dívida interna não valem uma linha da mídia hegemônica, tão sequiosa em denunciar os gastos com as passagens aéreas.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a instância máxima da Justiça brasileira, é proprietário do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), criado em 1998 e, segundo a revista Carta Capital, faturou, entre 2000 e 2008, cerca de 2,4 milhões de reais em contratos com órgãos ligados ao governo federal, todos firmados sem licitação. Depois que Gilmar Mendes assumiu o cargo de presidente do STF, o faturamento em contratos com a União cresceu, somando desde 2003 para cá 1,6 milhão, segundo informa o site Contas Abertas.
Em que outro país do mundo um Ministro que preside a instância máxima de Justiça continuaria no cargo diante da comprovação dessa denúncia? E Gilmar Mendes ainda por cima opina sobre tudo, aparecendo na mídia hegemônica a todo instante. Mendes deveria ser um sério concorrente ao troféu hipocrisia ou mesmo a personalidade do ano do tipo “não é flor que se cheire”.
No Rio de Janeiro, dois concorrentes poderiam perfeitamente dividir os louros do Dia da Hipocrisia e o troféu “não é flor que se cheire”. O Prefeito Eduardo Paes com seu choque de ordem, na verdade uma ordem de choque contra os setores populares, e a entrega de toda a estrutura da Prefeitura para a iniciativa privada gerir na área da cultura, meio ambiente, saúde, educação etc, como estabelece o esquema recém aprovado pela Câmara dos Vereadores, intitulado Organizações Sociais (OS). Curioso, enquanto o neoliberalismo faz água no mundo, o Prefeito consegue dobrar os vereadores (pode-se imaginar de que forma), que inicialmente eram contrários ao projeto, exatamente para por em prática o que está ruindo lá fora.
Já o Governador Sérgio Cabral, que quando presidiu a Assembléia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (ALERJ), na época filiado ao PSDB, foi um dos grandes propulsores de privatizações de empresas do serviço público, como a do transporte marítimo Rio-Niterói, está na lista. Agora, como a empresa que abocanhou as barcas em um leilão está em dificuldades, o governo do Estado, presidido exatamente por Cabral, sai em socorro com injeção de 8 milhões de reais para a Barcas S.A.
O mesmo Sergio Cabral que fez o possível e o impossível para que a Alerj não aprovasse as contas do então Governador Leonel Brizola, que acabaram aprovadas, demonstra ser uma figura mesquinha e vingativa ao ordenar a demolição do Memorial do único político brasileiro que governou dois Estados diferentes (Rio Grande do Sul e Rio). O projeto do Memorial destinado a preservar a memória de Brizola é do arquiteto carioca e cidadão do mundo Oscar Niemeyer. A demolição se deu porque no local será construída uma estação de metrô, cujo serviço tem como sócio o grupo Oportunity, do banqueiro (bandido, segundo o delegado Protógenes Queiroz) Daniel Dantas.
Para dourar a pílula da vingança, o chefe da Casa Civil, Régis Fichtner, diz que o memorial poderá ir para outro lugar, que o Estado ainda não definiu. O Estado já gastou 1.9 milhão de reais de um total de 3,6 milhões previstos. Não será nenhuma surpresa se o fato cair no esquecimento, algo muito comum num país desmemoriado e com políticos como Cabral e Paes.
No Dia da Hipocrisia ou no troféu personalidade que “não é flor que se cheire” Fernando Henrique Cardoso tem lugar garantido pelo tudo que fez para o pais e pelas piruadas hipócritas que tem dado na mídia hegemônica.
Outros concorrentes poderiam ser citados, mas o espaço é pequeno. Aceita-se sugestões.
Fonte:Direto da Redação.
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