quinta-feira, 11 de junho de 2009

ANOS DE CHUMBO - TV BRASIL estréia minisérie sobre brasileiros que tiveram a vida modificada pelo golpe militar.

"Travessia", a nova minissérie da TV Brasil, estreia na próxima segunda-feira (15), às 20h30. Dividida em cinco capítulos, relata a travessia de alguns cidadãos brasileiros que tiveram suas vidas atingidas pelo golpe militar (1964-1985). O cineasta e diretor do programa, João Batista de Andrade, diz que "o golpe de 64 foi terrível porque praticamente abortou uma ou duas gerações que revolucionaram culturalmente o país".

Os filmes se estruturam nas vivências pessoais, em forma de depoimentos, desnudando a história daquele período. Cada depoimento revela a realidade cotidiana de cada um, antes e depois de 64. Segundo João, "a ideia do filme é ver o que aconteceu com essas pessoas que lutaram por uma país melhor, por avanços, por mais democracia, por mais justiça. Cada história particular, cada travessia".

A minissérie será exibida de segunda a sexta-feira. O primeiro capítulo, "O Conflito", mostra dois fatos que marcaram profundamente o período antecedente ao golpe. O primeiro, conhecido como Comício das Reformas, ocorrido no Rio de Janeiro, em 13 de março de 64, é considerado o conflito básico que acabou levando ao golpe.

No comício, o então Presidente João Goulart ensaia políticas e reformas sociais profundas e nacionalistas. O depoimento do ex-deputado amazonense Almino Afonso que, na época, era um jovem político que chegou a ser líder do partido trabalhista brasileiro e ministro do trabalho, diz que era "um homem pró-socialista democrata" mas, que, nos jornais da época, figurava como "líder do PT comunista" e era essa a maneira como era visto inclusive pelo Estado.

"Me jogam pra fora do país durante 12 anos. Depois de 12 anos, eu volto pra recomeçar a luta política. Pra mim, foi um golpe muito profundo". Almino foi afastado do cargo em maio de 1963, após reconhecer a legitimidade de uma greve organizada pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT).

Ele foi um dos redatores do discurso em que Jango denunciava o golpe militar, que iria ao ar em 1º de abril de 1964 na Rádio Nacional. Por isso, Almino perdeu o mandato e teve seus direitos políticos cassados por 10 anos, por força do Ato Institucional nº 1.

O segundo fato aconteceu em 19 de março de 64, o grande movimento cívico Marcha da Família com Deus, pela Liberdade - uma inesperada resposta anti-Jango entremeada pelos setores mais conservadores da Igreja Católica, que levou 500 mil pessoas, vindas de todo o país, às ruas de São Paulo rezando e demonstrando sua indignação.

João Batista aponta a marcha como sendo "uma oposição forte e crescente a essa política de reforma", e completa: "apimentada pelo anti-comunismo da igreja católica estava em franca oposição ao governo de João Goulart".

A manifestação tinha como objetivo a deposição do então presidente João Goulart, e é apontada como o estopim do golpe militar. Porém, contribuiu, de certa maneira, para que houvesse o golpe. Maria Paula Caetano, uma das organizadoras da Marcha da Família com Deus pela Liberdade diz que "a deposição de Jango foi uma consequência, não nos trouxe arrependimento algum, foi um processo".

Considerando os desdobramentos do golpe, exílios, torturas, e a questão dos direitos humanos, Maria Paula diz que há "uma palava, um sentimento que mais se escreve do que se articula: consternação. Era o sentimento que me tomava".
Fonte:FNDC

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