domingo, 14 de junho de 2009

COPA DAS CONFEDERAÇÕES - A batalha da comunicação.

Bob Fernandes

A Fifa quer “vender” seu negócio. Dunga quer a Copa. Júlio César e Kaká, ir à Copa

A Fifa tem seus interesses comercias, esportivos, políticos. Dunga tem seus objetivos como comandante da seleção. Os jogadores têm seus interesses e objetivos. A mídia tem seus amplíssimos interesses; difusos, e muitas vezes inconciliáveis entre seus representantes.

Assim, por isso tudo, na véspera da estréia do Brasil na Copa das Confederações a entrevista coletiva foi palco para uma dura e surda Batalha pelo Controle Da Comunicação. Da Imagem.

De um lado nós, uns 100. Jornalistas brasileiros, italianos, espanhóis, ingleses, africanos. (Todos isentos, imparciais e objetivos, como bem sabe quem consome informação ou opinião sobre futebol no Brasil e mundo afora.)

Do outro, a Fifa, a seleção e os jogadores. O homem da Fifa pediu logo na abertura:
-Por favor, perguntem apenas sobre a Copa das Confederações, a Copa do Mundo…

Rodrigo Paiva, o gestor da Comunicação na seleção e integrante do Comitê para a Copa 2014, emendou:
-Pessoal, amanhã tem Brasil e Egito, vamos ver se nos mantemos no assunto Copa das Confederações e seleção…

Bola rolando, o script imaginado começa a ser rasgado. Os italianos querem uma mensagem de Kaká para a Itália, os espanhóis querem um alô de Kaká para o Real Madrid, os ingleses querem saber o que ele acha de Cristiano Ronaldo…

Dunga se irrita na terceira pergunta do gênero. Primeiro, de leve. Em seguida, não se contém e bate a mão fechada na mesa. O homem da Fifa entra em campo e repete o recado, Rodrigo Paiva repete o recado.

Kaká sente o clima e chuta pra longe uma pergunta sobre o Real Madrid:
-…disso já falei tudo, tô concentrado na seleção e na Copa…

Mas não consegue resistir ao assédio de mais um italiano:
-Você não teria nada a dizer ao público italiano, milanista, sobre a sua saída? O Berlusconi disse que….

-Eu queria dizer aos milanistas que o Milan me deu a dimensão que tenho hoje e…-responde Kaká. Em italiano. Murmúrios de protesto no fundo da sala:
-Fala em português…

Dunga, arisco, cisca na cadeira. É possível antever: mais uma pergunta fora do tal enredo e ele dividirá a mesa.

Por que tanto problema com perguntas livres? Como é possível crer que uma centena de jornalistas adultos se submeterá a uma pauta encaixotada, pré-definida?

A resposta está na lógica dos interesses de cada instituição, grupo, personagem. Vamos a eles, por partes.

Primeiro, a lógica do negócio. Do gigantesco negócio Fifa.

Atrás da mesa onde corre a entrevista está o painel da Federação Internacional de Futebol. E ali, exposta sobre um fundo azul, a explicação para a dona do futebol no mundo buscar o controle quanto ao tema, se possível até sobre as perguntas: a imagem. Os patrocinadores. O negócio.

Os patrocinadores titulares são 6. Seus logotipos exibidos logo atrás de Júlio Cesar, Dunga e Kaká. Os patrocinadores locais, ligados apenas ao negócio Copa das Confederações, África do Sul, são outros 8.

Um pergunta e resposta de Kaká sobre o Real Madrid, imaginam os condutores do negócio, interessa aos madrilistas, se muito aos espanhóis. Uma saudação de Kaká ao Milan, em italiano, atenderia aos milanistas, se tanto aos italianos.

Essa é a lógica. A Fifa quer vender seu peixe para o planeta todo. Quer os astros e mídia mundo afora a falar da sua Copa. Das suas Copas. Do seu bilionário negócio. E é por isso que o homem Fifa, na enésima admoestação, concede:
-Se quiserem, podem perguntar sobre a Copa do Mundo do ano que vem…

E o Dunga?

O Dunga quer ganhar a Copa. As Copas. “Isso aqui é um treinamento”, ele diz. Treinamento para quê?

Treinamento para o foco, para a concentração que exige uma Copa do Mundo.

Dunga e Kaká conversaram, revela o treinador. Que perguntou ao jogador se ele estava aqui mesmo, na seleção, se o negócio com o Real estava pronto, fechado, se não havia nada a perturbá-lo. Kaká disse que sim, estava inteiro aqui, e pegou o mote:
-Isso é um treinamento para estarmos focados na Copa, só na Copa, no ano que vem.

Na entrevista a uma centena de jornalistas, um experimento. Um antídoto contra a dispersão absoluta do Brasil 2006, Copa da Alemanha. Essa é a lógica que move Dunga.

Qual é a lógica dos jogadores?

Seguir a lógica do Dunga, A do foco, da concentração absoluta. E assim garantir uma vaga na Copa.

E nosotros, da bancada isenta, imparcial e objetiva?

A informação, claro, mas cada qual é cada qual. Cada um no seu quadrado.

Da TV Globo (e certamente de outras emissoras de tevê e rádio), observações, protestos contra as respostas de Dunga, Júlio César e Kaká em italiano e inglês. Entreouvido na sala, a lógica da coisa:
-Amigo, o que é que eu vou fazer com uma entrevista do Kaká em italiano? Vou botar legenda?

Todos têm suas lógicas, interesses. Entreouvido na sala. De um italiano:
-Amice…o que eu vou fazer com uma entrevista do Kaká em português? Vou usar legenda?

Eu, de minha parte e atento à uma certa lógica, pretendo pouco. Gostaria de dar uma passada na concentração agora, 9 da noite, interromper o jantar e perguntar ao Dunga:
-Os titulares Daniel Alves, Elano, e o Julio Baptista que entra sempre, treinaram faltas por meia hora depois do treino. O André Santos também treinou bater faltas, junto com eles. Ele vai entrar jogando? Vai entrar depois?
Fonte:Terra Magazine

Nenhum comentário: