segunda-feira, 15 de junho de 2009

FIDEL: Não é tarefa fácil a de Obama.

Recordo que quando visitei a República Popular da Polônia, nos anos de Gierek, me levaram a Osviecim, o mais famoso dos campos de concentração. Pude apreciar os horríveis crimes cometidos pelos nazis contra crianças, mulheres e anciãos judeus. Eram as idéias do livro Mein Kampf de Adolfo Hitler aplicadas ali. Antes as haviam posto em prática invadindo o território da URSS em busca de espaço vital. Os governos de Londres e Paris naqueles anos atiçavam o chefe nazi contra o Estado soviético.

O exército soviético liberou Osviecim e quase todos os campos de concentração nazi, denunciou os fatos, fez fotos e filmes que percorreram o mundo.

Obama falou no campo de concentração de Buchenwald, dentro do território alemão, em cuja liberação participou um tio avo seu, que ainda vive e o acompanhou no ato.

Sua atividade mais importante na Europa foi a participação no 65º aniversario do desembarque na Normandia, onde pronuncio um segundo discurso. Desfez-se em elogios a Dwight Eisenhower, o qual comandou o desembarque. Ressaltou com justiça o valente papel dos soldados norte-americanos que combateram em uns poucos quilômetros de costa, apoiados pela marinha inglesa e norte-americana e milhares de aviões saídos fundamentalmente das fábricas dos Estados Unidos. As divisões de pára-quedistas não foram lançadas nas posições mais corretas e por isso a batalha se prolongou desnecessariamente.

O grosso do exército de Hitler e suas divisões mais seletas haviam sido liquidados pelos soldados soviéticos na frente russa depois que se recuperam dos danos do golpe inicial. A resistência de Leningrado ao prolongado cerco, os combates das divisões siberianas a poucos quilômetros de Moscou, as batalhas de Stalingrado e o saliente de Kursk (1) passarão a historia das guerras entre os maiores e decisivos acontecimentos.

Obama, que falou no ato pelo 65º aniversario do desembarque da Normandia graças ao qual, segundo se deduz de seu discurso, foi liberada Europa, dedicou só 15 palavras ao papel da URSS, apenas 1,2 para cada 2 milhões de cidadãos soviéticos que morreram naquela guerra. Não foi justo.

Ao finalizar a sangrenta contenda, o Irã, que por seus recursos naturais e sua localização geográfica havia tido um papel importante nessa guerra, foi convertido pelos Estados Unidos em seu mais forte e melhor armado xerife na dita região estratégica da Ásia.

O povo iraniano, dirigido pelo Ayatolá Ruhollah Khomeini, com as massas desarmadas dispostas a qualquer sacrifício, derrotou ao poderoso Xá do Irã. O feito ocorreu durante os dois últimos anos da administração de Jimmy Carter, que sofreu as primeiras conseqüências da desacertada política exterior dos Estados Unidos, que encurtou seu mandato e proporcionou o acesso de Ronald Reagan ao poder.

O Xá morre no Cairo em 27 de julho de 1980, na cidade onde precisamente pronunciou Obama seu discurso no último dia 4.

A absurda guerra Iraque-Irã, que se iniciou em 1980, durou 8 anos e não foi provocada por Khomeini. Reagan tirou dela todo o proveito possível. Primeiro vendeu armas ao Irã. Com elas e o dinheiro do tráfico de drogas financiou a guerra suja contra a Nicarágua, burlando as disposições do Congresso, que lhe negou os fundos para aquela cruel aventura que tantas vidas de jovens sandinistas custou. Reagan apoió a guerra do Iraque contra Irã.

O Governo dos Estados Unidos autorizou o fornecimento de matérias primas, a tecnologia e os gases para a guerra química contra o Irã, que liquidou a dezenas de milhares de soldados desse país; a população civil foi severamente afetada, empresas norte-americanas cooperaram com a produção das armas químicas. Os satélites, por outro lado, lhe forneceram a informação necessária para as operações por terra; 600 mil iranianos e 400 mil iraquianos morreram nessa guerra, centenas de bilhões de dólares foram gastos pelos dois grandes produtores de petróleo antes que ambas as partes aceitaram o projeto de paz elaborado pelas Nações Unidas.

Não é tarefa fácil para um Presidente dos Estados Unidos pronunciar um discurso na Universidade muçulmana Al- Azhar do Cairo. Nem é de esperar que desperte muito entusiasmo entre os iranianos e os árabes.


_______________________________
(1) Referencia à Batalha de Kursk – 05-07-1943 – a maior batalha de tanques da História com o envolvimento de mais de 4.500 blindados e que terminou na vitória do Exército Soviético em 12 de julho. ( N.P.)
.
Original em Cuba Debate/O Velho Comunista

Nenhum comentário: