domingo, 17 de maio de 2009

O PRÉ-SAL É NOSSO!

No momento em que a oposição instala uma CPI da Petrobrás, vale a pena reler a Carta Testamento de Getúlio Vargas. As mesmas forças lá mencionadas, estão agora querendo enfraquecer a Petrobrás, com o objetivo não explícito do objeto dessa CPI, que é manter sem alteração, a lei 9478/97, uma das heranças malditas da era FHC.
Carlos Dória


Miguel do Rosário.

(Atualização: O Eduardo Guimarães, responsável pelo blog Cidadania e presidente do Movimento dos Sem Mídia, pede para avisar que está organizando outra manifestação, desta vez em defesa do pré-sal e da Petrobrás. Acompanhem tudo diretamente no blog dele.)

Em sua carta testamento, Getúlio Vargas cita nominalmente a criação da Petrobrás como uma de suas batalhas mais duras contra a imprensa brasileira. Sim, contra a imprensa, porque foi aí que as forças entreguistas, aliadas ao capital estrangeiro, reuniram-se para saquear as riquezas nacionais:

Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.

O suicídio de Vargas foi sua última e gloriosa ação em prol do povo brasileiro. Acossado diariamente pelos jornais, através de editoriais cada vez mais violentos, o presidente percebe que, apenas tirando a própria vida, conseguiria dar sentido e força às denúncias que pretendia fazer. O suicídio de Vargas cumpriu a missão de poderosa mídia difusora das informações contidas em sua carta final.

É preciso lembrar a vocês de que lado estavam os jornais na encarniçada disputa política em torno da criação ou não da Petrobrás? Lembro, mesmo assim. A imprensa - e o Globo destacava-se particularmente por seu americanismo subserviente, antipatriótico, corrupto e reacionário -, em quase sua totalidade, alinhava-se furiosamente contra a criação de uma empresa estatal para explorar petróleo no Brasil. Mesmo a Última Hora, tradicionalmente aliado à Vargas, talvez intimidado pelo clima de linchação da época, não tinha coragem para defender o presidente e suas plataformas; ao contrário, também lhe criticava; a diferença estava em que também dava espaço para o governo se defender.

Debatendo com um blogueiro sobre a influência dos jornais sobre a política nacional, ele veio com uma informação truncada (disse que um amigo historiador lhe dissera) de que os jornais, particularmente o Globo, não eram tão decisivos assim na formulação de políticas públicas. Não é verdade. Eu tenho o privilégio de morar perto da Biblioteca Nacional, da qual sou assíduo frequentador há mais de dez anos, e já realizei diversas pesquisas sobre os jornais dos anos 50 e 60. Pesquisei especialmente o ano de 1954. Os senadores citavam matérias publicadas no Globo na tribuna. Visitavam as redações do Globo. Jânio Quadros, assim que foi escolhido para ser o candidato da UDN para a presidência da república, concedeu entrevista exclusiva ao jornal O Globo, que passou a apoiar explicitamente a sua candidatura. João Gourlart, por sua vez, foi furiosamente combatido desde o tempo em que era deputado.

E Vargas, bem, Vargas foi satanizado pelo jornal O Globo; não durante todo o tempo, mas, sempre que a ocasião lhe parecia propícia, a publicação dos Marinho partia para cima do governo com todas as armas. Nelson Werneck Sodré, em sua História da Imprensa Brasileira, relata que a nossa mídia escrita sempre esteve patrocinada por anunciantes estrangeiros interessados a todo custo em evitar que o país nacionalizasse seus serviços públicos. A Light, empresa britânica responsável pela geração e distribuição de energia elétrica no país desde os tempos do império, patrocinou campanha, por décadas, contra a criação de empresa pública que levasse energia para os rincões afastados do país. Vargas também cita a luta para a criação da Eletrobrás em sua carta testamento:

A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Estudando a história do Rio de Janeiro, deparei-me com situações que parecem até ridículas. A primeira linha de bondes instalada no Rio de Janeiro foi entregue, sem licitação, a uma empresa britânica. O engraçado é que o bonde era puxado... a burro! Não creio que essa seja uma tecnologia tão complexa que não pudesse ser um serviço encampado pelo Estado.

