segunda-feira, 11 de maio de 2009

PORQUE NÓS SOMOS ORGÂNICOS.

Tenho que admitir, durante muito tempo, tive uma implicância com os produtos orgânicos. A começar pelo nome. Você já comeu uma hortaliça inorgânica?! Pois é, eu também não. Tudo que comemos é, na essência, orgânico.

Quando conheci os orgânicos, achei que essa coisa de cultivar produtos alimentícios sem uso de fertilizantes e outros recursos químicos fosse mais uma coisa de marca do que propriamente de filosofia, de estilo de vida. Isso deve ter me ajudado a criar uma resistência aos orgânicos. Nunca fui muito de modismos nem de dar valor a marcas. Prova disso é que já comprei calça no supermercado e nunca passei vergonha com ela.

Eu via o alimento orgânico apenas como uma forma de diferenciar o produto para elevar seu preço. Até conhecer um sítio orgânico nesta semana. Subi a serra de Petrópolis (RJ) para conhecer o Sítio do Moinho . Continuo achando o rótulo "orgânico" nada adequado Continuo acreditando que a questão da marca pesa muito, mas mudei bastante de opinião.

Dou a mão à palmatória. Meu preconceito me fez ignorante no assunto. Sempre fiquei meio inseguro em relação à quantidade de agrotóxico que ingerimos ao comermos frutas, legumes e verduras, ainda que bem lavados. Pensava que, sem eles, era impossível proteger a plantação de pragas.

Aprendi, por exemplo, que uma fila de bananeiras entre os cultivos forma uma barreira natural que dificulta a passagem do vento e de insetos. Que o mato crescendo em volta das hortaliças pode servir de abrigo para animais que são predadores de muitas pragas. Que a nutrição das plantas, obtida com a correta preparação do solo, é essencial para um produto de qualidade. Planta bem nutrida é igual ser humano bem alimentado: adoece menos.

Há até armadilhas simples, como placas que atraem os insetos para capturá-los. O dispositivo tem um produto para atrair o inseto e cola para impedir que ele continue voando e ameace a plantação. Sem agrotóxicos e fertilizantes, o sítio não polui nem solo nem água.

O cenário é completamente diferente do que vi no ano passado em algumas hortas em Teresópolis, também na Região Serrana do Rio. Ainda não está provado cientificamente que os defensivos agrícolas provocam câncer. Mas a doença é mais comum do que a média em trabalhadores que manuseiam esse tipo de veneno, principalmente se não usam proteção. Conheci um homem de 38 anos que parecia ter quase 50. Estava cego, praticamente surdo e tinha dificuldade para se locomover e falar devido a um câncer no cérebro. Era difícil encontrar alguém que não tivesse contato próximo com a doença (um parente ou amigo). Foi deprimente.

Não virei um maníaco, como muita gente por aí, mas estou propenso a mudar hábitos de consumo por causa da visita. E torço para que encontrem um nome melhor do que "orgânico". Enquanto isso não acontece, vou parafraseando aquela célebre campanha publicitária dos mamíferos da Parmalat. "Porque nós (também) somos orgânicos!".
Fonte:Blog SRZD

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