Esta CPI da Petrobrás, no entanto, pode ser oportunidade para desmascarar de vez os entreguistas. É lamentável que esta luta seja tão cara. A Petrobrás é hoje uma das empresas mais respeitadas do planeta, figurando, no ranking do Reputation Institute, acima de empresas símbolos da modernidade, como Google e Microsoft, e ultratradicionais, como General Eletric, Honda e Philips. Esse prestígio, fruto da competência mostrada nos últimos anos, depois dos fiascos (afundamento de plataformas, etc) das gestões tucanas, será atingido com esta CPI. Eu queria saber de onde, meu Deus, os tucanos tiraram fama de "bons gestores"? Eles cagam tudo, estragam tudo, arrasaram o país na era FHC, estão arrasando São Paulo, e a mídia ainda lhes pespega a marca de "bons gestores"?

Ora, a Petrobrás, enquanto empresa pública e de capital aberto, tem a sua vida financeira inteiramente devassada, pelo Tribunal de Contas, pelo Ministério Público, por auditoras internacionais independentes, pela mídia, por seus acionistas. Uma CPI apenas servirá para prejudicar a sua imagem, criando obstáculos para o que é hoje o principal desafio da empresa: obter recursos internacionais para explorar as enormes jazidas encontradas em águas ultraprofundas. Esse desafio tornou-se particularmente complicado em função da crise econômica internacional, que atingiu os sistemas mundiais de crédito.

É muito importante que todos leiam com atenção esta entrevista do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira, para o Correio da Cidadania, e reproduzida no Vermelho. Siqueira faz denúncias extremamente graves. Afirma que o governo Fernando Henrique Cardoso vendeu 36% das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York por menos de 10% do seu valor real. À luz da valorização extraordinária das ações da Petrobrás nos últimos anos, essa operação representou perda de bilhões de dólares para os cofres públicos. Ah, sempre que penso nesses bilhões perdidos na era FHC, recordo da ira santa de Cora Ronai contra a tapioca de 8 reais, comprada por Orlando Silva, ministro dos Esportes, numa lanchonete de Brasília, com cartão corporativo. País sui generis este, em que colunistas se insurgem furiosamente contra tapiocas de 8 reais, e reagem com indiferença (e cumplicidade, portanto) em relação à entrega gratuita de patrimônio nacional a interesses estrangeiros, um processo que, naturalmente, significa corrupção em grande estilo.

Uma coisa que sempre me impressionou foi o esnobismo e a indiferença com que a imprensa tratou a descoberta de petróleo no pré-sal. Não foram editados cadernos especiais. Quando o governo anunciou, oficialmente, a descoberta de petróleo no pré-sal, o gancho da imprensa não foi a descoberta em si, e sim a forma como o governo divulgou a notícia, "a sorte" de Lula, etc. Não foi lembrado aos brasileiros que um dos maiores entraves históricos do país ao processo de industrialização sempre foi a falta de petróleo.

Muitas vezes as pessoas se perguntam: porque os EUA se tornaram tão poderosos e ricos e nós, tão pobres? Ora, existem diversas razões históricas e culturais. Mas, no século XX, a abundância de petróleo nos EUA e a falta do combustível por aqui, foram fatores determinantes.

Mauro Santayana lembra (em entrevista para TV Gonzum) que, até meados dos anos 60, antes que a produção da Petrobrás começasse a fazer diferença, a economia brasileira vivia sob a eterna ameaça de desabastecimento. De quinze em quinze dias, os EUA enviavam navios às costas brasileiras com gasolina suficiente para períodos curtos. Eles nem permitiam que nós fizéssemos estoques, porque era interessante nos deixar naquela situação precária de dependência. Naturalmente isso se refletia em dependência política.

Outra história contada por Santayana. Durante os debates parlamentares e midiáticos sobre a necessidade ou não do Estado investir recursos públicos em prospecção de petróleo, o governo, acossado, aceitou contratar um engenheiro americano, chamado Mr.Link, para vir ao Brasil verificar se, afinal, tínhamos ou não petróleo. Ele veio, passeou por todo o Brasil, sempre acompanhado pela imprensa, e por final, declarou, peremptoriamente, que o país não tinha petróleo, nem nunca teria. A informação logo foi usada para bombardear a iniciativa de explorar petróleo. O engenheiro não especificou, porém, que o Brasil, apesar das poucas possibilidades de termos petróleo em terra firme, havia grandes chances de existência do mesmo em seu litoral.

Nos últimos cem anos, qual tem sido o item que mais tem sangrado a nossa balança comercial? O petróleo. Isso perdura até hoje. Aí vai uma crítica ao governo, por ter vendido uma autonomia que ainda não temos. Teremos em breve, mas ainda não temos. Em 2008, a balança comercial brasileira do capítulo Combustíveis Minerais, Óleos Minerais, etc (do qual o petróleo é o principal produto) ficou negativa em 15,6 bilhões de dólares. O Brasil exportou 18,68 bilhões de dólares e importou 34,28 bilhões de dólares. Ou seja, o petróleo ainda é, de longe, o principal gasto externo nacional. Reduzindo as importações de petróleo, poderemos gastar mais importando maquinários e tecnologia, ou simplesmente obter um superávit comercial muito mais alto. Para vocês terem uma idéia, o superávit comercial brasileira em 2008 (exportação menos importação) ficou em 24,83 bilhões de dólares...

Por que a entrevista com Fernando Siqueira não ganha a grande mídia? Os assuntos são explosivos e referem-se à pauta do dia, à Petrobrás, e as denúncias são feitas por uma autoridade no assunto. Por que ela não é repercutida? Por que tapiocas de 8 reais ganham repercussão em todos os jornais e canais de televisão, e uma denúncia sobre a entrega de patrimônio público à banca internacional, a preços subfaturados, e que, em virtude da valorização das ações da Petrobrás nos últimos anos, produziu prejuízo de bilhões no bolso do brasileiro, não ganha destaque em nenhum meio de comunicação? Por que não entrevista aquele onipresente "professor de ética", Roberto Romano, para explicar isso? Por que o senil João Ubaldo Ribeiro, sempre tão preocupado com o interesse nacional, não se interessa por denúncias desse quilate?

O que vemos é, de fato, a formação, de um lado, de uma consciência política corrompida, cínica, egoísta, pusilânime e tímida sempre que se trata de denúncias trilionárias, subitamente furiosa quando se trata de tapiocas e passagens aéreas, e de outro uma classe de brasileiros cada vez mais politizada, informada e engajada nas lutas nacionais.

Não, não, definitivamente não temos aqui um fla-flu entre petistas e tucanos. Aliás, acho uma afronta à lógica comparar uma saudável disputa esportista a um embate ideológico sujo e agressivo, apesar de necessário e democrático.

Na verdade, temos um embate entre os que amam o Brasil, que torcem por sua economia, por seu desenvolvimento, por sua autonomia energética, que festejam a descoberta de petróleo, que festejam o sucesso de seu presidente no exterior, e entre aqueles que torcem que a crise nos atinja, que se aborrecem contra os dados positivos de nossa economia, que se engajam infantilmente em campanhas de desestabilização política, que não se alegram, carajo!, com o fato de termos descoberto enormes jazidas de petróleo!

Eu não consigo entender como um brasileiro pode reagir com indiferença ao fato de termos descoberto enormes jazidas de petróleo! Lembro de um advogado da Petrobrás (da Petrobrás, héin! imagine os que não são!) que encontrei numa festa, dias depois do anúncio da descoberta de petróleo no pré-sal. Eu fui cumprimentá-lo, todo alegre:

- Parabéns! Parabéns à Petrobrás, pela grande descoberta!

Eu tinha bebido algumas latinhas, mas ainda estava sóbrio. Minha alegria era a mais pura possível. Ele me respondeu com um esnobismo melancólico e desconfiado:

- É, mas não sei não. Os próprios engenheiros da Petrobrás tão dizendo que não é tudo isso. O governo tá querendo faturar, etc.

Era exatamente o que a imprensa afirmava, ele era simplesmente um papagaio da direita, infiltrado na Petrobrás. Eu conheci depois melhor o rapaz, é um bom rapaz, inteligente, estudioso, mas um tipo que repete clichês da imprensa.

O governo tinha anunciado que as novas descobertas podiam chegar de 5 a 8 bilhões de barris. Algumas semanas depois, começaram a circular informações, bastante concretas, de que as jazidas do pré-sal poderiam chegar a 80 bilhões de barris!

E nas semanas seguintes, novas descobertas, na Bacia de Santos, no Espírito Santo, etc.

Ou seja, o governo tinha sido bastante conservador. As reservas eram, de fato, muito maiores. Na verdade, as descobertas causaram enorme rebuliço em todo planeta, porque mostrou a possibilidade de existência de petróleo em águas ultraprofundas em outras partes do globo também, sobretudo na costa oeste da África e, eventualmente, na costa de Cuba.

Apesar disso, a imprensa nunca produziu um caderno especial sobre o pré-sal! Nem com a possibilidade de obter facilmente patrocínio para uma empreitada assim.

Eu quero ver agora se a Petrobrás vai continuar fazendo propaganda na TV Globo!
Fonte:blog Óleo do Diabo.

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